Arquidiocese de Braga -

25 março 2021

Bispos em França repensam o futuro dos Seminários

Fotografia Michel Grolet

DACS

Novo programa nacional de formação sacerdotal foca-se na maturidade dos candidatos, a adaptação dos seminários às realidades actuais e a inclusão de mais mulheres nas equipas de formação.

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Os bispos católicos de França devem votar esta semana uma nova versão do "manual" do Vaticano (Ratio Fundamentalis) para a formação dos futuros sacerdotes. 

O texto, que levou três anos a ser elaborado, foi apresentado aos bispos a 24 de Março durante a assembleia plenária da Conferência Episcopal (CEF) e deverá ser votado amanhã. A formação sacerdotal é apenas um dos cinco grandes temas em discussão na assembleia de Primavera da CEF, que começou a 23 de Março com uma sessão de um dia e meio sobre ecologia integral. 

A nova Ratio Nationalis foi elaborada após uma cuidadosa consulta aos formadores e reitores de seminários franceses, vários bispos e oficiais em Roma. O objectivo é alinhar o programa nacional de formação sacerdotal com as directrizes que o Vaticano emitiu em Dezembro de 2016. O texto francês, que ainda pode ser modificado depois da próxima votação, pretende introduzir avanços importantes na preparação para o sacerdócio. 

“Entre as novidades, o seminário estará aberto à formação permanente ao longo de todo o ministério”, afirmou D. Jérôme Beau de Bourges, presidente da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e Leigos com Missões Eclesiais.

 

Avaliação psicológica estimulada em todas as fases

“Se antes se tratava do primeiro e segundo ciclos, passa-se agora a um processo de quatro etapas, desde o ano propedêutico – que passou a ser obrigatório – à «síntese vocacional», culminando com a ordenação. A segunda etapa é a mais marcada pela necessidade de ser discípulo missionário”, explicou o mesmo Arcebispo. 

Outro desenvolvimento notável é que a avaliação psicológica dos futuros sacerdotes é agora incentivada em todas as fases. 

“Esta ciência não deve ser considerada uma excepção, mas sim uma ferramenta verdadeiramente integrada na formação”, insistiu D. Beau. 

Isto já começou a acontecer no seminário de Bayonne, onde sessões de “formação humana”, conduzidas por um orientador, foram desenvolvidas no ano anterior em cada etapa do currículo. 

“Isto é crucial: há cinquenta anos, os seminaristas chegavam com uma vida já estruturada pela Igreja e pelas culturas Basca e Cristã; os seminaristas de hoje às vezes são baptizados já adultos. Os perfis são muito diferentes”, afirmou o Pe. Louis-Marie Rineau, reitor de Bayonne desde 2019. 

“O autoconhecimento é ainda mais essencial no discernimento”, destacou. O reitor afirmou que é fundamental fortalecer o apoio oferecido aos sacerdotes nos primeiros anos dos seus ministérios e pensar em “novos caminhos para favorecer a proximidade de vida entre os confrades”. 

 

Mulheres nas equipas de formação sacerdotal

Na Ratio Fundamentalis de 2016, o Vaticano deu nova ênfase ao lugar das mulheres e dos casais na preparação dos futuros sacerdotes. Este aspecto também surge como uma das principais preocupações documento francês. 

“A perspectiva feminina é essencial para o discernimento”, adiantou D. Beau. Embora as mulheres já participassem da formação na França como professoras, tutoras, etc., algumas delas recentemente foram integradas nos conselhos que aprovam candidatos à ordenação. Isso já acontece em várias dioceses, como em Issy-les-Moulineaux, Lyon, Paris, Orleans e Rennes. É uma pequena “revolução cultural”, mas diz respeito apenas a algumas mulheres. 

Os seminários foram duramente atingidos pela queda nas vocações. A “falta de candidatos” obrigou os de Lille e Bordéus a encerrar em 2019. Mas a questão do reimplante territorial das estruturas finalmente parece essencial. 

“Perguntámo-nos sobre uma reorganização à escala de França, mas isso não levou em consideração a história dos seminários e as especificidades de cada província”, observou o Pe. Pascal Sarjas, reitor do Seminário Maior de Lorraine de Metz.

“Em vez disso, procurámos deter-nos nas realidades locais”, disse o sacerdote, que é também Secretário do Conselho Nacional de Seminários.

 

Implementação territorial 

O novo texto não resolve realmente a espinhosa questão do “mínimo” de alunos necessários para manter um local de formação aberto. 

“Imaginamos algo com geometria variável, adaptando-se à vida de cada um”, frisou o padre Sarjas. Por exemplo, uma quota mínima de seminaristas não seria aplicada a um espaço que acolhe outros alunos ou leigos. 

“Acima de tudo, a ideia é evitar a formação numa pequena bolha, cultivando uma espécie de separação cultural e elitismo sem preservar a liberdade de cada um”, acrescentou o Arcebispo Beau. 

Se os bispos aprovarem a nova Ratio Nationalis e o Vaticano a ratificar, as disposições do texto ainda terão de ser adaptadas às políticas internas dos cerca de trinta seminários franceses.

 

Artigo de Malo Tresca, publicado no La Croix International a 24 de Março de 2021.