Arquidiocese de Braga -
27 julho 2021
Exploração infantil: um fenómeno oculto, mas presente na Itália
DACS com Vatican News
Segundo as estimativas, só a exploração do trabalho poderia englobar mais 8,9 milhões de crianças e adolescentes até ao final de 2022, mais de metade com menos de 11 anos.
Uma em cada três vítimas de tráfico no mundo é menor, uma situação que também existe na Itália. A 11ª edição do Relatório “Pequenos Escravos Invisíveis – Fora das Sombras: A Vida Suspensa dos Filhos das Vítimas de Exploração”, publicado pela Organização Não Governamental Save The Children, por ocasião do Dia Internacional Contra o Tráfico de Seres Humanos, a 30 de Julho, aborda o assunto. “Infelizmente, uma condição cada vez mais generalizada”, explica Antonella Inverno, membro da ONG.
Estar nas mãos de traficantes sem escrúpulos, explorados em trabalhos humilhantes ou do ponto de vista sexual, sem esperança de redenção e salvação. No mundo existem mais de cinquenta mil menores que vivem nesta situação dramática, que se agravou ainda mais com a chegada da Covid-19.
De facto, nas fases agudas da pandemia, as medidas de contenção deixaram 1,6 biliões de meninos e meninas sem escola, com a grave consequência de um forte aumento do abandono da educação e um maior risco de tráfico e exploração sexual ou laboral, casamentos forçados ou gravidez precoce, especialmente em países pobres.
Segundo as estimativas, só a exploração do trabalho poderia englobar mais 8,9 milhões de crianças e adolescentes até ao final de 2022, mais de metade com menos de 11 anos.
A exploração infantil na Itália
Esta situação dramática não poupa Itália. Só em 2020, a Save the Children interceptou 683 novas vítimas, incluindo 55 menores. Além disso, em conjunto com a Inspecção Nacional do Trabalho, descobriu que foram encontrados 127 casos de menores vítimas de exploração laboral. Uma situação que, na verdade, está destinada a trazer à tona um fenómeno que ainda está submerso.
Uma escravidão que envolve mães e filhos
“Além da condição dessas crianças, há também a das mulheres imigrantes, muitas vezes muito jovens, principalmente da Nigéria ou da África Sub-Shariana, exploradas por esses traficantes do ponto de vista sexual, usando como arma de chantagem os filhos, que por vezes são o resultado das numerosas violências sofridas durante a dramática viagem para chegar à Europa e que, por sua vez, podem sofrer outras perseguições. Desta forma, só corremos o risco de crescer numa rede pejada de abusos”, explica Antonella Inverno, da Save The Children.
Situação descontrolada no campo
O relatório, apresentado hoje, trata também da questão das graves consequências da exploração do trabalho na agricultura para as mães e os filhos, em localizações isoladas dos centros urbanos e dos serviços.
Na verdade, para além das difíceis condições de trabalho a que estão sujeitos os trabalhadores agrícolas, estão expostos a várias formas de violência, abusos e assédio no local de trabalho: um fenómeno que afecta principalmente os trabalhadores da Europa de Leste, muitas vezes sozinhos com filhos menores, submetidos pelos exploradores à chantagem da perda do emprego, uma ameaça que muitas vezes depende da presença de crianças.
A situação destes menores também se agravou com o abandono escolar precoce que atinge picos de 80% devido à distância dos equipamentos escolares e à ausência de transporte. Isto aumenta o risco de, com apenas 12-13 anos, essas crianças começarem a trabalhar no campo por salários mais baixos do que os adultos, além de também poderem ser envolvidos em formas de exploração sexual.
Networking para sair do tráfico
“Para poder combater este fenómeno de tráfico e exploração, é necessária a colaboração dos diversos actores envolvidos. Juntamente com o Departamento de Igualdade de Oportunidades, activamos um projeto chamado «Novos Caminhos» para cuidar dessas famílias em situação de risco e, actualmente, estamos a acompanhar cerca de cinquenta famílias. Além disso, agora que estes traficantes também começaram a atrair as vítimas através da tecnologia digital, ainda temos que trabalhar muito para tentar intervir também neste aspecto. Portanto, um diálogo aberto com outros países também é essencial. É urgente um plano nacional de combate ao tráfico na Itália, que aguardamos há vários anos e que deve prever linhas de acção específicas para os menores e para as famílias com filhos muito pequenos”, concluiu Antonella.
Artigo de Marina Tomarro, publicado no Vatican News a 27 de Julho de 2021.
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