Arquidiocese de Braga -
5 novembro 2021
“Não quero morrer nesta igreja!”
DACS com La Croix International
Um padre jesuíta e dois voluntários da Cáritas estão em greve de fome em favor dos direitos dos migrantes há quase um mês dentro de uma igreja na cidade portuária francesa de Calais.
O psicólogo, voluntário no Hostel para Migrantes na cidade, foi ver como estavam o padre jesuíta e os dois voluntários da Cáritas em greve de fome há quase um mês em solidariedade com a perturbada comunidade migrante de Calais.
“Não vão demasiado longe”, Grare diz-lhes. O padre Philippe Demeestère, de 72 anos, concorda com a cabeça, compreendendo: “Não quero morrer nesta igreja”, diz ele. “Quero sair pelos meus próprios pés”.
Demeestère, que é capelão da Secours Catholique (Cáritas França), está na nave da igreja onde concelebrou a missa apenas um dia antes. Na quinta-feira, ele e dois voluntários da Cáritas começaram o seu 25º dia sem comer. Até onde irão?
“Mantenho a minha liberdade e tenho outras perspectivas”, responde simplesmente Demeestère. O governo francês nomeou Didier Leschi para negociar com o padre e os seus dois companheiros – Anaïs Vogel e Ludovic Holbein – com o objectivo de pôr fim à greve de fome. Mas as discussões chegaram a um impasse desde que o governo disse que não tem intenção de interromper a sua rotina de desmantelamento dos campos improvisados de migrantes na área de Calais. O governo argumenta que não fazer nada seria equivalente a permitir que uma “selva” migrante seja reconstituída, especialmente durante a trégua de Inverno ou amnistia. Os três grevistas, no entanto, fizeram da suspensão da demolição dos acampamentos a sua primeira exigência. Um por um, repetem estas palavras: “Vou continuar”.
“Defendemos a vida, não a morte”
Os dois voluntários da Cáritas são ainda mais radicais do que o capelão jesuíta.
“Defendemos a vida, não a morte”, sublinha Ludovic Holbein. “Talvez se estivéssemos a soro, isso ajudasse, mas não é por isso estamos aqui”, diz. Anaïs Vogel, que está sentada ao lado dele, admite que se sente “hiperfatigada”. “Nos últimos dias, tenho sentido uma deterioração”, confessa.
Enquanto isso, Leschi vai começar a implementar outras propostas que os três grevistas dizem que não resolverão realmente nada. Uma dessas propostas é oferecer alojamento fora de Calais aos migrantes que ainda vêm à cidade portuária para tentar atravessar o canal para a Inglaterra. “Dizem-nos que ou os despejam ou deixam a selva reconstituir se”, como se não houvesse nada entre essas duas opções”, lamenta Holbein. Tal como Demeestère e Vogel, está a pedir às autoridades que deixem os migrantes “pelo menos” respirar debaixo de uma tenda durante o Inverno, “um tempo para os deixar pensar sobre o seu futuro”, em vez de importuná-los e obrigá-los a mudarem-se.
“Não nos opomos ao alojamento permanente, mas deve ser oferecido aqui, em Calais”, diz Holbein.
Apoio e preocupação
Os três grevistas têm o apoio da Cáritas (Secours Catholique) e da Companhia de Jesus.
“A questão de continuar ou não a greve de fome não nos cabe a nós decidir, é uma escolha individual”, insiste Nathanaël Caillaux, responsável pela missão Secours Catholique na região. “Esta acção pelo menos colocou os holofotes de volta em Calais”, diz.
François Boëdec, superior da Província dos Jesuítas da Europa Ocidental, concorda.
“Para mim, este é o resultado mais importante do empenho deles. Lembra-nos a todos o carácter insuportável da situação”, salienta.
O bispo local, D. Olivier Leborgne de Arras, reuniu-se com os grevistas dentro da Igreja de São Pedro e apoiou-os, mas está “preocupado” com a saúde deles e questiona se devem continuar.
“A greve de fome teve alguns efeitos positivos, mesmo que menores, e eu ficaria surpreso se o governo desse mais do que aquilo que já garantiu”, diz o bispo. “Precisamos de seguir em frente”, acrescenta.
“Mas não avançaremos colocando em risco a saúde das pessoas em greve de fome mais do que o razoável”, conclui.
* O Pe. Philippe Demeestère anunciou no dia 4 de Novembro que iria pôr fim à greve de fome. Os dois voluntários da Cáritas mantêm-na.
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