Arquidiocese de Braga -

5 novembro 2021

Pe. Lombardi: "a comunicação deve estar ao serviço do bem, da verdade e da beleza"

Fotografia DR

DACS com Vatican News

No seu novo livro, o padre Federico Lombardi SJ, ex-director da Rádio Vaticano, da TV Vaticana e da Sala de Imprensa da Santa Sé, reflecte sobre o seu desejo de escrever e testemunhar com espírito de serviço durante as décadas de experiência sob três Papa

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A comunicação é uma actividade central da Igreja. De facto, a Igreja tem a missão de comunicar a Boa Nova do Evangelho de Jesus Cristo. No cumprimento desta missão, os Papas, sucessores de São Pedro, adoptaram diversos estilos em função da sua personalidade e dos meios à sua disposição.

Em “Papi, Vaticano, Communicazione” (traduzido como “Papas, Comunicações do Vaticano”), o Pe. Federico Lombardi reuniu as suas contribuições para o importante campo da comunicação na Igreja, com base na experiência pessoal e nos seus longos anos de serviço como comunicador do Vaticano sob três papas: o Papa São João Paulo II, o Papa Bento XVI e o Papa Francisco.

O padre jesuíta italiano foi nomeado director de programas da Rádio Vaticano em 1991 e posteriormente director-geral em 2005. Foi nomeado director geral do Centro de Televisão do Vaticano (CTV) em 2001, cargo que ocupou até 2013. Em Julho de 2006, o Papa Bento XVI nomeou-o director da Sala de Imprensa do Vaticano, função que exerceu até 2016. Actualmente é o presidente da Fundação Joseph Ratzinger – Bento XVI.

O Pe. Lombardi explica que a sua última publicação é inspirada pelo desejo de “dar testemunho de um espírito de serviço na comunicação” através do “serviço ao Papa como servo da Igreja, do Povo de Deus e da humanidade” e fala sobre como se adapta aos diferentes estilos de comunicação dos Papas.

 

Ao serviço da unidade, bondade, verdade e beleza

O livro, prefaciado pelo jornalista italiano Ferruccio de Bortoli, contém uma primeira parte dedicada aos três Papas sob os quais o Pe. Lombardi serviu. Na segunda parte, o padre jesuíta reflecte sobre a sua experiência à frente da Rádio Vaticano, CTV e Assessoria de Imprensa da Santa Sé. O volume conclui-se com cinco “notas” do autor, nas quais, como director da Rádio Vaticano, oferece orientações sobre determinados acontecimentos.

Em entrevista ao Vatican News, o Pe. Lombardi afirma que “Papi, Vaticano, Communicazione” tem como objectivo comunicar para a unidade: “tentar ajudar as pessoas a compreenderem-se umas às outras e a dialogar para construirem juntas um futuro”. Isso, acrescenta, consegue-se escrevendo ao serviço do bem, da verdade e da beleza.

O Pe. Lombardi explica que escrever ao serviço do bem demonstra que, apesar de algumas coisas más que existem no mundo, ainda há muitas coisas boas – algumas a operar em segredo. Através do bem, “Deus trabalha no nosso tempo para abrir os nossos olhos” para que não caiamos no desespero. No que diz respeito à verdade, observa que, embora as palavras possam ser usadas no interesse de uma pessoa ou de um partido, temos que testemunhar através da comunicação da verdade para ajudar as pessoas a encontrarem o caminho certo no mundo de hoje.

Escrever ao serviço da beleza – não material ou corporal – mas beleza espiritual, destaca a dignidade da pessoa humana e a visão do espírito. Neste sentido, “o serviço nas comunicações é uma forma de servir a todas as nossas irmãs e irmãos no mundo, e também a mensagem do Evangelho como algo que salva a pessoa humana”, afirma o Pe. Lombardi.

 

Três Papas, três estilos de comunicação

O Pe. Lombardi prossegue, explicando os estilos de comunicação dos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

Descreve o Papa São João Paulo II como um “gigante da comunicação”, hábil em comunicar com palavras e gestos. Lembra, em particular, o encontro do Papa polonês com Mehmet Ali Ağca (o homem por trás da tentativa de assassinato do Papa em 1981), e o gesto simbólico do Papa ao colocar uma oração no Muro das Lamentações em Jerusalém em Março de 2000. Também destaca o “tempo de silêncio” durante o qual o Papa comunicou através do seu sofrimento e fraqueza causados ​​pela doença. O Pe. Lombardi, no entanto, aponta que não seria justo comparar o seu pontificado com outros porque o do Papa João Paulo II foi significativamente mais longo.

O Papa Bento XVI, segundo o Pe. Lombardi, é mais um “homem da palavra e da escrita”. Um homem de cultura que expressou o seu pensamento e espiritualidade de forma articulada, e de uma “maneira clara e ordenada de falar e pensar”.

Em relação ao Papa Francisco, o Pe. Lombardi vê o Papa como “um homem de proximidade”, cuja força de comunicação está em usar “palavras e gestos claros e curtos para expressar a sua proximidade com o povo”.

 

Transições entre Papas

A longa carreira do P. Lombardi como comunicador na Igreja deu-lhe a oportunidade de testemunhar as transições entre Pontífices. Respondendo a uma pergunta sobre os momentos mais significativos da sua longa trajectória, destaca que esses momentos de transição são muito importantes porque “os olhos do mundo estavam concentrados em Roma e na Igreja”.

Nos momentos de transição, há “uma oportunidade incrível de explicar e testemunhar o Espírito com que a Igreja avança na história”, afirma, acrescentando que a atenção de um imenso público oferece a possibilidade de “dar palavras de esperança e de testemunho do serviço da Igreja à humanidade”.

 

Comunicações na Igreja

Quando questionado sobre a evolução das tecnologias de comunicação e os esforços da Igreja para se adaptar ao ritmo acelerado da mudança, o Pe. Lombardi reflecte sobre os seus muitos anos de experiência como comunicador da Igreja e observa que “a Igreja está sempre a caminho” para manter-se actualizada em relação às novas tecnologias.

“Sempre tivemos algo a aprender, algo a fazer melhor do que no passado. E temos que nos adaptar às novas tecnologias e linguagens da comunicação”, acrescentou.

Diante disto, o Pe. Lombardi destaca a tarefa dos comunicadores e aconselha-os a “ver com clareza o que e porque comunicam”, antes que os instrumentos e a linguagem de comunicação possam mudar.

Artigo do Pe. Benedict Mayaki, SJ, publicado no Vatican News a 5 de Novembro de 2021.