Arquidiocese de Braga -

7 fevereiro 2022

Duc in Altum

Fotografia Bruno Luís Rodrigues

Homilia de D. José Cordeiro na Catedral de Bragança, na Eucaristia de Acção de Graças pelo exercício do seu ministério episcopal na Diocese de Bragança-Miranda, a 6 de Fevereiro de 2022.

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1. Deixaram tudo e seguiram Jesus

A simpática narrativa do Evangelho mostra o episódio da pesca milagrosa e o chamamento dos primeiros discípulos Simão, Tiago e João, que deixaram tudo e seguiram Jesus. Na margem do lago de Genesaré, Jesus diz a Simão: «Faz-te ao largo», ao que este responde «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Por experiência própria, Pedro tinha motivos para não seguir tal ordem, porém, acredita em Jesus. E esta fé é confirmada pela pesca abundante, sendo necessária a ajuda de uma segunda barca, envolvendo no acontecimento a Tiago e João.

Como recorda São João Paulo II «Este é o momento da fé, da oração, do diálogo com Deus, para abrir o coração à onda da graça e deixar a palavra de Cristo passar por nós com toda a sua força Duc in altum!» (NMI 38). 

Perante o temor de Pedro, Jesus diz: «Não temas. Daqui por diante serás pescador de homens». Na pesca habitual, o pescador procura o seu interesse e não o dos peixes. Mas o significado evangélico da pesca é contrário, isto é, o pescador está ao serviço do peixe. Os Apóstolos são os que foram chamados e que devem servir a chamar

A vocação pode acontecer em qualquer lugar, em qualquer momento da vida e em qualquer idade. Deus é imprevisível!

 

2. Eis-me Aqui! Podeis enviar-me...

A primeira leitura apresenta a vocação de Isaías. Ao contemplar a glória de Deus, que os anjos cantam, «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!», Isaías sente-se purificado e torna-se disponível para Deus. Esta é a mesma oração de louvor, incessante e ininterrupta da aclamação ao Deus três vezes santo (Trisaghion), transmitida pelos anjos à liturgia da Igreja, que se prolonga realmente na celebração da Eucaristia (Sanctus).

À visão da glória segue-se a voz do Senhor «Quem enviarei? Quem irá por nós?». Isaías, abrindo a boca do seu coração, tocada pelo Senhor, responde «Eis-me aqui: podeis enviar-me». O salmo 137 é uma confissão de louvor pelo auxílio do Senhor. A Igreja canta o seu agradecimento na presença dos anjos «De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca». Cristo dá graças ao Pai e a Igreja dá graças a Cristo, pois a sua ressurreição salvou a todos os que, pela fé, acreditam n’Ele e lhe cantam «Na presença dos anjos eu Vos louvarei, Senhor».

Anunciar, celebrar e servir o Evangelho da Esperança, que não é outro senão Jesus Cristo, o mesmo, ontem, hoje e por toda a eternidade (cf. Hb 13,8) – eis o compromisso de sempre para todas as vocações!

 

3. Tudo é graça

Hoje, retornam ao meu pensamento as palavras de Miguel Torga: «Foi desta realidade que parti, e é a esta realidade que regresso sempre, por mais voltas que dê nos caminhos da vida. É uma certeza de marcos com testemunhas, que nunca me deixa desorientado quando quero avivar as estremas da alma (…) Nasci povo, povo continuo e povo quero morrer». E ainda em contemplação da beleza do reino maravilhoso: «entra nos olhos e não sai mais».

Agradeço de todo o coração a D. António Montes, ao Presbitério, aos Diáconos, às Pessoas Consagradas, a todas as Leigas e Leigos nas Paróquias das Unidades Pastorais, nos organismos de comunhão e corresponsabilidade sinodal, nos serviços diocesanos, nos movimentos e grupos eclesiais. Muito obrigado pelo vosso testemunho de fé, de esperança e de caridade.

A gratidão é igualmente para todas as Autoridades autárquicas, civis, académicas, forças de segurança e proteção, órgãos de comunicação social e paras todas as instituições, sobretudo, a Cáritas, as Fundações e Centros sociais paroquiais, e as Misericórdias pela sua cooperação recíproca.

No serviço do ministério episcopal na nossa amada Diocese de Bragança-Miranda procurei doar-me como peregrino do Evangelho da Esperança, para mostrar os mistérios de Cristo. Como dizia São Francisco de Assis: «Irmãos, comecemos a servir o Senhor Deus, porque até agora pouco ou nada fizemos». Peço perdão por todas vezes que não fui o pastor, o pai, o irmão, o amigo e o companheiro de viagem, segundo o Coração de Deus.

Esforcei-me por buscar a proximidade com Deus, com o Colégio Episcopal, com o Presbitério e com o Povo santo de Deus.A comunhão e a participação são elementos decisivos para a Missão da Igreja.

Recomendo-me à misericórdia de todas as crianças, adolescentes, jovens e adultos, sobretudo dos mais velhos, dos pobres, dos reclusos, dos migrantes, das pessoas com deficiência, das minorias étnicas e de todas as outras periferias existenciais que são invisíveis.

Corações ao alto! «Não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é que é a vossa força» (Neemias 8,10).

Suplico a Deus, por mediação da Senhora das Graças, de São José e de São Bento, por todos e cada um. Rezai por mim e rezemos juntos, para que em breve Deus conceda a Bragança-Miranda um bom Bispo.

Todos os domingos, os Bispos e os Párocos têm a obrigação de celebrar uma Missa pelo Povo a eles confiado. Hoje tem um sabor muito especial! Uma Missa-missão, de ação de graças e de “envio”.

Até sempre!

+ José