Arquidiocese de Braga -
17 fevereiro 2022
Igrejas convidam Rússia e Ucrânia a libertar prisioneiros

DACS com Agência Ecclesia/Público
Os responsáveis religiosos apelam ao diálogo diplomático para “evitar o terrível derramamento de sangue” e promover “uma paz duradoura e justa”.
O Conselho Pan-Ucraniano de Igrejas e de Organizações Religiosas fez um apelo à Rússia e à Ucrânia para que implementem efectivamente o acordo sobre troca de prisioneiros conseguido entre o Formato da Normandia, demonstrando assim “boa vontade”.
O Conselho pede aos presidentes Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, da Rússia e Ucrânia, respectivamente, que mostrem “determinação” e façam “os esforços necessários para a troca de pessoas, detidas devido ao conflito, como um primeiro passo” para o aliviar das tensões actuais, “por misericórdia e em vista de considerações humanitárias”.
Os responsáveis religiosos apelam ao diálogo diplomático para “evitar o terrível derramamento de sangue” e promover “uma paz duradoura e justa”.
O bispo católico de rito latino de Kiev, D. Vitalii Kryvytskyi, pediu à comunidade internacional que não use a Ucrânia para “resolver o seus próprios problemas”, deixando claro que “a Ucrânia deve permanecer totalmente independente, rejeitando os pensamentos e desejos imperialistas de todo e qualquer vizinho”.
Para D. Kryvytskyi, a Ucrânia precisa do apoio a “vários níveis daqueles que estão envolvidos na política”, mas alerta que, como Igreja, vêem que “hoje, em cada discurso informativo, há também muitas mentiras”.
O bispo católico de rito latino de Kiev e Zhytomyr alerta que “os conflitos só dão origem a novos conflitos”, e evoca os acontecimentos de 2014, com a anexação da Crimeia pela Rússia, para dizer que, “enquanto por um lado não vemos razões políticas para o início de uma guerra, existem aqueles que afirmam que a guerra já começou, embora possam ser os mesmos meios de comunicação que há um ou dois anos negavam que houvesse um conflito na Ucrânia, que na verdade começou há oito anos”.
D. Vitalii Kryvytskyi assinala que a consequência do conflito é que a Ucrânia e seu povo “já estão a sofrer”, e observa que, aos muitos migrantes que deixaram o país de leste no passado, “poderão agora juntar-se outros que já estão a pensar deixar o país”.
A partir da Catedral de Santo Alexandre, local de referência para os quase um milhão de católicos de rito latino da Ucrânia, D. Vitalii Kryvytskyi salienta que o diálogo para “um processo de paz parece continuar” e acreditam “muito que a guerra não está a começar”.
O Formato da Normandia é um grupo formado por Ucrânia, França, Alemanha e Rússia, criado em 2014 para discutir e resolver a guerra na região do Donbass e que já reuniu duas vezes em 2022 para discutir a actual situação.
As tensões na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia não têm acalmado nas últimas semanas, tendo-se registado esta quinta-feira uma troca de culpas entre os países sobre um bombardeamento numa cidade do lado da fronteira de leste controlado pelo governo ucraniano, no qual três pessoas ficaram feridas.
As forças armadas ucranianas culparam o que chamaram de “forças de ocupação” pelo ataque, sugerindo que a artilharia tinha sido disparada pelos grupos separatistas apoiados pela Rússia, mas o Kremlin disse que “o primeiro tiro veio do lado ucraniano”. O secretário de defesa dos Estados Unidos da América afirmou que pode ser uma tentativa da Rússia encontrar um pretexto para a invasão, depois de ter continuar a acumular milhares de soldados na zona fronteiriça, apesar de alegar o contrário.
Josep Borrell, o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, afirmou que o grupo de 27 países tem pronto um pacote de sanções contra a Rússia, que será aprovado “tão depressa quanto possível” em caso de agressão ou ofensiva militar em território da Ucrânia. De acordo com o jornal Público, haverá um plano de contingência para, em paralelo, apoiar os países europeus mais expostos a consequências económicas das sanções e retaliações da Rússia.
Entre as exigências russas, formalizadas em Janeiro, está a da NATO nunca admitir a adesão da Ucrânia e um recuo das forças da NATO no leste europeu – para posições que ocuparam pela última vez no fim da década de 1990.
A Ucrânia passou por duas revoluções no século XXI, em 2005 e 2014, rejeitando ambas as vezes a influência da Rússia e aproximando-se da União Europeia e da NATO, movimentando-se no sentido da adesão a ambas as alianças.
Depois da revolução de 2014 (Revolução da Dignidade), em que meses de protestos acabaram por derrubar o presidente pró-Moscovo Viktor Yanukovych, Putin utilizou o vazio no poder a seu favor e anexou a região da Crimeia, para além de começar a apoiar rebeldes separatistas nas províncias de Donetsk e Luhansk através de milícias paramilitares.
Os rebeldes conseguiram estabelecer duas pequenas “repúblicas populares”, onde a pena de morte foi reestabelecida e dezenas de campos de concentração foram criados para torturar e executar dissidentes. O conflito vitimou, desde 2014, mais de 13 mil pessoas e obrigou à deslocação de milhões.
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