Arquidiocese de Braga -

26 abril 2022

Cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga: “Devemos motivar a solidariedade para melhorar a educação na América Latina”

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

O "Vida Nueva Digital" conversou com o cardeal sobre os desafios da educação no continente antes do XXVII Congresso Interamericano de Educação Católica.

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A quase um mês da 27ª edição do Congresso Interamericano de Educação Católica, o Vida Nueva conversou com o Cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga, Arcebispo de Tegucigalpa (Honduras) e director espiritual da Confederação Interamericana de Educação Católica (CIEC), organizadora deste evento.

Sobre os desafios da educação no continente, o cardeal afirmou que diante da actual crise económica pós-pandemia “também agravada pela agressão da Rússia contra a Ucrânia” complica-se ainda mais o panorama dos países latino-americanos e, por isso, a educação paga cada vez mais pelos estragos.

 

Educação na América Latina

Como vê a situação da educação católica na América Latina e em relação ao 27º Congresso Internacional que será realizado no México através do CIEC?

Em primeiro lugar, tenho que agradecer o trabalho do CIEC, é um trabalho incansável e quero agradecer especialmente ao Óscar Pérez Sayago, que é uma força motriz atípica e incansável que tem animado todos os processos. Sem dúvida, ninguém pode esconder a enorme crise existente, em parte devido à Covid-19. Estivemos mais de dois anos enclausurados. A isto soma-se o facto de que em alguns lugares tivemos, como aqui no meu país, duas tempestades tropicais que destruíram várias escolas e há outras escolas que por falta de manutenção estão extremamente deterioradas. Em muitos lugares, os educadores não têm os salários em dia e alguns estão a acumular salários que não são pagos há vários meses, o que é uma grande injustiça. Isso torna a educação muito prejudicada desse ponto de vista. Por isso, vejo que este Congresso tem um novo horizonte e, portanto, em vez de nos lamentarmos e olharmos para trás, os educadores podem superar os obstáculos com criatividade e vocação para o serviço. Por exemplo, aqui nas Honduras conheço o testemunho de uma escola que foi um modelo durante a pandemia, num vilarejo muito pobre; nunca suspendiam as aulas, para isso usavam o espaço livre, aplicavam medidas de biossegurança e promoviam a vacinação quando estava disponível. Portanto, a educação tem um papel muito importante e a pobreza ou falta de meios não é desculpa para dizer que estamos paralisados. Além disso, no Evangelho encontramos uma quantidade de cura de paralíticos de tal forma que podemos ir ao Senhor Jesus, o Mestre por excelência, para nos ajudar neste Congresso do CIEC a superar muitas paralisias.

 

Activar a solidariedade

Nesse sentido, como é que o pacto educacional global com os governos pode ajudar a diminuir essas lacunas digitais?

Não esperemos tudo do Governo, seria o mesmo que sentarmo-nos e esperar que o maná voltasse a chover. Estamos a ver a instabilidade política, a ideologização a querer importar modelos que já estão completamente desgastados, que não dão nenhum fruto. Para mim, o caminho é a solidariedade de toda a população. Espero que o Governo governe bem, é o seu dever, mas não pensemos que será o Pai Natal que irá trazer das nuvens recursos que não existem, sobretudo quando a maioria das economias da nossa América Latina vive com dívidas. Desta forma, vejo um grande horizonte em poder motivar a solidariedade de quem mais tem, aliás, já vemos alguns resultados de empresas, por exemplo, que se dedicam a alguns programas de bolsas para estudantes. Esta parece-me ser uma área que precisa de ser explorada. Não esperemos mais dos governos, mas da solidariedade nacional e internacional sabendo que a saída da pobreza é a educação.

 

Educar o coração

Menciona que a agressão da Rússia contra a Ucrânia está a afectar o mundo, que este conflito nos faz retroceder 50 anos. Nesse sentido, em que está a falhar a educação depois deste regresso à barbárie?

De facto, quando reduzimos a educação ao conteúdo intelectual, está assegurado que todos aqueles que tomam decisões erradas nestes conflitos armados não têm nada nos seus corações. A educação não é simplesmente encher a cabeça de ideias, é que essas ideias passem para o coração, para que nos levem a agir e foi isso que falhou. Há pessoas com muitos doutoramentos, mas sem um pingo de humanidade; é também um dos pontos que na minha opinião deve ser abordado neste novo Congresso, como fazer a educação intelectualista tornar-se numa educação humanista. Hoje em dia ninguém quer pensar, muitos preferem que pensem por eles; por exemplo, as chamadas redes sociais que muitas vezes e – desculpem o que vou dizer – mas pelo menos aqui no meu país, por um tempo, tornaram-se em “redes fecais”, só para trazer  à baila escândalos, ou trazer à tona coisas que não são nada edificantes baseadas na morbidez e em estimular baixezas. Isto torna-se mais uma tirania. Temos que humanizar esta humanidade que se desumaniza. O que é mais inumano e desumano do que uma guerra? O que é que os média nos estão a dar a saber sobre a pobre Ucrânia? Como é possível que a vontade de uma única pessoa seja inundar de mísseis, matar e destruir? Isto é desumanização.

 

Artigo de Ángel Alberto Morillo, publicado em Vida Nueva Digital a 26 de Abril de 2022.