Arquidiocese de Braga -

25 maio 2022

Arcebispo diz que EUA “fizeram armas como ídolos” após tiroteio em escola no Texas

Fotografia William Luther/The San Antonio Express-News via AP

DACS com Crux

Um atirador de 18 anos abriu fogo na Robb Elementary School, matando pelo menos 19 crianças e dois adultos, disseram as autoridades.

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Preparando-se para visitar o hospital para onde foram levadas muitas das vítimas de um tiroteio numa escola primária em Uvalde, Texas, a 24 de Maio, a voz do arcebispo Gustavo García-Siller, de San Antonio, tremeu de incredulidade ao prometer que a arquidiocese “vai estar lá com [as famílias das vítimas], por elas” e a fazer “o que for preciso” para apoiá-las.

Um atirador de 18 anos abriu fogo na Robb Elementary School, matando pelo menos 19 crianças e dois adultos, disseram as autoridades. O atirador morreu no local.

O suspeito – identificado como estudante da Uvalde High School e morador da comunidade – entrou na escola primária com uma arma e possivelmente uma espingarda, disse o governador do Texas, Greg Abbott. As autoridades não revelaram o motivo do tiroteio.

Uvalde fica a cerca de 85 milhas a oeste de San Antonio e faz parte da Arquidiocese de San Antonio. Tem uma população de cerca de 16.000 pessoas. A Robb Elementary School tem pouco menos de 600 alunos e do segundo, terceiro e quarto ano, disse o chefe da polícia do distrito escolar, Pete Arredondo, em conferência de imprensa

Os nomes e as idades das vítimas não foram divulgados.

“Não sei o que fazer com tudo isto”, disse García-Siller ao Crux. “É uma notícia horrível no meio da pandemia, da guerra, da agitação social, da divisão, dos debates políticos que estão a fragmentar cada vez mais a nossa sociedade e algo assim está a ferir a vida das pessoas de maneira muito profunda”.

Ontem à noite, García-Siller visitou o Hospital Memorial Uvalde, para onde foram levadas muitas das vítimas. Presidiu, às 20h00, a uma Missa na Igreja Católica Sagrado Coração em Uvalde para a comunidade e para as pessoas que sofreram um impacto directo.

Num comunicado, a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos lamentou que “haja muitos tiroteios em escolas, muitas mortes de inocentes”.

“A nossa fé católica chama-nos a rezar por aqueles que morreram e a curar as feridas de outras pessoas, e unimos as nossas orações à comunidade de Uvalde e o arcebispo Gustavo García-Siller”, disseram os bispos do país através de Chieko Noguchi, director dos assuntos públicos da USCCB.

“Ao fazermos isto, cada um de nós também precisa de procurar nas nossas almas maneiras de fazer mais para entender esta epidemia de maldade e violência e implorar aos nossos lídereseleitos que nos ajudem a agir”.

O presidente Joe Biden ordenou que as bandeiras americanas fossem hasteadas a meia haste até ao pôr do sol no Sábado, em homenagem às vítimas do tiroteio. Em comentários da Casa Branca, Biden pediu à nação que orasse pelas vítimas e que desse “aos pais e irmãos a força na escuridão que sentem agora”. E também pediu acção.

“Porque estamos dispostos a viver com esta carnificina? Porque continuamos a deixar isto acontecer?” disse Biden. “É hora de transformar esta dor em acção para todos os pais, para todos os cidadãos deste país”.

O tiroteio de 24 de Maio foi o mais mortal numa escola primária dos EUA desde que um atirador matou 20 crianças e seis adultos na Sandy Hook Elementary em Newtown, Connecticut, em 2012. O tiroteio também ocorre 10 dias depois de um atirador matar 10 pessoas num supermercado em Buffalo, Nova Iorque.

Falando ao Crux, García-Siller manifestou-se contra a cultura de armas dos EUA e os líderes eleitos “que em geral não têm coragem de controlar as armas no país”.

“Nós, o povo, estamos no limite”, disse. “Não sabemos muito sobre a pessoa que cometeu estes assassínios, mas seja qual for o caso, as armas estão disponíveis e as pessoas estão a morrer e fizemos armas como ídolos. Na nossa fé, chamaríamos-lhe de idolatria, mas elas são sagradas ao ponto de não tomarmos medidas para ajudar a evitar estas situações. É horrível”.

“Isto é simplesmente ultrajante. Tantas pessoas são mortas diariamente em todo o país por causa do uso de armas e nós protegemo-las. Precisamos de proteger as pessoas”, continuou.

“Estamos todos a rezar e tudo isto é uma tremenda ajuda moral, espiritual e até humana para estar perto das pessoas, mas é um problema sistémico”.

O arcebispo desafiou a Igreja Católica dos EUA a ser mais vocal sobre o assunto.

“Então, quando dizemos que estamos a respeitar a vida, como vamos fazer isso nesse campo? Como vamos deixar brilhar a dignidade da pessoa humana?”, questionou García-Siller.

“Deus tem misericórdia e é por isso que temos esperança, porque sabemos em quem podemos confiar, mas, enquanto isso, não há realmente pessoas com integridade e dignidade a lidar com estas questões. Transformados pela esperança, reconstruiremos o nosso amanhã”, continuou.

Artigo de John Lavenburg, publicado no Crux a 25 de Maio de 2022.