Arquidiocese de Braga -

26 maio 2022

“Precisamos do Papa!”, diz o bispo greco-católico Ucraniano

Fotografia DR

DACS com La Croix International

O arcebispo Borys Gudziak, acredita que “seria profético” que o Papa Francisco fosse à Ucrânia, embora as perspectivas de uma visita Papal já não pareçam estar na agenda.

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O arcebispo Borys Gudziak, líder da Arquieparquia Greco-Católica Ucraniana da Filadélfia, diz que “seria profético” se o Papa Francisco fosse à Ucrânia.

Mas o arcebispo ucraniano-americano de 61 anos também percebe que a perspectiva de uma visita Papal já não é tão provável quanto era há algumas semanas.

Gudziak, que liderou os greco-católicos ucranianos da França entre 2012-2019, esteve em Paris esta semana para assistir à missa de tomada posse de D. Laurent Ulrich, 142º bispo de rito latino da capital francesa.

No dia seguinte, na sede do L'Œuvre d'Orient, falou com vários meios de comunicação, incluindo  o La Croix, sobre a situação na Ucrânia no 90º dia da invasão russa.

Durante a conversa, expressou novamente o seu desejo de uma visita papal a Kiev.

“A presença do Papa Francisco na Ucrânia seria profética”, disse o arcebispo Gudziak. “Intervenções públicas e declarações são uma coisa, mas nas nossas horas de sofrimento, precisamos da presença do Papa”, acrescentou.

 

Uma visita Papal adiada

Recentemente, o Papa Francisco enviou o seu “ministro das Relações Externas”, o arcebispo Paul Gallagher, à capital ucraniana. Durante a sua viagem de quatro dias, Gallagher rezou perto das valas comuns de Bucha.

Também teve reuniões com o ministro dos Negócios Estrangeiros e o primeiro-ministro da Ucrânia.

Mas uma possível viagem do Papa Francisco a Kiev já não parece estar na agenda.

No entanto, o La Croix soube que durante as primeiras semanas do conflito as autoridades do Vaticano estavam a estudar a logística de uma viagem Papal que deveria durar vários dias. Mas os diplomatas Papais, e até o próprio Papa, hesitaram. Estavam particularmente preocupados com as consequências práticas de tal viagem.

“Se o Papa for para lá e a guerra continuar como se nada tivesse acontecido, que sinal estamos a enviar? De que adianta?”, perguntou uma fonte do Vaticano na altura.

Ao regressar a Roma de uma visita a Malta no início de Abril, o papa disse aos jornalistas que viajavam no seu avião que tinha dúvidas sobre uma viagem à Ucrânia.

“Eu disse: «Está em cima da mesa». A ideia está aí, entre as propostas que recebi, mas não sei se pode ser feita, se encaixa e se seria o melhor ou se me cabe empreendê-la, se devo ir… tudo isto está no ar”, disse o Pontífice então.

A perspectiva de uma visita Papal tornou-se ainda mais remota com a descoberta das valas comuns em Bucha e depois com os acontecimentos em Mariupol.

Muitos no Vaticano pensaram inicialmente que tal visita poderia ter levado as duas partes em conflito a um cessar-fogo. Mas só se fosse muito rápido, nos primeiros dias do conflito.

 

Uma comunidade que emerge “sufocada”

A comunidade greco-católica, localizada principalmente no Oeste do país, representa apenas 8% dos 44 milhões de ucranianos, a maioria dos quais são ortodoxos.

Mas, segundo D. Gudziak, a história mostra que uma invasão russa significa “morte para a prática de vida” desta comunidade fiel a Roma.

“Toda a vez que a Ucrânia sofreu uma ocupação russa, a Igreja Católica foi sufocada”, disse a jornalistas em Paris.

 

Bênção de três ambulâncias

O arcebispo Gudziak deu uma dimensão humanitária à sua visita a Paris.

Durante a sua visita ao L'Œuvre d'Orient na terça-feira, abençoou três ambulâncias que a associação angariou e está a enviar para um hospital em Irpin, perto de Kiev.

Além disto, cinco carrinhas carregadas de alimentos estão a ser enviadas para centros administrados pela Igreja Greco-Católica Ucraniana. Os itens serão distribuídos a pessoas deslocadas no Leste e Oeste do país.

As ambulâncias e carrinhas fazem parte de um plano abrangente de saúde e logística. O arcebispo Gudziak disse que é uma grande esperança sua que “salvem muitas vidas”.

 

Artigo de Alice Clavier, publicado no La Croix International a 26 de Maio de 2022.