Arquidiocese de Braga -

23 junho 2022

Igreja Católica na Bolívia insiste que a questão da religião seja incluída nos censos nacionais

Fotografia DR

DACS com La Croix International

Bispos alegam que excluir os dados da religião é violar a Constituição boliviana, pois as pessoas têm o direito de serem formadas na fé a que pertencem.

\n

Os bispos católicos da Bolívia, apesar da oposição do governo, defendem que a questão da religião seja incluída nos censos nacionais para garantir que a dimensão da formação religiosa do povo não seja ignorada.

“Como Igreja Católica, pedimos mais uma vez que se inclua a questão da religião que cada pessoa professa”, diz um comunicado da Conferência Episcopal da Bolívia.

A conferência episcopal católica pede “um censo transparente e inclusivo” agendado para Novembro de 2022. Os bispos disseram que foi realizada uma reunião com a equipa técnica do Instituto Nacional de Estatística, o Ministério das Negócios Estrangeiros e com a presença também das Igrejas Evangélicas, para avaliar se deve incluir-se a pergunta sobre a religião que as pessoas professam.

“Ficamos surpreendidos porque fomos informados de que já havia sido tomada a decisão de não incluir essa pergunta nos censos e foi-nos dada a opção de realizar uma investigação”, disseram.

As razões para a decisão, segundo autoridades estatais, foram que mais uma pergunta aumentaria o tempo dos censos, bem como o tamanho físico do questionário. Além disso, que o tema da religião não era relevante, pois em nada ajudaria na implementação de políticas públicas conhecer a religião que é praticada.

“Acreditamos que esses argumentos não são convincentes e que parecem pretextos para excluir os dados da fé religiosa, um aspecto que não tem apenas um significado privado, mas público”, disseram os bispos.

Disseram que o censo estaria privado de um elemento fundamental, já que a sua pretensão é ser o reflexo objectivo da realidade boliviana ao nível demográfico, económico, social, cultural e religioso.

 

As pessoas têm o direito de serem formadas na religião a que pertencem

“Ignorar esta informação significa violar o direito à prática e associação religiosa pública garantido pelo artigo 4 da Constituição Política do Estado Plurinacional”, disseram os bispos no comunicado.

A dimensão humana integral e a formação incluem também o aspecto espiritual das pessoas, crianças, adolescentes e jovens que têm o direito de serem formados na religião ou crença espiritual a que pertencem, afirmaram.

De acordo com as Perspectivas da População Mundial da ONU 2019, a população da Bolívia está estimada em 11,83 milhões, um aumento de 1,37% em comparação com 11,67 milhões em 2020. Estima-se que cerca de 70% da população seja católica, mas Mórmons, Testemunhas de Jeová, Adventistas do Sétimo dia e membros de uma variedade de denominações pentecostais estão a aumentar em número de crentes entre os pobres.

A Constituição da Bolívia estabelece a liberdade de religião e a separação entre Igreja e Estado e proíbe a discriminação religiosa.

No entanto, grupos cristãos alegaram que o governo mostra preferência por grupos e práticas religiosas indígenas. Além disso, nas áreas rurais do país, a hostilidade das comunidades indígenas contra os missionários cristãos foi reportada, de acordo com o Relatório Internacional de Liberdade Religiosa, Departamento de Estado dos EUA, Departamento de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho.

As organizações religiosas são obrigadas a registar-se no Ministério dos Negócios Estrangeiros, com excepção da Igreja Católica, cujo registo é dispensado devido a um acordo entre o governo boliviano e a Santa Sé.

Algumas igrejas menores da comunidade cristã evangélica recusaram registar-se no governo, alegando preocupações com a sua privacidade.

Artigo do La Croix International, publicado a 16 de Junho de 2022.