Arquidiocese de Braga -
30 junho 2022
Aprendendo a descansar
DACS com Vida Nueva Digital
Toda a actividade, toda a acção, mesmo toda a alegria, pede para ser interrompida, reparada com quietude, com repouso (do latim "repausare", pausar duas vezes).
Ficar cansado, descansar e ficar cansado novamente é um estado humano normal. É uma dinâmica humana e até divina. O que quer que façamos, o que quer que sejamos, cansamo-nos e precisamos de descansar.
A primeira definição da Real Academia Espanhola (RAE) diz que descansar é “parar o trabalho, reparar a força com a quietude”.
Toda a actividade, toda a acção, mesmo toda a alegria, pede para ser interrompida, reparada com quietude, com repouso (do latim repausare, pausar duas vezes).
Começam as férias neste lado do mundo. Mesmo para quem não as tem, é hora de descansar. O ano lectivo acumula-se, o calor do Verão acumula-se, dúvidas, desejos, mudanças de humor, projectos inacabados, novidades...
Há um tipo de cansaço que se alimenta de inquietações, preocupações, algo que nos sufoca. No outro dia alguém me disse que as olheiras são pensamentos acumulados. Talvez seja verdade. Quando algo se acumula, precisa de ser esclarecido ou, como também diz a RAE: “Aliviar, ter alívio ou consolo comunicando os males ou dificuldades a um amigo ou pessoa de confiança”.
É como deixares-te cair em algo ou alguém que sabes que te vai segurar. É como saberes que podes desistir e nada de mau vai acontecer porque se caíres, cairás num lugar seguro. É como deixar sair tudo o que temos cá dentro e que está fora do sítio e que arranha as paredes da tua casa. Às vezes, há alguém com quem podes fazer isso. Outras vezes, o descanso e o silêncio são os nossos melhores aliados.
O cansaço
Há outro tipo de cansaço que é mais simples, mais “animal”. Para este, o descanso consiste apenas em “descansar, dormir”. Às vezes um banho. Comer algo bom. Nada mais. Um bom filme. Como uma terra de cultivo que de vez em quando precisa de ficar em pousio. É importante não confundir o cansaço, porque se o fizermos, não conseguiremos descansar, por mais que tentemos.
E há mais um tipo de descanso que revela outro cansaço: “dito de uma pessoa, estar tranquila e sem estar preocupada por ter a confiança depositada em algo ou alguém”. Consegues imaginar-te a descobrir que quando descansamos e paramos e o cansaço não passa, o que realmente precisamos é de recuperar a verdadeira confiança? Viver confiantes, com fé, dá muita paz de espírito. Podes conversar, sorrir, amar, trabalhar, sonhar, discutir... sem ter que ter cuidado o tempo todo, com medo de que algo aconteça ou que erres de novo.
Viver confiantes descansa porque tira a pressão de ter que medir, de ganhar pontos, de não prejudicar ninguém, de ter medo. Viver com confiança restaura as gretas que a vida silenciosamente abre. E quando, por qualquer motivo, perdemos essa serenidade descuidada para passar o dia, cansamo-nos. Mas esse cansaço também passa. Sempre chega o sexto dia para descansar no sétimo. Só é preciso esperar. Deus fá-lo continuamente. Eu estou a aprender.
Artigo da teóloga e psicóloga Rosa Ruiz, publicado em Vida Nueva Digital a 30 de Junho de 2022.
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