Arquidiocese de Braga -
30 junho 2022
Irmã Orianne, uma Paulina digital no Instagram: encontrar Cristo online
DACS com Vatican News
Orianne Pietra René é uma Filha de São Paulo que mora em Boston e utiliza o Instagram para anunciar o Evangelho.
As Irmãs também são activas nas redes sociais onde anunciam Cristo. Orianne Pietra René é uma Filha de São Paulo que mora em Boston. A familiaridade juvenil com as redes sociais encontra um novo significado na sua vida como religiosa. Se formos consistentes, diz ela, também podemos criar online “um terreno fértil de encontro entre as pessoas e Aquele que as ama loucamente”. Tem milhares de seguidores em diversos países do mundo.
Podemos evangelizar com um sorriso? Parece tão engraçado ver os vídeos divertidos publicados no Instagram pela Irmã Orianne Pietra René, uma jovem Filha de São Paulo, canadiana de nascimento, mas que mora na Casa editora das Irmãs Paulinas dos EUA em Boston.
Ao navegar nos perfis do Instagram, se se deparar com a página da Irmã Orianne é praticamente impossível não parar por aí, pois esta jovem freira mostra, além de grande competência no uso da rede e uma carga irónica espontânea, também uma expressão facial extraordinária.
No entanto, a ironia proposta nunca é um fim em si mesma, mas oferece sempre uma solicitação de sentido espiritual e uma referência ao Evangelho aos seus mais de 33.000 seguidores.
O início de uma vocação
“Entrei na vida religiosa com 27 anos”, começa Irmã Orianne, “e fiz a minha profissão entre as Irmãs Paulinas no ano passado”.
E como era a sua vida antes disso? “Para ser sincera, a ideia de me tornar freira nem chegava perto de mim. Convertida ao catolicismo, passei a minha juventude como toda a gente: a estudar, trabalhar, viajar, mas também a tentar crescer na minha fé. Na universidade, primeiro estudei Antropologia e Desenvolvimento Internacional e depois continuei com as Ciências da Educação. Trabalhei como professora em Inglaterra durante um ano e depois, quando voltei para o Canadá, como professora de francês num jardim de infância. Mas também consegui encontrar tempo para ajudar na pastoral juvenil da minha paróquia. Gostei muito de trabalhar com crianças e jovens. Então, com o tempo, comecei a perceber que entre eles havia uma grande fome de palavras e pensamentos espirituais, que muitas vezes permaneciam insatisfeitos. E essa fome deles despertou em mim o desejo de fazer algo mais, mas ainda não sabia o quê. Até que um padre, a quem confessei o meu desconforto na confissão, perguntou-me se eu já tinha considerado a opção de uma vocação para ser freira. Confesso que aquelas palavras na altura deixaram-me em pânico. Mas então comecei a perguntar-me se elas eram acidentais, ou expressavam um verdadeiro convite do Senhor para assumir a vida religiosa. Como eu morava numa área rural do Canadá, longe das grandes cidades, não havia muitas comunidades religiosas à minha volta. Comecei a pesquisar online e foi assim que entrei em contacto com as Paulinas, as Filhas de São Paulo. Basicamente há uma continuidade entre a minha actividade pastoral online e o facto de a minha vocação ter nascido através da rede!”.
Partilhar pensamentos e experiências de fé com outras pessoas
A entrevista com Irmã Orianne continua e pergunto-lhe: como começou essa pastoral digital? Foi proposta pelas suas superioras ou respondeu a uma atitude sua? “Como Filhas de São Paulo, somos chamadas a usar até os meios de comunicação mais modernos e eficazes para partilhar o Evangelho de Jesus Cristo. Eu obviamente usava as redes sociais antes sequer de entrar nas Paulinas, como todos os jovens fazem. Mas as minhas contas eram todas privadas, usava-as principalmente para manter contacto com amigos e familiares. Então, quando me tornei freira, percebi que o Senhor estava a convidar-me a levar tudo de mim para a doação, incluindo a minha personalidade nas redes sociais. Depois de falar sobre isso com as minhas irmãs, decidi então mudar as minhas contas privadas para públicas, e partilhar os meus pensamentos e a minha experiência de fé com o povo de Deus”.
Os seus vídeos são muito originais e irónicos. É algo estudado ou pertence ao seu carácter? “Ironia ou não, nunca publico nada a menos que primeiro sinta uma inspiração para partilhar do Espírito. Mas é verdade: adoro levar a vida com bom humor. Por outro lado, estou convencida de que até Deus tem um bom sentido de humor! Já podemos lê-lo nas Escrituras. Mas também lamento muito pelas necessidades e sofrimentos das pessoas, e por isso espero que os meus vídeos também possam levar um sorriso aos seus rostos, e as legendas possam aquecer os seus corações”.
O privilégio de acompanhar tantas pessoas
É difícil transmitir uma mensagem espiritual num vídeo de poucos segundos? A Irmã Orianne responde: “Se entendêssemos o quanto Deus nos ama na simples realidade da nossa vida quotidiana, a nossa vida seria muito diferente. As minhas mensagens vão exactamente nessa direcção: mostrar o amor de Deus por cada um de nós, um amor que é vida, que conforta, que nos abre à novidade. Este é o Evangelho. E é isso que tento transmitir”.
Mas quem são os seus seguidores? “Cada um dos meus seguidores é um filho precioso de Deus. Estou muito grata por esta pequena «família social» que verdadeiramente reza em conjunto. Eu rezo por eles, eles rezam por mim e uns pelos outros. Nos comentários que pode ler abaixo dos vídeos, pode ver esta extraordinária e humilde comunidade de oração. É um conjunto bastante misto de homens e mulheres, desde meninos até aos 60 anos. E eles vêm de todo o mundo, dos EUA, Canadá, mas também do Brasil, Itália, Líbano e Quénia. É incrível ver como o Senhor trabalha em todas essas vidas ao redor do mundo. E também aprendo muito com eles. Estou convencida de que a presença cristã nas redes sociais é muito importante. Tenho o incrível privilégio de acompanhar tantas pessoas em momentos de dúvida, de regresso à oração, de conversão. Sempre que acontece, comigo ou com uma das minhas irmãs, choro de alegria. Alegro-me com o pensamento de que o Senhor usa as minhas publicações – as engraçadas, mas também as sérias – para criar um ambiente seguro para perguntar, questionar, debater, aprender, aventurar-se nos caminhos do amor de Cristo”.
Atenção e discernimento
A pergunta que não pode faltar à Irmã Orianne é se também há riscos na comunicação religiosa digital. “As redes sociais têm o poder extraordinário de alcançar pessoas que nunca conheceria de outra forma. Devemos sempre deixar-nos guiar pelo Espírito para decidir o que e como comunicar; e perguntamo-nos: estou a partilhar o amor de verdade? E a verdade no amor? Expresso-me sem criar divisões? Estou a convidar ao diálogo com respeito mútuo? Deve ter-se cuidado para nunca publicar mensagens que contratestemunhem o Evangelho porque são expressas com ódio ou arrogância. Porque quando cometemos esses erros na vida real, eles têm impacto, no máximo, em algumas pessoas; mas os cometer online, terão impacto negativo em centenas, até milhares, de pessoas. Isso impõe-nos um grande sentido de responsabilidade, mas também uma astúcia de coração em saber responder e considerar os outros a partir de nós”.
Criar um terreno favorável para o encontro com Deus
Uma vocação complexa então? “Não. Como qualquer outra vocação para um cristão, ela surge do baptismo em Cristo. Mesmo nas redes sociais somos chamados a viver plenamente em Cristo, interagindo e conversando com os outros. Se vivermos radicalmente o baptismo, e compreendermos verdadeiramente que também estamos a levar Cristo para este espaço virtual, podemos sem grande dificuldade criar um terreno fértil para o encontro entre as pessoas e Aquele que as ama loucamente”.
Artigo de Roberto Cetera, publicado no Vatican News a 28 de Junho de 2022.
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