Arquidiocese de Braga -
25 julho 2022
A reforma da Igreja é sistémica e não pessoal
DACS com La Croix International
As discussões no Conselho Plenário da Igreja Católica Australiana mostraram profundas divisões entre os reformadores e aqueles que se encontram apegados ao “status quo”.
Quando aqueles que, como eu, procuram a reforma e falam de mudanças sistémicas nas estruturas da Igreja, aqueles que se opõem à mudança vêem desrespeito para com aqueles que ocupam cargos como bispos e padres dentro da ordem estabelecida.
Quando os reformadores procuram a igualdade das mulheres no governo e no ministério, aqueles que se opõem à mudança vêem desrespeito aos homens leigos e religiosos, bem como a outras mulheres.
Muitos, talvez a maioria, dos ocupantes desses cargos não vêem as coisas dessa forma, assim como muitos homens não vêem o avanço das mulheres como uma desvalorização da sua posição ou papel dentro da igreja.
Isto ficou claro na Assembleia, onde amizades e relações calorosas eram a norma.
Mas é um ponto de vista duradouro que deve ser abordado porque está por trás de muitos pontos de vista expressos durante a Assembleia.
Os reformadores ficam confusos com estas defesas do status quo que parecem ser profundamente arraigadas e impenetráveis porque estão inseridas na nossa cultura.
Essa abordagem de defesa do status quo não se restringe à Igreja. O debate monarquia-república é um exemplo. Os republicanos são frequentemente criticados por serem desrespeitosos com a rainha.
Perto de casa, uma vez fui repreendido por um dos filhos de um Governador-Geral por criticá-lo por defender o status quo.
Chegamos a um acordo amigável de que, em vez de ser pessoal, eu estava apenas a defender uma mudança sistémica e o Governador-Geral era um representante da estrutura monárquica que eu procurava mudar.
A agora controversa Parte 4 das Moções e Emendas para a Segunda Assembleia sobre “Testemunhar a Igualdade de Dignidade de Mulheres e Homens” é um exemplo disso.
Alguns membros claramente entenderam mal ou interpretaram mal o título desta secção. Não era sobre os homens. A maior parte do texto e todas as moções eram sobre o avanço do papel das mulheres na igreja.
No entanto, alguns membros viram o impulso desta secção como desrespeitoso para com os homens. Isto levou ao pedido do plenário para expandir as referências aos homens no documento.
Até ouvimos uma sugestão de um homem para que a Assembleia criasse uma secção separada sobre a dignidade dos homens. Estas intervenções, felizmente, não foram aceites.
As desigualdades que derivam da hierarquia
Mais poderosamente, a Assembleia ouviu de algumas mulheres que o documento era desrespeitoso para aquelas mulheres que não procuravam ou não ocupavam cargos no ministério ou governo dentro da igreja.
Isto explica as referências no texto àquelas mulheres que são “alegres, felizes e prósperas no seu serviço a Cristo e à Igreja” e às muitas referências à “igreja doméstica”.
Essa visão também explica o fracasso da Assembleia em aprovar, na primeira ronda na tarde de terça-feira, a Moção 4.6:
Que cada diocese e eparquia australiana promova novas oportunidades para as mulheres participarem em ministérios e funções que sejam estáveis, publicamente reconhecidas, dotadas de formação apropriada, incluindo educação teológica e autorizadas pelo bispo.
Esses ministérios e funções devem envolver os aspectos mais importantes da vida diocesana e paroquial e ter um impacto real nessas comunidades.
Esta moção foi vista por alguns opositores como preferir um grupo de mulheres a outro. Mais tarde, voltou a surgir na versão revista (Moção 4.3):
Que cada diocese e eparquia australiana se comprometa a apoiar, com formação e reconhecimento apropriados, novas oportunidades para as mulheres participarem em ministérios que se envolvam com os aspectos mais importantes da vida diocesana e paroquial.
A profunda divisão entre os reformadores que se concentram nos aspectos sistémicos da Igreja e aqueles que tomam as propostas de mudança da Igreja como algo pessoal também marcou a discussão do clericalismo na Assembleia.
Tal clericalismo, a preferência pelos ordenados sobre o povo de Deus não ordenado, sustenta as desigualdades que derivam da hierarquia dentro da Igreja.
As referências ao que o Papa Francisco frequentemente chamou de “os males do clericalismo” foram um pára-raios para alguns defensores do status quo dentro da Assembleia.
De qualquer forma, houve pouca discussão sobre o clericalismo, mas o que entrou no texto ofendeu alguns membros.
Ouvimos algumas declarações aguerridas sobre ter em grande estima os padres e bispos na sala como se os pedidos de reforma fossem desrespeitosos para com eles como grupo. Isso não é verdade, mesmo que uma minoria se sinta ofendida.
Também ouvimos algumas declarações fortes do contra a linguagem do anti-clericalismo, apesar da condenação do Papa Francisco.
Geralmente passaram sem refutação, pois não pareciam pertinentes para as moções em discussão e, em última análise, não eram persuasivas.
Mas reflectem profundas sensibilidades em relação ao que é visto como um ataque pessoal entre aqueles que se opõem à reforma.
O ponto devia ser repetido. Os reformadores não estão a fazer um ataque pessoal, mas estão a procurar mudanças sistémicas e estruturais dentro da igreja.
Artigo de John Warhurst, publicado no La Croix International a 23 de Julho de 2002.
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