Arquidiocese de Braga -

25 julho 2022

Papa Francisco chega ao Canadá para viagem “penitencial"

Fotografia EPA

DACS com Agência Ecclesia

Francisco vai esta segunda-feira a Maskwacis para um encontro com membros das Primeiras Nações, Métis e Inuítes.

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O Papa Francisco chegou este domingo a Edmonton, no Canadá, para iniciar a “peregrinação penitencial” cujo objectivo é reconciliação com os povos indígenas, que entoaram cânticos com instrumentos tradicionais no acolhimento.

Francisco foi acolhido pelo primeiro-ministro Justin Trudeau, pela governadora-geral do Canadá, Mary May Simon, por líderes indígenas e autoridades eclesiásticas após um voo de mais de 8400 quilómetros e 10 horas.

Na cerimónia de acolhimento, no aeroporto internacional de Edmonton, representantes das comunidades indígenas entoaram cantos com instrumentos tradicionais.

O Papa está hospedado no Seminário de São José, seguindo esta segunda-feira para a localidade de Maskwacis, a cerca de 100 quilómetros de distância, para um encontro com membros das Primeiras Nações, Métis e Inuítes, assim como uma visita “estritamente privada” ao cemitério local.

De tarde, o Santo Padre desloca-se à Igreja do Coração de Jesus das Primeiras Nações, onde abençoa uma imagem de Santa Kateri Tekakwitha, a primeira nativa da América do Norte canonizada pela Igreja Católica.

Francisco é o segundo Papa a passar pelo Canadá, que recebeu São João Paulo II por três vezes, em 1984, 1987 e 2002. A viagem acontece apesar dos problemas de saúde que afectam o Papa e que o obrigaram a cancelar a deslocação programada à República Democrática do Congo e Sudão do Sul no início de Julho.

As Primeiras Nações representam a comunidade indígena predominante do Canadá, na parte sul do território do país; os Inuítes fazem parte de um dos principais grupos que habitam a zona ártica, popularmente conhecidos como esquimós; e os Métis (mestiços), no extremo oeste do Canadá, são descendentes da união entre indígenas e europeus.

Em 2021 foram descobertas mais de um milhar de sepulturas anónimas junto de antigas escolas residenciais indígenas, com 751 sepulturas anónimas a serem descobertas perto de uma única escola em Saskatchewan. Várias destas instituições pertenciam à rede de escolas administrada pela Igreja Católica e eram destinadas à “re-educação” de crianças indígenas, com o apoio do governo canadiano.

Nos séculos XIX e XX, até aos anos 1990, mais de 150 mil crianças indígenas passaram por este sistema de 139 instituições pelo Canadá. Em alguns casos, as crianças eram forçadas a ir para colégios internos para serem assimiladas pela sociedade caucasiana do país.

No final de Setembro de 2021, a Conferência Episcopal do Canadá publicou um “pedido inequívoco de desculpas” aos povos indígenas do território.

Os bispos canadianos reconheceram “os graves abusos cometidos por alguns membros” da comunidade católica, abusos estes “físicos, psicológicos, emocionais, espirituais, culturais e sexuais”, para além de reconhecer “com tristeza, o trauma histórico e contínuo, bem como o legado de sofrimento e os desafios que perduram até hoje para os povos indígenas”.

A Igreja Católica no Canadá admitiu que o sistema implementado nestes internatos, nos séculos XIX e XX, “levou à supressão das línguas, cultura e espiritualidade autóctones, sem respeitar a rica história, tradições e sabedoria dos povos indígenas”, e assumiu o compromisso de promover uma arrecadação de fundos em todas as regiões do Canadá para apoiar “iniciativas assumidas localmente com os parceiros indígenas”.

Em 2015, após sete anos de investigação, a Comissão de Verdade e Reconciliação do Canadá divulgou um relatório sobre escolas residenciais, revelando que entre 1890 e 1996 mais de 3 mil crianças morreram por causa de doenças, fome, frio e outros motivos.