Arquidiocese de Braga -

26 julho 2022

Líderes católicos em Angola temem violência antes das eleições de Agosto

Fotografia Associated Press

DACS com Crux

Os distúrbios nas ruas de Luanda, capital de Angola, parecem sinalizar que a tensão política está a aumentar antes das eleições gerais de 24 de Agosto, levando os líderes católicos do país a pedir paz e diálogo.

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Apesar desses apelos, muitos membros do clero temem que a violência continue.

As duas grandes forças políticas na disputa na disputa do final de Agosto, não por coincidência, são os mesmos grupos que lutam pelo controlo do país da África Austral desde 1975.

O Presidente João Lourenço, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) – o partido que governa a nação há 47 anos, desde que conquistou a sua independência de Portugal em 1975 – está a candidatar-se a um segundo mandato.

O seu maior adversário é Adalberto Costa Júnior, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

O MPLA, anteriormente um movimento comunista com apoio militar de Cuba e da União Soviética, e a UNITA, apoiada pela África do Sul e pelos Estados Unidos, travaram uma sangrenta guerra civil entre 1975 e 2002, quando a paz foi alcançada e ambos se tornaram partidos regulares.

O MPLA conseguiu continuar a governar o país até agora, mas Lourenço – e o seu partido – estão a ser criticados por muitos em Angola, onde um terço da população está desempregada e a pobreza extrema atinge quase metade da população.

“Muitas pessoas estão eufóricas com uma possível vitória da oposição”, disse Albino Pakisi, antigo padre e comentador político da Rádio Ecclesia, uma estação de rádio administrada pela igreja, ao Crux.

Enquanto Pakisi pondera que “alguns segmentos ainda acreditam nas promessas de mudança de Lourenço”, muitos sinais indicam que o MPLA teme uma derrota eleitoral. O governo não atendeu às solicitações de órgãos nacionais e internacionais para melhorar a transparência do processo, e muitos analistas apontaram que pode haver riscos de fraude.

“Existem inconsistências relevantes. Um exemplo é a lista de eleitores, que é a mesma desde 2012. São quase três milhões de pessoas que morreram e os seus nomes continuam na lista”, disse Pakisi.

Outro problema é que a comissão eleitoral angolana determinou que o número de observadores nacionais e internacionais seja limitado a 2.000, sendo que apenas 36 deles serão delegados da Igreja Católica.

“É um número terrivelmente baixo. Angola tem 164 municípios e muitos deles cobrem vastas áreas”, lamentou o padre Celestino Epalanga, secretário-geral da Comissão de Justiça e Paz da Conferência Episcopal.

Epalanga explicou que a igreja faz parte de uma plataforma formada por 21 organizações envolvidas na monitorização eleitoral e irá trabalhar com elas para ampliar a sua capacidade de observação do processo eleitoral.

“Não conseguimos entender porque é que a comissão restringiu tanto o número de observadores. Isto pode prejudicar a confiabilidade da eleição", disse ao Crux.

A Conferência dos bispos tem pedido às autoridades e líderes políticos que trabalhem por uma eleição pacífica e segura. Na semana passada, os bispos angolanos reuniram-se em assembleia e debateram o actual cenário político, entre outros assuntos.

Na declaração final à imprensa, divulgada a 21 de Julho, sublinharam que a instabilidade pré-eleitoral já era uma realidade em várias regiões, “com sinais claros de violência verbal e física”.

Assim que a campanha foi lançada oficialmente a 23 de Julho, os temores da igreja tornaram-se concretos. Centenas de motas percorreram as ruas de Luanda em apoio ao MPLA, mas, algumas horas depois, alguns dos mesmos grupos começaram a protestar por não serem pagos pelo partido pela sua participação no desfile.

A CNN Portugal noticiou que alguns motociclistas podiam ser vistos a atear fogo a t-shirts e bandeiras do MPLA e a vandalizar carros. A polícia usou a força para dispersar os manifestantes. Alguns deles disseram à imprensa local que foram baleados. As autoridades ainda não divulgaram informações sobre os eventos.

“A corrida presidencial está apenas a começar. Isto é um sinal terrível. Se os políticos não agirem e consciencializarem os seus seguidores, a violência pode crescer cada vez mais”, disse Epalanga.

A tensão política chegou mesmo até à Igreja há alguns meses, depois de alguns bispos criticarem abertamente o governo pelo seu fracasso em garantir condições básicas de vida aos pobres.

Alguns membros do MPLA começaram a associar a Igreja à UNITA, sublinhando as relações estreitas que Adalberto Costa Júnior, que foi delegado do partido no Vaticano entre 1996-2002, mantém com alguns membros do clero.

“Agora, a relação tem sido mais amigável, embora algumas vozes católicas continuem a ser críticas de pontos específicos do governo”, acrescentou Pakisi.

A 19 de Julho, o presidente João Lourenço lançou a pedra fundamental da Basílica de Nossa Senhora de Muxima, que se espera ser o maior centro de devoção mariana da África Subsaariana.

“A Igreja tem tido sucesso em desempenhar o seu papel fundamental na promoção da reconciliação e do diálogo no país. E tem sublinhado que a vontade dos eleitores deve ser respeitada”, disse Pakisi.

 

Artigo de Eduardo Campos Lima, publicado no Crux a 26 de Julho de 2022.