Arquidiocese de Braga -

5 setembro 2022

Hollerich: não há igrejas nacionais, vamos caminhar juntos e ajudar quem sofre

Fotografia DR

DACS com Vatican News

O cardeal do Luxemburgo, relator geral do Sínodo sobre a Sinodalidade, explica como o processo iniciado pelo Papa se entrelaçou com o contexto da guerra: “Ele sensibilizou as pessoas para viverem um cristianismo encarnado, especialmente na ajuda aos refug

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Um contributo para sensibilizar os crentes a viverem um cristianismo encarnado sobretudo nos sofrimentos e dificuldades dos outros, sobretudo dos refugiados da Ucrânia e do Sul do mundo. Uma oportunidade para as Igrejas do mesmo continente abandonarem os arriscados “nacionalismos” e clausuras e olharem para “o mosaico completo” para “caminharem juntas”.

O Cardeal Jean-Claude Hollerich, Relator Geral do Sínodo sobre a Sinodidade e também Presidente da COMECE, está satisfeito com os resultados obtidos até agora pelo caminho sinodal que concluiu a sua primeira fase e passa agora para a segunda. Em conversa com o Vatican News, o cardeal analisa a situação actual, mas também o trabalho dos próximos meses.

 

O caminho sinodal, desde o seu início em Outubro, foi entrelaçado com a guerra na Ucrânia. E isso também exigiu uma mudança no papel e na acção da Igreja. Na sua opinião, como relator do Sínodo, mas também presidente de um corpo eclesiástico europeu, como se articulam as duas coisas, a trajectória do Sínodo e o contexto de guerra?

Em primeiro lugar, gostaria de mencionar a experiência de muitos fiéis no Luxemburgo, o meu país, que acolheram e continuam a acolher refugiados da Ucrânia nas suas casas. Acolho também uma família de três pessoas... É bom estar com eles e viver esta solidariedade, mostra que a missão da Igreja é importante. Uma missão antes de tudo pela paz, pela justiça, pela ajuda aos que sofrem. O caminho do Sínodo, em particular, oferece uma contribuição porque sensibiliza as pessoas para que compreendam que ser cristão não significa apenas ir à missa aos Domingos, mas que o cristianismo deve ser vivido. Se eu me coloco sob a direcção do Espírito Santo, eu mudo, a sociedade muda. Os refugiados ucranianos encontraram um acolhimento maravilhoso que não foi dado, por exemplo, aos refugiados da Síria e a outros. Foram os cristãos que disseram: isto não é justo! Não significa dar menos aos ucranianos, mas dar mais aos outros. E este é um fruto do Espírito nas nossas Igrejas.

 

Nas Igrejas do mesmo continente, há muitas diversidades e sensibilidades, e alguns percursos sinodais iniciados em algumas dioceses mostraram até agora um ritmo diferente de outras. Como alcançar aquele “caminhar juntos” que disse ser o primeiro objectivo do Sínodo e evitar um salto para a frente ou que alguém fique para trás?

Acredito que o próprio Sínodo é a resposta. Não temos igrejas nacionais, somos uma só Igreja, naturalmente com culturas e tradições diferentes. E temos que conversar uns com os outros, ouvir-nos uns aos outros, entender-nos uns aos outros. Talvez nos últimos anos as conferências episcopais nacionais tenham evoluído muito... É uma coisa boa! Mas há também a necessidade, a exigência de fazermos as coisas juntos. O caminho do Sínodo é uma oportunidade magnífica para ver o mosaico inteiro, não apenas uma pequena parte do meu país.

 

Após um ano de fase consultiva, o que é que aprendeu? E, sobretudo, vê alguma mudança até agora no que o Papa descreveu como um “processo”?

É justo citar as palavras do Papa Francisco porque o Sínodo é um caminhar juntos, uma escuta, sem medo da diversidade. Encontramos uma unidade que é muito maior do que a diversidade que agora vivemos. E estou feliz por termos chegado à fase continental. Estamos a escrever a história da Igreja.

 

Na fase continental prevê mais passos do que na etapa anterior?

Não vejo que haja mudanças definitivas, mas acho que devemos tentar ouvir todos e fazer com que todos se sintam ouvidos. Portanto, não apenas especialistas, não apenas aqueles que querem combater uma guerra na Igreja e assim por diante, mas realmente ouvir a todos e levar as pessoas a sério. Levar as suas respostas a sério, porque eles falam do quotidiano, do que vivem, do que os magoa, do que os faz felizes. E como posso ser pastor da Igreja se não sei de tudo isto? Acredito que o Sínodo deve continuar nessa direcção, também a nível local. Não é apenas uma questão de política da igreja, mas de questionar: como é que as nossas comunidades podem ser mais cheias de vida? Como é que podem realmente servir? Como podem cumprir a sua missão?

 

O Papa foi informado dos resultados desta primeira fase do processo sinodal?

O Cardeal Grech e eu mantemos o Santo Padre constantemente informado sobre o processo. E ele encoraja-nos a prosseguir: “Continuem!”.

Entrevista de Salvatore Cernuzio, publicada no Vatican News a 26 de Agosto de 2022.