Arquidiocese de Braga -

6 setembro 2022

Zuppi: política não é “conveniência e pequenos interesses”

Fotografia Ansa

DACS com Avvenire

Esperado pelos média para saber em quem é que a Igreja vai votar, o presidente dos bispos falou para toda a sociedade italiana, reflectindo sobre a paixão pelo ser humano.

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O “aplausómetro” de Rimini, cruz e delícia dos políticos que fazem fila para aparecer no Meeting, vai à loucura com o cardeal que não toma partido. Matteo Zuppi dialogou com Bernhard Scholz na tarde de Domingo, diante de um auditório lotado, sabiamente aquecido pelas citações afectuosas de Giussani, com o qual o purpurado deu a impressão de ter uma amizade, mais do que uma aliança.

O presidente da fundação Meeting retribuiu com um “certamente o iremos lembrar nas nossas orações” e, com essas palavras, deu voz ao abraço dos membros do movimento Comunhão e Libertação, que não paravam de aplaudir o presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI) e arcebispo de Santo Egídio.

Quem “seguramente” não ficará tão entusiasmado serão os partidos, que receberam do pastor de Bolonha mais instruções do que incentivos. Como a de não fazer da política apenas “conveniência e pequenos interesses”, porque, em vez disso, é o “amor político” que preocupa o Papa. A de fugir de personalismos e polarizações, que não permitem ver a complexidade do presente, e partir do bem comum. A de levar em conta as preocupações da Igreja com a educação, o trabalho, a paz e a família, assim como a “grande preocupação com o terceiro sector”.

O cardeal reiterou que este tema “interessa muito à Igreja porque é o fruto de muita paixão pelo humano, interpreta muitos sofrimentos, muitos desejos e, portanto, é um interlocutor importante, decisivo para as instituições presentes e futuras”. Outra indicação foi a de evitar a “intoxicação do individualismo” que “também gera nacionalismos”. E, naturalmente, “não se habituarem com o horror da guerra, da desumanidade”, porque “o mal divide-nos dos outros, isola-nos”.

Esperado pelos média para saber em quem é que a Igreja vai votar, o presidente dos bispos falou para toda a sociedade italiana, reflectindo sobre a paixão pelo ser humano – tema desta edição do Meeting – que o une a Giussani e ao seu movimento. Esta paixão deve traduzir-se num “esforço pela amizade social, para tecer a comunidade: a lição que as pandemias de Covid e da guerra nos deram é que dizem respeito a todos”, explicou.

O nosso problema é que este tempo é marcado, antes, por “paixões tristes”, que nos levam a confiar no algoritmo e a interpretar uma visão da vida “pornográfica”, baseada “no vitalismo e na performance, na autoafirmação ofensiva à fragilidade. Somos a geração que mais tem, mas é vazia de amor, com paixões tristes, e, nas paixões tristes, confiamo-nos a um algoritmo”, disse. “É um grande desafio, porque se não tivermos paixão pelo ser humano, no fim, o algoritmo é mais forte. Se há um deserto espiritual – concluiu – isso significa que há necessidade de água: a água da paixão que devemos procurar juntos”.

Pelo contrário, neste momento, predomina uma relação instrumental com os outros. “Por isso, não nos damos conta das questões e dos sofrimentos alheios e não entendemos que o nosso sofrimento também encontra uma resposta na partilha com os outros. Em vez disso, o individualismo faz-nos permanecer no nosso eu”.

É o terreno fértil dos nacionalismos, pois, sublinhou, “os medos nascem de um eu isolado, e o individualismo, que pareceria afirmar-nos, na realidade torna-nos fracos e torna o outro num concorrente, um adversário que eu não entendo, cuja pergunta não entendo. O individualismo, então, torna-se nacionalismo, um grande eu que se torna muitos «eus» isolados, enquanto é apenas ao descobrir o outro que o medo desaparece”.

Abrir o coração e a mente ao outro, chegando à ajuda do outro, é a conjugação evangélica do compromisso de Santo Egídio, assim como da pedagogia do Pe. Giussani, que evita mergulhar na guerra, pois, como escreve o Papa Francisco na Fratelli tutti, lembrada por Zuppi, “o princípio «salve-se quem puder» traduzir-se-á rapidamente no lema «todos contra todos»”.

A condição antropológica do homem digital, porém, não ajuda, explicou, e a alternativa é justamente interpretar a paixão pelo ser humano que emerge a partir do empenho de movimentos como o Comunhão e Libertação. “Desconfiamos de um cristianismo idealizado – disse –, são necessárias testemunhas credíveis, idosos que sonhem e que façam os jovens sonhar.”

No entanto, é preciso deixar claro que esta paixão pelo ser humano é como ele é: “O Pe. Primo Mazzolari – recordou Zuppi – dizia que não se ama o pobre como se quer, mas com todos os problemas e as contradições que ele possa ter”.

Artigo de Paolo Viana, publicado em Avvenire a 22 de Agosto de 2022.