Arquidiocese de Braga -

19 setembro 2022

Camarões: cinco padres, uma freira e dois leigos sequestrados no Sudoeste

Fotografia Diocese de Mamfe

DACS com La Croix

Num comunicado datado de 18 de Setembro, D. Andrew Nkea, presidente da Conferência Episcopal dos Camarões, anunciou o sequestro de cinco padres, uma freira e dois leigos.

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A Igreja Católica continua a sofrer os efeitos da crise anglófona na qual o extremo Oeste dos Camarões está envolvido há seis anos.

Na sexta-feira, 16 de Setembro, ocorreu um sequestro sem precedentes: cinco padres e uma freira, além de dois leigos, foram raptados da paróquia de Santa Maria de Nchang, na diocese de Mamfe, no Sudoeste do país, e a sua paróquia foi incendiada.

Reagindo a este sequestro, o Arcebispo Andrew Nkea, Arcebispo de Bamenda e Presidente da Conferência Episcopal dos Camarões, emitiu um comunicado de imprensa no Domingo, 18 de Setembro.

Neste texto, expressa o “grande choque” e o “horror total” dos bispos de língua inglesa reunidos na província eclesiástica de Bamenda.

“Actualmente, nenhuma razão concreta foi dada para este acto hediondo contra a casa de Deus e os mensageiros de Deus”, acrescentou no comunicado.

 

Sequestros e assassínios

Após este comunicado de imprensa, o Arcebispo de Bamenda recordou que desde o início da crise anglófona em 2016 que a Igreja tem sido alvo de ataques, actos de intimidação e sequestros no Noroeste e Sudoeste.

O “povo sofreu terrivelmente, e os homens e mulheres de Deus têm sido alvos fáceis de raptores, torturadores e homens armados sem escrúpulos”, denuncia D. Nkea, que destaca as perseguições e ameaças contra a Igreja Católica, assim como a Igreja Presbiteriana e Baptista nos Camarões.

Este novo sequestro de clérigos na parte anglófona dos Camarões acontece depois de, há um ano, o bispo Julius Agbortoko, vigário geral de Mamfe ter sido sequestrado a 29 de Agosto e libertado a 31 de Agosto de 2021. No início do mesmo ano, a 22 de Maio, o padre Christopher Eboka, director de comunicação dessa mesma diocese, foi sequestrado e libertado dez dias depois.

O cardeal Christian Tumi, falecido arcebispo emérito de Douala e principal mediador da crise anglófona, também foi sequestrado duas vezes (5 e 6 de Novembro de 2020, e depois a 30 de Janeiro de 2021). Assim como o bispo Michael Miabesue Bibi, actual bispo de Buea no Sudeste, sequestrado nos dias 5 e 6 de Dezembro de 2018, quando era bispo auxiliar de Bamenda.

Em 2019, D. Cornélio Esua Fontem, então Arcebispo de Bamenda, foi sequestrado a 25 de Junho e libertado a 26 de Junho.

A 23 de Novembro de 2018, quatro religiosos da Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria – mais conhecidos como Claretianos – tinham sido sequestrados com o seu motorista. Foram detidos por quatro dias e torturados por um grupo que suspeitou serem “espiões de Yaoundé”.

 

Assassínios

Além destes sequestros frequentemente atribuídos a tropas separatistas, há também assassínios de clérigos sobre os quais o exército regular e os separatistas se acusam mutuamente.

O padre Alexandre Sob Nougi foi morto a 20 de Julho de 2018 em Buea, e Gérard Anjiangwe, seminarista da diocese de Bamenda, morreu a 4 de Agosto do mesmo ano, em frente à igreja paroquial de Bamessing, morto por soldados do exército de acordo com a declaração oficial da sua diocese.

A 21 de Novembro de 2018, faleceu o padre Cosmas Omboto Ondari, missionário queniano.

 

Uma crise sem fim

A crise anglófona começou em 2016 com protestos de funcionários públicos anglófonos que se sentiam prejudicados pelo poder central em Yaoundé. De seguida, espalhou-se, em particular com o surgimento de muitos grupos separatistas, alguns dos quais reivindicam a independência desta parte do país.

Em 2019, após três anos de apelo ao diálogo, as autoridades dos camarões organizaram o Grande Diálogo Nacional, cujo objectivo era encontrar uma solução concertada para a crise anglófona.

A Igreja, que participou amplamente neste diálogo, também contribuiu para as trocas com as populações de língua inglesa sobre as suas resoluções. Três anos após esta reunião, os assassínios continuam na área de língua inglesa dos Camarões. Geralmente visam as escolas.

Artigo de Lucie Sarr, publicado no La Croix a 19 de Setembro de 2022.