Arquidiocese de Braga -
30 abril 2023
Uma vocação para os dias de hoje

DACS
Neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações trazemos o testemunho de um jovem missionário leigo. Marcelo Maia de Souza é missionário da Comunidade Católica Shalom.
Desde o dia 23 estamos a viver a Semana de Oração pelas Vocações, mas neste domingo, 30 de abril, se assinala de modo especial o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Na riqueza que é a diversidade dos dons e vocações que compõem a Igreja, trazemos o testemunho de uma vocação leiga de um jovem missionário. Marcelo Maia de Souza, 24 anos, é estudante de psicologia da Universidade Católica Portuguesa e missionário da Comunidade Católica Shalom.
Marcelo já é membro da Comunidade há seis anos e fez no dia 26 de fevereiro fez os votos como celibatário, em uma celebração na Basílica dos Congregados, em Braga.
A Comunidade Católica Shalom é uma associação internacional de leigos fiéis que nasceu em Fortaleza, no Brasil, no Nordeste, “aos pés do Papa João Paulo II, onde o fundador da comunidade Moisés Azevedo, ofertou a sua vida e escreveu uma carta dizendo que queria ofertar toda a sua vida a Deus, a Igreja, em vista da evangelização dos jovens. Hoje tem 40 anos de fundação e com membros espalhados pelo mundo inteiro”, explicou Marcelo.
O DACS foi conversar com Marcelo para conhecer um pouco mais sobre a sua vocação. (veja um trecho da entrevista em vídeo)
Como descobriu a Comunidade? Tinha formação católica?
Minha família sempre foi católica, ia às missas dominicais. Porém, chegou um tempo em que deixaram de praticar e eu continuei na catequese. Porém, quando chegou a época do crisma, fui embora da Igreja por um ano, fiquei afastado. Até que depois tive a experiência de ir à uma missa e lá recebi o convite de alguns jovens para para um convívio. A partir daquele convívio conheci jovens que viviam uma vida cristã e eram felizes.
Acreditava que não era possível ser jovem na Igreja e ter uma vida feliz. Ao aprofundar, conhecer aqueles jovens, descobri que eram missionários, que haviam deixado tudo, casa, família, para viverem um tempo de missão. Naquele dia em que os conheci, veio-me uma pergunta e acredito que esta foi a minha primeira experiência com Deus.
A pergunta, era assim que Deus colocava no meu coração: ‘O que é que esses jovens tem que eu não tenho?’ Porque esses jovens são felizes tendo pouco ou vivendo uma vida tão simples e eu, que tenho tudo, na medida do possível, não sou tão feliz como eles? Depois de um tempo de convívio, participei de um acampamento para jovens e naquele acampamento, a partir de uma experiência no Espírito Santo, descobri que aqueles jovens tinham a Cristo, viviam uma vida em Cristo, uma alegria diferente, que partia desta intimidade com Deus.
Conheci o amor de Deus e aquilo transformou o meu coração a ponto de responder aquela primeira chamada de Deus. A resposta que eu dava era: ‘Eu também quero viver uma vida no Espírito, esta alegria plena, uma alegria que não passa.’ Conheci um outro rosto da igreja, um rosto onde os jovens podem viver nessa sua dinâmica.
Eles eram missionários da comunidade?
Eram jovens da comunidade, que doaram um ano da sua vida, moravam numa casa própria, viviam somente para a evangelização. Gastavam as tardes de evangelização. Foi a minha primeira experiência, por assim dizer, concreta e profunda, com Deus, já na Comunidade Católica Shalom.
O que o levou a querer largar tudo também? Como foi esse passo?
A partir daquele acampamento de jovens, em que dei essa resposta a Deus, também quiz viver uma vida no Espírito, uma vida para Deus e pedi para a comunidade para ser missionário, nessa dinâmica da oferta de vida e dar minha vida para aqueles que necessitam, partir em missão se for preciso.
Fui direcionado a uma vivência de um ano vocacional, onde aprofundava quem sou, primeiro nessa minha experiência humana vocacional de reconhecer ser filho de Deus, batizado dentro da Igreja Católica e a partir daí, sendo chamada a uma vocação específica, no caso, como Comunidade Católica Shalom. E como viver a vocação? Partindo em missão. Indo para onde for preciso? Ou vivendo uma vida inserida no meio secular?
Atraía-me esta vivência no meio secular, na vivência como leigo pode testemunhar e evangelizar no mundo em que vivemos hoje, tão difícil, onde a Igreja não consegue hoje adentrar lugares específicos, como uma sala de aula, onde vários jovens onde vão vivendo em ideologias e tudo mais. E um jovem pode ter um testemunho de vida pela vivência missionária, estar lá como leigo, testemunhando que Cristo ressuscitou.
Na comunidade há um caminho, certo?
Dentro do carisma Shalom os irmãos podem viver um dos três estados de vida, o matrimônio, o sacerdócio e também o celibato pelo reino dos céus. Dentro desse percurso há diferentes momentos. O momento inicial foi o vocacional, depois alguns anos como um postulante, onde fui conhecendo os fundamentos do carisma.
Depois tive um tempo de discipulado ou noviciado, e que alguns costumam dizer, que é um tempo onde também se aprofunda o seguimento de Jesus, o que é propriamente essa vida mais estreita, dentro de um carisma. E depois fiz uma promessa de consagração, com promessa de pobreza, obediência e castidade. Também aprofundamos, depois disso, ao consolidar a nossa vida consagrada como leigos, vamos consolidar também o estado de vida.
Nesse processo, também durante o tempo, vi qual o chamado de Deus, o que Deus foi conduzindo na minha vida e sentia-me chamado ao celibato pelo Reino dos céus. Já não bastava o grande amor de Deus que vivi, mas também encontrar no celibato uma forma ainda mais inteira e integral para Cristo e para a Igreja, para a evangelização.
Muitas pessoas nem sabem que como leigo se possa fazer essa escolha…
Como um jovem, um leigo, isso para o mundo é um grande escândalo, uma grande loucura. Como assim um jovem leigo que poderia ter tantos outros caminhos, decide viver uma vida celibatária?
Ao rezar com isso, ia me aprofundando a história da Igreja. A cada tempo Deus vai suscitando no coração de homens e mulheres várias formas de vida.
Num tempo da Igreja Deus chamou alguns de forma mais radical a viver a pobreza. Temos São Francisco de Assis. Depois de um tempo veio Santa Teresa de Jesus, por exemplo, com a revolução nos Carmelos, a questão da obediência, o chamado da obediência para a santidade.
Meditei na minha vida que para o tempo de hoje, onde a própria Igreja vive várias crises na área afetiva, da castidade, e o mundo também, pela busca do prazer, do hedonismo, e vi o celibato como a resposta para o mundo de hoje. Para mim é uma grande alegria, uma grande graça de testemunhar a castidade.
Para sua família, seus amigos, como foi quando entrou na comunidade?
Pois na minha família foi assim…eles eram católicos, mas não entendiam muito bem, sempre vinha aquela frase - ‘para ser cristão não precisa viver tudo isso’. Mas para ser cristão é preciso viver uma radicalidade, é preciso viver uma experiência diária com Cristo. E é engraçado, porque o jovem busca essa intensidade e muitos até falavam - ‘não é só por um tempo, isso aí vai passar’ e eu dizendo assim: Deus queira que não passe! Mas vejo que esta graça vai se atualizando a cada dia, e, se Deus quiser, não passará.
E agora, conseguiram acolher bem ao seu chamado?
É engraçado porque uma das grandes características do leigo de evangelizar no meio secular é também evangelizar dentro da família. E depois de seis anos dentro da Comunidade, acho muito belo como a minha família tem um novo olhar para mim como missionário, onde podem ter um apoio de Deus dentro da família. Quando acontece alguma coisa, dizem ‘vamos falar com Marcelo, vamos pedir oração’, porque eles encontram uma referência de Deus e, graças a Deus, porque esse é o nosso chamado.
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