Arquidiocese de Braga -
27 maio 2024
Frei Bernardo de Vasconcelos a caminho dos altares
DM - Jorge Oliveira
Santa Sé aguarda milagre por intercessão do Venerável para o declarar beato
Com o processo de beatificação e canonização a decorrer em Roma, o Venerável Frei Bernardo de Vasconcelos, da Arquidiocese de Braga, que faleceu na flor da idade com fama de santidade, “caminha a passos largos para os altares”. A Santa Sé espera a confirmação de um milagre por sua intercessão para o poder declarar beato.
O percurso de vida de Bernardo de Vasconcelos, patente na sua poesia mística, as suas virtudes cristãs e o exemplo de superação e entrega que deixou vão ser evidenciados pelo postulador da causa, o monsenhor Mário Rui de Oliveira, no 5.º Congresso Eucarístico Nacional, num painel, no dia 1 de junho, intitulado “Eucaristia e Santidade”, dedicado aos participantes no 1.º Congresso Eucarístico Nacional com processos de canonização em curso.
Nascido em S. Romão do Corgo, concelho de Celorico de Basto, este poeta místico e monge beneditino destacou-se pela profunda e estreita relação com Deus e capacidade de ultrapassar enormes adversidades que lhe advinham da sua doença incurável.
Apesar de ter falecido jovem, a poucos dias de completar 30 anos, Bernardo de Vasconcelos deixou uma importante obra poética de inspiração cristã. Um dos livros que escreveu, “Cântico de Amor”, foi publicado no próprio dia do seu falecimento.
Declarado Venerável a 14 de junho de 2016 pelo Papa Francisco, Frei Bernardo de Vasconcelos é um dos modelos mais recentes de santidade na Arquidiocese de Braga, tendo sido apresentado, em 23 de julho de 2023, como patrono dos jovens bracarenses na sua caminhada rumo à participação na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa.
O Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, e o postulador da Causa de Canonização do Frei Bernardo de Vasconcelos, monsenhor Mário Rui de Oliveira, têm exortado frequentemente os cristãos para pedirem a Deus que conceda a graça de um milagre operado por intermédio deste religioso para que possa subir aos altares, “como o santo da juventude portuguesa”.
“Se alguém conhecer ou souber de algum milagre operado por intercessão do Frei Bernardo de Vasconcelos tem o dever de o comunicar, porque esse é o sinal que a Igreja neste momento nos pede para que possa ser beatificado e depois canonizado, uma vez que já é declarado Venerável”, disse
D. José Cordeiro na missa comemorativa dos 90 anos do falecimento do Frei Bernardo de Vasconcelos, na igreja de S. Romão do Corgo, em julho de 2022.
Com saúde frágil desde a infância, a vida de Bernardo “tornou-se um calvário cheio de sofrimento e dores insuportáveis”, mas ele “nunca se lamentou” ao longo da vida e “cumpria sempre as suas obrigações de monge. (...) Rezava todos os dias o Breviário, meditava, recitava o terço e comungava sempre que um sacerdote lhe podia levar a Eucaristia”, conta o monsenhor Mário Rui de Oliveira, no seu livro “O frei Bernardo contado aos jovens”.
Aluno exemplar, estudou Direito na Universidade de Coimbra (1924), sonhou fazer carreira na Marinha, trabalhou num banco e ponderou contrair matrimónio antes de se fazer monge beneditino.
Faleceu aos 29 anos, vítima da doença de Mal de Pott, deixando imensos sinais de santidade e poesia. Exemplo disso é o seu livro “Cântico de Amor”, que não chegou a ver publicado.
O escritor Teixeira de Pascoaes (1877-1952), que trocou correspondência com o Frei Bernardo de Vasconcelos e desejou escrever a sua biografia, foi dos primeiros a intuir os escritos do jovem de S. Romão do Corgo e sobretudo a sua vida mística.
Entusiasta da poesia de Bernardo, incentiva-o a não desistir de escrever comparando mesmo os seus versos a «perfeitas orações».
Teixeira de Pascoaes terá sido o primeiro devoto a testemunhar a fama de santidade do monge beneditino em vida.
“Peregrinou ao seu túmulo como um autêntico peregrino, prometendo-lhe ‘eterno culto’ (certamente poético) e guardando do saudoso poeta e amigo ‘uma singela medalha de Nossa Senhora’ que lhe pertenceu e ‘outra relíquia com o seu retrato’ que o acompanhou à sepultura”, conta o postulador das Causa de Beatificação e Canonização do Venerável num texto apresentado no I Congresso Internacional de Espiritualidade e Mística que se realizou no Bom Jesus, em Braga, de 24 a 27 de abril deste ano.
A Positio, documento que resume a vida, as virtudes e a fama da santidade do Servo de Deus, dá conta que foram recolhidas e examinadas 486 cartas onde Bernardo se revela um cristão místico.
“A sua intimidade com Jesus foi transformando e amadurecendo o seu caráter, de modo a fazer dele, na verdade, um Santo”, diz o monsenhor António Manuel Machado de Saldanha e Albuquerque, oficial da Congregação das Causas dos Santos, no prefácio do livro “O Frei Bernardo contado aos jovens”, da autoria do monsenhor Mário Rui de Oliveira.
Tiveram um papel fundamental na vocação de Bernardo a sua irmã Maria Bárbara, o presidente do Centro Académico da Democracia Cristã (CADC), José Augusto de Queirós Ribeiro Vaz Pinto (1903-1985), o padre Gonçalves Cerejeira, futuro Cardeal Patriarca de Lisboa (1888-1976), e o padre Luís Lopes de Melo (1885-1951), assistente eclesiástico do CADC.
Na naturalidade e simplicidade, com a sua alma “profundamente mística e espiritual”, Bernardo de Vasconcelos foi um “herói” que atravessou um caminho “penoso”, lutando contra a doença até morrer.
“Sabia que foi sempre muito amado por Jesus e, por isso, assumiu as belezas e os dramas da vida, com o coração fortalecido e purificado no amor por Jesus e por aqueles que ele foi conhecendo”, assinala o monsenhor António Manuel Machado de Saldanha e Albuquerque.
A forte devoção de Bernardo a Jesus Eucaristia fez com que fosse eleito presidente da Liga Eucarística dos Estudantes. Mais tarde, o seu apego à Ordem Beneditina levou-o a escrever um livro sobre a vida do fundador, São Bento.
A sua vida foi um exemplo de superação do sofrimento e de entrega a Deus.
“Bernardo fez o que aprendeu de Jesus: doou a sua vida, o seu sofrimento atroz, por amor a Deus e pela Ordem beneditina. A grandeza do Bernardo foi não procurar um remédio sobrenatural contra o sofrimento, mas um uso sobrenatural dele. (…) O sofrimento do Bernardo não o fez refém, mas libertou-o para voar mais alto até se identificar com o destino de Jesus que morreu por amor à humanidade.(...) Ele sabia que a sua dor era um caminho de amor e de santidade. Nunca desistia porque era um resistente, alimentando-se da sagrada Eucaristia, sonhando com a cura e escrevendo os seus poemas”, sintetiza o monsenhor Mário Rui de Oliveira.
Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos nasceu em S. Romão do Corgo em 7 de julho de 1902. Aos 10 anos ingressa no Colégio dos beneditinos em Lamego, juntamente com dois dos seus irmãos. Foi lá que recebeu a Primeira Comunhão. De Lamego vai para Coimbra e, em 1918, aos 16 anos, vive um ano espiritualmente difícil. Sem saber o que estudar, pensou em ir para o estrangeiro, mas conseguiu matricular-se na Universidade de Coimbra, cidade onde conhece um grupo de jovens católicos do Centro Académico da Democracia Cristã de Coimbra (CADC).
Como o seu aproveitamento escolar deixava a desejar, o pai mandou-o para o Porto, onde trabalhou num banco. Na Invicta frequentou aulas de Estética e Belas Artes e aí toma contacto com a poesia.
Chega apaixonar-se por uma jovem e ainda pensa no matrimónio, mas a sua vocação era outra. De regresso a Coimbra, reencontra-se com o CADC e os amigos e a poesia e inscreve-se na Conferência de São Vicente de Paulo.
Nos inícios de novembro de 1923 toma decisão de abandonar a vida académica para enveredar pela vida religiosa. Entra para a Ordem de São Bento em 1924, fazendo o noviciado na Abadia de Samos, na Galiza, Espanha, adotando o nome Frei Bernando da Anunciada.
Nesse ano, participa em Braga no I Congresso Eucarístico Nacional. Enquanto vice-presidente do Centro Académico de Democracia Cristã de Coimbra, Bernardo de Vasconcelos proferiu uma comunicação na sessão solene do Congresso intitulada “O Ideal Cristão”.
Como tinha o sonho de ser sacerdote mas faltava-lhe o curso de Teologia, vai para a Bélgica. Um mês depois é-lhe diagnosticada a doença de “mal de Pott” (uma espécie de tuberculose vertebral) que o impediu de iniciar os estudos de Teologia.
Admitido à profissão Solene e definitiva, regressa ao Porto, retoma os estudos de Teologia e, em 1929, recebe as ordens menores. Quando estava muito próximo da ordenação presbiteral, o seu estado de saúde volta a piorar. Entretanto, de Roma chegava a licença para o Frei Bernardo poder ser ordenado Subdiácono e Diácono, mas as forças do jovem monge faltavam.
A 4 de julho de 1932, a três dias de completar 30 anos, morre na Foz do Douro, Porto, onde vivia. Os seus restos mortais estão na capela de Nossa Senhora das Dores, na igreja de S. Romão do Corgo, aonde todos os anos se realizam romagens para veneração do Frei Bernardo, por ocasião da data do seu falecimento.
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