Arquidiocese de Braga -
29 maio 2024
Um dia a Igreja vai oficializar a santidade de Alexandrina
DM - Jorge Oliveira
Santa Sé aguarda confirmação de milagre por intercessão da Beata para a pronunciar santa
O 5.º Congresso Eucarístico Nacional, que irá decorrer em Braga, de 31 de maio a 2 de junho, vai recordar seis clérigos e religiosas portugueses que participaram, há 100 anos, no 1.º Congresso Eucarístico Nacional (em Braga) e que têm processos de canonização em curso, num painel com o mote “Eucaristia e Santidade”. O Diário do Minho inicia hoje um trabalho sobre essas personalidades.
Uma das religiosas que irá ser evocada é a Beata Alexandrina de Balasar, numa conferência a cargo do professor Alexandre Freire Duarte, autor das “Obras Completas de Alexandrina Maria da Costa”.
Estando o processo de canonização em curso na Congregação das Causas dos Santos, falta a graça e o reconhecimento de um milagre para a bem-aventurada Alexandrina ser declarada santa.
Questionado se o 5. º Congresso Eucarístico Nacional poderá, de alguma forma, contribuir para a elevação de Alexandrina de Balasar aos altares da Igreja universal, Alexandre Freire Duarte, que é docente da Faculdade de Teologia (FT) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), respondeu que “é possível”, embora considere que o Congresso não tem essa finalidade, nem que a elevação [de Alexandrina a santa] deva estar vinculada ao que vier a ser esse mesmo evento.
“Claro que o dar-se a conhecer Alexandrina Maria da Costa poderá incrementar o número de pessoas que poderão pedir a Deus - pela intercessão descendente (Deus a agir comunicando o Seu amor através da modulação da personalidade de Alexandrina) e eventualmente ascendente (pedir a Alexandrina que, na comunhão dos santos em Jesus, interceda por algum desejo a si formulado) daquela - a realização de algo que configure um ‘milagre’ - condição genérica, mas não totalmente restritiva, para que ocorra uma eventual canonização”, reconheceu.
Para o professor Alexandre Freire Duarte, “mesmo que não ocorra um milagre, ninguém tira a verdadeira santidade a Alexandrina”.
O pároco de Balasar e presidente da Fundação Alexandrina de Balasar, da Arquidiocese de Braga, está convicto de que um dia “a Igreja vai proclamar oficialmente a santidade de Alexandrina”.
“Neste momento ainda não existe nenhum milagre que a Igreja exige para proclamar a canonização de Alexandrina. Muitas graças são concedidas, às quais as pessoas chamam milagres, mas para a igreja ainda não são os milagres exigidos para a canonização. Continuamos a rezar e a trabalhar para que chegue a hora de Deus para conceder à Igreja esta proclamação”, nota o padre Manuel Casado Neiva.
Alexandrina Maria da Costa deixou vários escritos que nos falam da sua vida e da sua espiritualidade intimamente ligadas à mística da Cruz Eucarística. Porém, pouco se sabe sobre o papel que a jovem devota de Balasar teve no 1.º Congresso Eucarístico Nacional, em 1924, tinha 20 anos, ou que marca deixou neste mesmo evento, onde participou outro jovem místico da Arquidiocese, o Venerável Frei Bernardo de Vasconcelos.
“Há quem conjecture, de modo infundamentado, sobre imensas coisas, mas os dados escritos de que dispomos são muito indiretos e provindos de um género literário que aconselha o máximo de cautela. Cautela esta, a ser incrementada pelo facto desses dados versarem sobre uma vivência não ocorrida em vigília”, diz Alexandre Freire Duarte.
Volvidos 100 anos, Alexandrina de Balasar regressa ao Congresso Eucarístico Nacional e a Braga, não fisicamente, mas numa evocação e reflexão desenvolvida pelo professor Alexandre Duarte Freire que é o responsável pela secção de estudos científicos da Fundação Alexandrina de Balasar.
Para o padre Manuel Casado Neiva, o 5.º Congresso Eucarístico Nacional, bem como outros congressos e jornadas teológicas onde Alexandrina tem sido objeto de estudo e conferências, “são belas e grandes oportunidades que muito contribuem para melhor conhecer a mensagem que Deus nos transmite por intermédio de Alexandrina”.
A pesar da beata ser conhecida e ter devotos por todo o mundo, o pároco de Balasar refere que “não basta conhecer alguns factos da vida de Alexandrina”. “É necessário conhecer a grande mensagem que ela nos legou com a sua vida e seus escritos e tudo isto contribui para a elevação e conhecimento de Alexandrina”, acrescenta.
Desafiado a indicar de que forma pode a Igreja apresentar e tornar mais conhecidas as virtudes de Alexandrina de Balasar, sobretudo junto dos mais jovens, o sacerdote nota que existe um “grande manancial de escritos místicos” deixados por Alexandrina através dos quais é possível “conhecer a sua caminhada de Fé rumo à Santidade, e a sua experiência mística”.
Recorde-se que a Fundação Alexandrina de Balasar e o santuário assinaram um protocolo com a Universidade Católica de Braga, com a finalidade de um teólogo, formado em mística, no caso o professor Alexandre Freire Duarte, estudar os textos para serem publicados. Até agora já foram publicados seis volumes.
Além disso, lembra o padre Manuel Casado Neiva, a pastoral do santuário tem um programa pastoral/catequético para crianças, jovens e adultos, acompanhado por pessoas “devidamente preparadas”, e que essa pastoral “felizmente, tem sido visitada por grupos de catequese de várias paróquias”, dando a conhecer e difundindo a mensagem de Alexandrina.
“A Igreja ainda vive muito dos santos do passado. Sem esquecer estes, deve conhecer os atuais, e muitos são jovens. A nossa Diocese tem várias figuras com vida e exemplo de santidade. É necessário dar a conhecê-las”, acrescenta o pároco de Balasar.
No entender de Alexandre Freire Duarte, as virtudes de Alexandrina podem chegar aos conhecimento dos jovens pondo-os a viver as Bem-Aventuranças, ou seja, os ensinamentos que Jesus pregou para ensinar e revelar aos homens a verdadeira felicidade.
“Se se der a conhecer aos jovens o essencial de Alexandrina, estar-se-á a orientá-los para o Único que pode realizar genuinamente as suas aspirações. Os jovens ‘estão cansados de promessas de amor’. A Igreja, ao longo do tempo, foi ‘perdendo’ diversos grupos sociais a quem tarde e por vezes de forma muito desajeitada foi tentando chegar. Não podemos correr o mesmo risco com os jovens. Ponhamos os jovens a viver as Bem-Aventuranças - esse raio-X ao coração de Jesus. Será desse modo, e não pelo processo inverso, que eles acabarão por conhecer vivencialmente as virtudes de Alexandrina”, sustentou.
E só amando e ensinando a amar, acrescenta o docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, é que podemos viver nos dias de hoje o lema de vida de Alexandrina: “Amar, Sofrer, Reparar”.
“Amar é ‘o meu eu verdadeiro fazer o bem verdadeiro ao eu verdadeiro de quem amo’. Quem ama vive inevitavelmente as duas outras atitudes do lema de Alexandrina. De facto, quem ama não foge das consequências do seu amor. Consequências essas que podem causar sofrimento para ele, embora a maior parte das vezes comportem júbilo. Por outro lado, quem ama tudo faz para proteger a quem ama, e se vir o seu amado ferido tudo encetará para o sanar”, explicou.
É unânime no seio da Igreja de que o conhecimento e a difusão da mensagem de Alexandrina Maria da Costa terão um grande incremento com o Santuário Eucarístico e Centro Cultural Beata Alexandrina, cuja empreitada já começou há algum tempo.
Quem visitar Balasar já verá as paredes praticamente erguidas, mas ainda não há uma estimativa de quanto tempo demorará a fazer esta obra a cargo da Fundação Alexandrina de Balasar e promovida pela Arquidiocese de Braga.
“A obra é grande, e o projeto exige muitas especialidades”, nota o padre Manuel Casado Neiva.
Alexandrina Maria da Costa nasceu na freguesia de Balasar, concelho da Póvoa de Varzim, no dia 30 de março de 1904. Pregada ao leito desde os 21 anos, por mielite na coluna dorsal, faleceu com fama de santidade, aos 51 anos, em 13 de outubro de 1955, dia do aniversário da última aparição de Nossa Senhora em Fátima.
Reconhecida a heroicidade das virtudes da Seva de Deus, em 31 de janeiro de 1983 foi assinado o decreto de introdução da causa de beatificação na Congregação para as Causas dos Santos.
No dia 12 de janeiro de 1996 Alexandrina Maria da Costa era declarada Venerável por aquele organismo da Santa Sé.
Em 2002, D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga de então, constituiu um tribunal encarregado de estudar a possível cura miraculosa, após 12 anos de sofrimento, de Maria Madalena Azevedo Gomes Fonseca, uma senhora residente em Esmeriz, Famalicão, por intermédio de Alexandrina de Balasar.
No dia 25 de abril de 2004, a “santinha de Balasar”, como era chamada Alexandrina, foi beatificada em Roma pelo Papa S. João Paulo II.
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