Arquidiocese de Braga -

30 maio 2024

Homilia da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

D. Ivo Scapolo, Núncio Apostólico
Fotografia DR

Sé Catedral de Braga, 30 de maio de 2024

Homilia da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo
 

Excelentíssimo D. José Garcia Cordeiro, Arcebispo Primaz de Braga
Excelentíssimos Bispos
Reverendos Cónegos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosos e Religiosas
Queridos Seminaristas Distintas Autoridades
Queridos irmãos e irmãs no Senhor Ressuscitado

Quero em primeiro lugar agradecer ao Ex.mo Arcebispo Primaz por me ter convidado, como Representante do Santo Padre em Portugal, a presidir esta solene Santa Missa na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. É um louvável gesto que expressa e robustece a comunhão desta Comunidade da Arquidiocese de Braga com o Santo Padre, Vigário de Cristo e Sucessor do Apóstolo Pedro, sobre o qual Jesus Cristo quis fundar a Sua Igreja. Este gesto de unidade eclesial adquire um sentido mais especial porque se realiza na ocasião da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, do Mistério Eucarístico que constitui a fonte da vida da Igreja e fortalece a sua unidade com Cristo e unidade entre todos os membros da Igreja.
A Solenidade que hoje celebramos é um momento de graça no qual temos a possibilidade de entender sempre mais como o fato de receber o Corpo e a Sangue de Jesus nos permite de realizar o que Jesús recomendou aos seus discípulos com as seguintes palavras: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós» (Jo 15, 4). É uma inabitação mútua de Cristo e do discípulo, que transforma em realidade o que Jesus explicou quando disse: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará. (…) O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15,1.4-5).
Permanecer em Jesus e permitir que Ele permaneça em cada um de nos: esta é a essência da vida de um cristão, que inicia esta experiência de mútua inabitação mediante o sacramento do Bautismo e a fortalece mediante a celebração dos sacramentos, todas experiências de encontro e de união com Jesus. Mas entre os Sacramentos, a Eucaristia é o Sacramento por excelência para viver e fortalecer esta unidade com Jesus que, mediante o Espírito Santo, nos permite de produzir os frutos que Deus Pai espera de nos; são sobre tudo aqueles frutos que São Paulo elenca no Cap. 5° da Carta aos Gálatas: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. (Gal 5,22-23). Todos frutos da comunhão com Jesus Cristo!
São frutos que somos chamados a produzir abundantemente na nossa vida quotidiana para contribuir à realização do Reino de Deus. De fato há que louvar a Deus por todos estos frutos que os cristãos produzem na própria vida pessoal, familiar, eclesial, profissional e social. São frutos que também nos, aqui presentes, produzimos todos os dias e saboreamos porque oferecidos por nossos irmãos na fé. Podemos chama-los os frutos da Eucaristia porque nascem daquela mútua inabitação da qual falava Jesus como condição fundamental dizendo: “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). É importante reconhecer estos frutos que Deus distribui continuamente graças a fecundidade do Corpo e Sangue de Cristo que os cristãos recebem na Comunhão eucarística. Mas devemos perguntar-nos também: porque há cristãos que recebem o Corpo e Sangue de Cristo e depois não produzem bons frutos ou até causam escândalo com uma conduta que contrasta com o exemplo de Jesus Cristo? É possível individuar várias causas, como as seguintes:
= Uma causa é a superficialidade: é o fato de não entender verdadeiramente que a celebração da Santa Missa e a Comunhão Eucarística são momentos fundamentais na vida de um cristão. As vezes as pessoas não entendem que é um momento de real comunhão com Jesus que pide de o seguir e imita-lo, Ele que derramou o seu sangue pela multidão dos homens. Portanto é provável que depois as suas vidas não sejam coerentes com o que aconteceu na celebração da Eucaristia.
= Outra causa é a rotina: é o fato de participar à Santa Missa e receber a Santa Eucaristia como algo feito com monotonia, porque faz parte do ritmo da própria vida pessoal, familiar e eclesial, feito porque o fazem também os outros, ou até feito por aparecer, sem convicção, sem entusiasmo.
= Uma causa mais da falta de “frutos Eucarísticos” é a falta de coerência entre o que dizemos e fazemos, entre a postura que temos num ambiente eclesial e a conduta que temos no ambiente familiar, laboral e social.
= Uma frequente causa da infecundidade da vida dos cristãos que celebram habitualmente a Eucaristia é constituída também pelas distrações, não devidamente controladas mediante boas condutas como  as  seguintes:  chegar  a  Igreja  um  tempo adequado antes da celebração; silenciar ou, melhor apagar, os telemóveis; ler com anterioridade as leituras da Santa Missa; esforçar-se de controlar os pensamentos que involuntariamente passam pela mente.
= Mas uma das causas que não permitem a produção de bons frutos, não obstante o fato de receber a Santa Eucaristia, é o estado do pecado e de desordem interior no qual um cristão se encontra. Uma planta atingida por uma enfermidade grave não produz frutos ou os produz de baixa qualidade. Entendemos, por tanto, come seja importante o que recomenda a Igreja: receber o Pão Eucarístico si estamos num estado de graça, que é assegurado pelo Sacramento da Penitência celebrado com a devida frequência. Não pensamos de não ter pecados; o problema é que somos incapazes de reconhece-los. São João, na sua Primeira Carta, afirma: “Se pensamos não ter pecado, nós o declaramos mentiroso e a sua palavra não está em nós” (1 Jo 1,10). Preocupam, portanto, aquelas comunidades cristãs nas quais muitos recebem a Santa Comunhão, mas poucos celebram o Sacramento da Penitência. Não olvidemos, a este respeito, as palavras de São Paulo aos Coríntios: “Todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor” (1 Cor 11,27).

Pedimos, portanto, ao Senhor que nos ajude a nos liberar destas e outras condutas que não permitem uma verdadeira mútua inabitação entre nos e Jesus, impedindo que as nossas Celebrações Eucarísticas produzam os bons frutos do Espírito Santo.
As reflexões que acabo de fazer são somente um exemplo das muitas considerações que deveríamos fazer para conhecer e apreciar sempre mais o enorme dom que Deus Pai, pelos méritos do seu Filho Jesus e pela obra do Espírito Santo, nos concede mediante o Mistério Eucarístico. Trata-se de um Mistério tão grande e de uma realidade tão sublime, que nossas mentes dificultam entender em toda a sua riqueza e que, portanto, necessitam duma contínua reflexão, meditação e contemplação. O mesmo Congresso Eucarístico Nacional, que se realizará nos próximos dias mesmo aqui em Braga, com a participação das delegações de todas as Dioceses portuguesas, acompanhadas pelos seus Bispos, será uma nova ocasião para entender e fazer tesouro deste grande dom que Deus quis conceder não só à Igreja, mas a toda a humanidade.
+ Ivo Scapolo Núncio Apostólico