Arquidiocese de Braga -

20 setembro 2024

A esperança é sempre peregrina

Fotografia DR

Homilia de D. José Cordeiro no Encontro Comissão Jovens CCEE, em Santiago de Compostela, a 20 de setembro, que tem como tema “Jovens fortes e alegres na Esperança. Testemunhas de Cristo hoje na Europa”

 Jesus, o peregrino dos peregrinos

O texto evangélico que escutamos comunica o programa missionário de Jesus: «Jesus ia caminhando por cidades e aldeias, a pregar e a anunciar a boa nova do reino de Deus» (Lc 8, 1). Ser cristão é estar em caminho, isto é, ser peregrino. Peregrinar é uma atitude de esperança para recomeçar cada dia.

O simpósio europeu que nos congrega aqui em Santiago de Compostela, lugar simbólico de peregrinação, constitui um alento de esperança a «viver a doce e reconfortante alegria de evangelizar» (Evangelii Nuntiandi 80). Com efeito, a Igreja, ou é missionária ou não existe. 

O programa vital é o de fazer, sair e recomeçar uma estrada com Jesus Cristo, isto é, sair do espelho. Estamos a viver uma mudança epocal que exige um maior discernimento a todos e a cada um. Por isso, «a sinodalidade implica o carácter peregrino da Igreja» (P. Coda) e «a pastoral juvenil só pode ser sinodal» (CV 206).

A Igreja é peregrina de esperança. A esperança é sempre peregrina. A alegria da esperança, “jovens fortes e alegres na Esperança”, é não esperar para ter alegria, mas esperar porque se tem alegria. 

 Martírio: testemunho forte e alegre em Jesus

O Papa Francisco recorda-nos: «o que para nós é essencial, mais belo, mais atraente e ao mesmo tempo mais necessário é a fé em Cristo Jesus» e, ainda: «Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo!». Com efeito, Jesus Cristo é o jubileu de todos os dias.

Viver na busca do essencial é essencial. Mas, o que é essencial?

Na verdade, «se a Igreja visível de hoje não é a Igreja “apostólica”, não continua realmente a missão de Cristo e não é a Sua Igreja» (H. Du Lubac).

Hoje celebramos a Memória dos santos André Kim Tae-gon, presbítero, Paulo Chong Ha-sang e companheiros, mártires na Coreia. Conforme regista o Martirológio Romano: «Neste dia veneram-se na mesma celebração todos os cento e três mártires que na Coreia deram testemunho da fé cristã, neste reino introduzida primeiro por iniciativa de alguns leigos fervorosos e depois alimentada e fortalecida pela pregação dos missionários e a celebração dos sacramentos. Todos estes atletas de Cristo – entre os quais três bispos, oito presbíteros e todos os outros leigos: homens e mulheres, casados ou não, anciãos, jovens e crianças – suportando o suplício, consagraram com o seu precioso sangue os primórdios da Igreja na Coreia».

Na exortação Christus vivit sublinha-se este chamamento à amizade com Jesus Cristo: «O fundamental é discernir e descobrir que aquilo que Jesus quer de cada jovem é, antes de mais, a sua amizade. É esse o discernimento fundamental. No diálogo do Senhor ressuscitado com o seu amigo Simão Pedro, a grande pergunta era: «Simão, filho de João, tu amas-me?» (Jo 21,16). Quer dizer: Queres-me como amigo? A missão que Pedro recebe de cuidar das suas ovelhas e cordeiros estará sempre ligada a esse amor gratuito, a esse amor de amizade» (n. 250).

A vocação é a resposta que damos ao amor de Deus, o menos mal possível.

 Levar Jesus a todos

A grande vocação da Igreja e igualmente o maior sonho da Igreja é evangelizar, isto é, levar Jesus a todos. Os sonhos: fazem-nos voar alto; cultivam a esperança; desejam a beleza; tornam reais as coisas impossíveis. Sonhar é a voz do amor.

Sentimos a necessidade e um renovado anúncio, mesmo para quem já é batizado. São João Paulo II já tinha advertido na sua exortação Ecclesia in Europa: «Muitos europeus contemporâneos pensam que sabem o que é o cristianismo, mas realmente não o conhecem. Frequentemente ignoram os próprios rudimentos da fé. Muitos batizados vivem como se Cristo não existisse: repetem-se gestos e sinais da fé sobretudo por ocasião das práticas de culto, mas sem a correlativa e efetiva aceitação do conteúdo da fé e adesão à pessoa de Jesus. Em muita gente, as grandes certezas da fé foram substituídas por um sentimento religioso vago e pouco comprometido».

Sair, evangelizar e discipular são verbos ativos no nosso caminho de Páscoa. De uma Igreja de cristandade a uma Igreja em missão. 

Sonhamos uma Igreja em atitude permanente de oração, formação, renovação e missão, cada vez mais atenta a todas as pessoas e aos sinais dos tempos. 

Sonhamos uma Igreja que sinta, viva, partilhe e se empenhe a ajudar a resolver os inúmeros problemas que hoje atingem as famílias.

Sonhamos uma Igreja que se faça companheira de viagem dos jovens, atenta aos seus sonhos, anseios e dificuldades, sabendo que os jovens procuram a Igreja, não para se divertirem, mas para se alimentarem interiormente. 


 


 

+ José Manuel Cordeiro

Arcebispo Metropolita de Braga