Arquidiocese de Braga -

6 dezembro 2024

Dia de S. Geraldo pede atenção ao “grito” dos pobres, migrantes e desempregados

Fotografia Avelino Lima

DM - Jorge Oliveira

O Arcebispo Metropolita de Braga aludiu, ontem, na solenidade de S. Geraldo, celebrada na Sé Primacial, para as desigualdades sociais e os desafios da atualidade

O Arcebispo Metropolita de Braga, D. José Cordeiro, desafiou ontem a comunidade cristã a ser “dinâmica na vida da cidade e da arquidiocese”, seguindo o exemplo do padroeiro da cidade de Braga, S. Geraldo, e escutando atentamente a Palavra de Deus que desafia os cristãos a desinstalarem-se.

“Necessitamos de estar atentos ao grito dos pobres e dos migrantes; estar atentos ao mundo, ao clamor do planeta e das suas ​​criaturas, que tantas vezes ignoramos e não cuidamos, como nos mostram as diversas catástrofes naturais das últimas semanas”, disse o prelado na homilia.

Diante da numerosa assembleia de fiéis congregada na Catedral, D. José alertou que só com um atitude atenta e vigilante é possível viver uma vida preenchida e fecunda por Deus e servir o Evangelho.

“Deus não se merece, acolhe-se; Deus não é conquistado, é esperado. Por isso, estar atento e vigilante é a atitude indispensável para que a nossa vida não seja superficial. É fundamental estarmos despertos diante da realidade, para que as coisas que acontecem à nossa volta não nos passem ao lado”, reforçou.

Na reflexão que fez, inspirada na parábola do Servo Vigilante, apropriada para este tempo de Advento e para a vida de S. Geraldo, o Arcebispo questionou as persistentes injustiças sociais e defendeu que “é tempo de ser esperança”, face a “tanta pobreza”, a “tantas famílias sem habitação digna”, a “tantas pessoas sem trabalho”, a “tanta precariedade do trabalho”, a “longos e desregulados horários de trabalho”, a jovens que “continuam a emigrar”. 

Evocando S. Geraldo, D. José Cordeiro traçou um paralelo entre os desafios enfrentados por este antigo Arcebispo bracarense (1096-1108) e os que a Igreja enfrenta hoje, numa sociedade em transformação.

“Estamos a viver uma mudança de época, como afirma o Papa Francisco. Cabe-nos encontrar novos caminhos para anunciar o imutável Evangelho de Cristo, construindo uma Igreja sinodal, missionária e samaritana, atenta às pessoas e aos sinais dos tempos”, afirmou.

D. José Cordeiro iniciou a sua reflexão, intitulada “Que passos de esperança?”, contextualizando a celebração no início do Tempo do Advento, período litúrgico marcado pela expetativa da chegada do Senhor.

“O Advento é um tempo de graça, de expetativa alegre da esperança. Tal como a mulher grávida espera ansiosa e alegremente pelo momento de dar à luz o seu filho, também nós ansiamos que o Senhor nasça nos nossos corações», disse. 

Na solenidade de S. Geraldo, D. José Cordeiro recordou o padroeiro da cidade de Braga como um “administrador fiel e prudente” e atento às necessidades pastorais e sociais, num “tempo muito desafiante”.

No seu “intenso” episcopado em Braga, S. Geraldo fomentou um conjunto de reformas eclesiásticas, morais e administrativas, reestruturou a escola catedralícia e o Cabido, deu continuidade às obras que decorriam na Sé, e teve uma “ação determinante” na reforça do culto e da liturgia, promovendo a introdução do Rito Romano, ultrapassando assim a “resistência ao uso desse rito que se verificava na diocese”.

“Mesmo quando a força física faltava, S. Geraldo não se escusava de continuar a exercer prontamente o ministério que lhe tinha sido confiado”, acrescentou o prelado.

D. José conclui a homilia desafiando os fiéis diocesanos a realizarem “pequenos milagres” no dia a dia, inspirados pelo exemplo do antigo arcebispo de Braga.

A cidade de Braga celebra o padroeiro

As autoridades religiosas e civis de Braga cumpriram ontem a tradição de celebrar conjuntamente o Dia de S. Geraldo, padroeiro da cidade, na Capela de S. Geraldo que, tal como é tradição, voltou a apresentar os altares adornados com vários frutos, numa alusão ao milagre da fruta de S. Geraldo.

Ricardo Rio, presidente da autarquia, referiu que Município e a Arquidiocese de Braga “têm a responsabilidade de estimular e alimentar” esta relação secular.

“Estamos condenados, diria, a termos uma relação de colaboração muito estreita, todos os dias do ano”, disse Ricardo Rio, lembrando que são muitas as áreas em que os caminhos das duas instituições “se intercruzam”.

O autarca mencionou a dimensão social, a valorização do património, a dinamização cultural, “o alento também espiritual que é necessário dar às comunidades”, a intervenção que é feita pelas diversas estruturas ligadas à igreja, junto de diversas franjas da população, “a interação nos próprios espaços públicos, que interagem entre as dimensões religiosas e civil” por todo o território concelhio.

“São muitos projetos em que estamos envolvidos em comum”, assinalou, considerando que desde que D. José Cordeiro assumiu funções “esse caminho tem-se estreitado e enriquecido de forma visível”.

O Arcebispo Metropolita de Braga reiterou o empenho da Igreja de Braga na prossecução do “bem-comum na cidade e na Arquidiocese, para a promoção e a dignidade da pessoa humana”.

D. José Cordeiro transmitiu ainda uma palavra de agradecimento ao Cabido pelo acolhimento e empenho crescente na valorização da celebração do Dia de S. Geraldo.

“A Catedral é uma casa aberta a todos e todos devemos cuidar sobretudo dos que mais precisam, fazer o bem bem feito, salvaguardado as autonomias do Município, da Arquidiocese”, acrescentou.

A cerimónia, que decorreu na Capela após a celebração da Eucaristia solene da festa litúrgica de S. Geraldo, inclui a tradicional oferta de cestos de fruta, pelas mãos do Deão da Catedral, à Câmara Municipal, à Arquidiocese e este ano também ao Projecto Homem, numa evocação do “milagre da fruta” de S. Geraldo que também foi recordado de manhã com a presença da EB 1 da Sé.

Na ocasião, o cónego José Paulo Abreu referiu que através deste gesto faz-se memória desta parte da história da cidade.

O Deão agradeceu à cooperativa Cavagri pelo fornecimento da fruta, a um preço simbólico, e aos colaboradores do Cabido que adornaram o altar da Capela de S. Geraldo.

De seguida, reiterou o compromisso do Cabido com a sua atividade, que “tem a ver muito com o sacramental, a liturgia”, mas também com a sua ação ao nível do património (material e imaterial) e da cultura que têm projetado Braga para o “mundo inteiro”.

“Recebemos um facho há mais de 900 anos, temo-lo na nossa mão aceso e tudo faremos para que os vindouros possam continuar a servir e a amar, que é o ADN do Cabido”, afirmou.

O cónego José Paulo Abreu terminou a sua intervenção saudando as autoridades que servem a cidade de Braga e a Arquidiocese, formulando votos de que a cidade “continue próspera e dinâmica, ativa, jovem”.

Simbolicamente e como é tradição, entregou um cesto da fruta ao presidente da Câmara de Braga, a quem desejou um trabalho profícuo ao serviço dos bracarenses, e ao Arcebispo de Braga, pedindo a S. Geraldo que lhe dê coragem e força para “levar a bom porto esta ‘nau’ que herdou”.

Câmara chega acordo com a Arquidiocese para comprar edifícios do S. Geraldo e Pé Alado

A Câmara Municipal de Braga e a Arquidiocese de Braga chegaram a acordo nas negociações dos edifícios do antigo Cinema S. Geraldo e do Pé Alado, no Largo Carlos Amarante.

A novidade foi relevada ontem pelo presidente da autarquia, Ricardo Rio, na tradicional celebração conjunta do Dia de S. Geraldo, padroeiro da cidade.

A transação destes imóveis da Arquidiocese para a Câmara Municipal, adiantou edil, vai permitir ao Município lançar o concurso para a reabilitação deste património já no próximo mês de fevereiro, 

“Estes edifícios vão servir a comunidade e contribuir também aquilo que prosseguirmos em conjunto que é o bem-comum presente nas nossas mais diversas ações”, referiu. 

A Câmara de Braga pretende criar no S. Geraldo o Media Arts Center. Ricardo Rio reconheceu que para este desfecho muito contribui o empenho direto do Arcebispo Metropolita, do bispo auxiliar e do ecónomo da Arquidiocese.