Arquidiocese de Braga -

25 dezembro 2024

O Céu no coração humano

Fotografia DACS

Homilia de D. José Cordeiro na Missa de Natal 2024

1. Palavra feita carne

A pérola do prólogo do evangelho de S. João,que acabamos de escutar, diz de uma forma muito feliz a comemoração sacramental do mistério do Natal: «no princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o verbo era Deus...». A teologia afirma que esta é a encarnação, isto é, o Verbo/logos/palavra divina criadora e salvífica,torna-se carne na pessoa de Jesus Cristo.

O mesmo se diz na primeira carta de João: «O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram, no que respeita à Palavra da vida: é isso que vos anunciamos. Pois a vida manifestou-se, nós vimo-la e disso damos testemunho: anunciamos-vos a vida eterna, que estava junto do Pai e que se manifestou a nós»(1Jo 1, 1-3).

2. Não basta ter esperança

Celebramos com a alegria da esperança o mistério do Natal, com o grande Jubileu 2025. O que posso eu esperar para o próximo Jubileu? Uma forte recuperação da esperança: “peregrinos de esperança”, eis o lema. Em particular, um encontro capaz de gerar esperança: «Que seja para todos um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus “porta” de salvação (cf. Jo 10,7.9); com Ele, que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como sendo a “nossa esperança” (1 Tm1,1)» (Spes non confundit, 1).

Não basta ter esperança. É preciso ser esperança e espalhar a ternura da esperança. O Natal não é uma festa ingénua, mas o mistério integral de Cristo total.

O fundamento do Jubileu do mistério da Encarnação de Jesus Cristo é cheio de esperança: «O Verbo fez-se carne, para que nós pudéssemos receber o Espírito Santo» (Santo Atanásio de Alexandria). Com efeito, «podemos afirmar, sem exageros, que o Céu se encontra no coração do homem, no sentido de que é precisamente no coração que atua o Espírito que nele foi “derramado” (Rm 5,5)» (Ugo Vanni).

3. Uma grande luz

A Bula de proclamação do Jubileu, de facto, não se limita a falar de esperança, mas torna-a visível. O Papa Francisco enumera alguns sinais de esperança: a paz, a transmissão da vida, o cuidado com os presos, os doentes, os jovens, os migrantes, os exilados, os refugiados e deslocados, os idosos e os pobres.

A vigorosa insistência nestes sinais impele à esperança como antídoto para uma espécie de inércia, para uma certa omissão. A esperança, quando circula, desarticula o pensamento que diz “não vale a pena”, “cada um que se desenrasque”. Estas são opiniões que dão voz ao niilismo contemporâneo. O processo jubilar - recolocando em jogo a liberdade reconciliada pelo Senhor e de tomar conta da história e dos laços feridos - quer propor uma cultura da esperança.

Hoje a liturgia da Igreja sublinha Jesus como a grande luz que desceu sobre a terra. É o que escreveu tão expressivamente Fernando Pessoa: «(...) Mais radiante do que a luz/ e bendito oh, Santa Mãe/ é o fruto que provém/ Do vosso ventre, Jesus! (...)».

A luz é presença estável na vida cristã. Com efeito: «A fé cristã é como uma grande catedral com maravilhosos vitrais coloridos. Quem está fora não os vê, mas para quem está dentro, cada raio de luz torna-se de um esplendor indescritível» (Nathaniel Hawthorne).

Santo tempo de Natal! A todos e a cada um gostaria de saudar e levar Jesus, como fazemos sacramentalmente no beijo do Menino. A esperança renasça no coração dos pobres, dos presos, dos doentes, dos migrantes, dos idosos, das famílias, dos jovens.

A paz nascida em Belém seja luz no caminho da vida, para que sejamos sempre artesãos que não se cansam de fazer a paz e de ser paz.

Neste Natal tenha um gesto concreto de paz com alguém para levar Jesus a todos.

 

 

​​​​​+ José Manuel Cordeiro