Arquidiocese de Braga -
21 fevereiro 2025
“Na Cruz esperamos a Luz”
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Mensagem dos Bispos da Arquidiocese de Braga para o tempo de Quaresma-Páscoa
Estimados irmãos e irmãs em Jesus Cristo, nossa Esperança,
Pax!
1. A Cruz, que traçamos sobre nós em cada dia ou que trazemos ao peito, não é apenas um gesto automático ou um símbolo religioso, mas é a consciência viva de que somos habitados pelo Espírito de Jesus Cristo, nosso Salvador. Portanto, sempre que fazemos o sinal da Cruz, tornamo-nos “sinais da Cruz”, presença de Jesus na cruz que o mundo hoje vive.
A nossa presença como cristãos no meio do mundo pretende mesmo ser um sinal de Jesus, mostrar que faz sentido acreditar n’Ele e viver como Ele. No fundo, quando somos verdadeiramente “sinais da Cruz”, então suscitamos a esperança em nós e nos outros, porque mostramos e damos a conhecer Aquele que é a nossa Esperança, Jesus Cristo.
Ao iniciarmos a etapa de Quaresma-Páscoa – que na nossa Arquidiocese será vivida sob o signo de “Passos de Esperança”, como nos propõe o Departamento de Pastoral Litúrgica –, somos convidados, então, a ser “sinais de esperança” para cada pessoa, para cada família, para cada comunidade cristã, para aqueles que estão afastados da vida da Igreja ou que não acreditam em Deus, para todos os que habitam qualquer periferia humana, para todas as pessoas de boa vontade.
No caminho de Páscoa somos convidados à conversão de coração, isto é, a “re-orientar os passos” da nossa vida, para sermos um sinal mais visível de Jesus no mundo, como rezamos na liturgia do I Domingo da Quaresma: “concedei-nos, Deus todo-poderoso, que pelas práticas anuais do sacramento quaresmal, alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo e demos testemunho dele com uma vida digna”.
2. Conscientes desta esperançosa responsabilidade, não nos alheamos, antes nos tornamos mais comprometidos com as cruzes da vida, com as dores e os sofrimentos do mundo atual.
Por isso, rezamos pela paz, onde a guerra teima em permanecer; rezamos pela dignidade das pessoas, onde a violência persiste em pairar; rezamos pela conjugalidade e pela fecundidade das famílias, onde a secura de amor chegou e esterilidade relacional passou a imperar; rezamos pela amizade e pelo valor dos idosos, onde se descartam as pessoas; rezamos pela equidade e pela solidariedade, onde a pobreza fala mais alto; rezamos pela justiça e pelas segundas oportunidades para os migrantes e refugiados, onde a desigualdade reina; rezamos pela saúde, onde a doença se torna um desafio a combater; rezamos pela felicidade, onde as relações são cortadas e feridas; rezamos pelo trabalho honesto, onde o desemprego bate à porta; rezamos pelos sonhos dos jovens, onde o desespero é gritante; rezamos pela liberdade interior, a quem vive preso à culpa e ao pecado; rezamos pela renovação das comunidades cristãs, onde a manutenção pastoral ainda é uma realidade.
3. “A caridade ama aquilo que é... / a esperança ama o que será” (Charles Péguy, Os portais do mistério da segunda virtude, 21-22). Se a oração é a fonte da nossa vida cristã, como relação vital com Deus, a segunda virtude teologal, que somos impulsionados a cultivar neste Jubileu, como “Peregrinos de Esperança”, leva-nos a ver mais longe e mais largo, a ser criativos no nosso modo de estar presentes no mundo, a entrar em modo missionário, e a comprometer a nossa vida em situações concretas, com gestos de caridade. Como refere o Papa Francisco, “a esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz” (Spes non confundit, 3).
Daí que a nossa renúncia quaresmal, fruto da nossa partilha, se destinará à aquisição de livros litúrgicos, especialmente do Missal Romano, para oferecer às Dioceses de Bafatá e de Bissau, na Guiné-Bissau, bem como para o Fundo Arquidiocesano “Partilhar com Esperança”. Podem parecer pequenos gestos, mas feitos com inteireza de vida, estaremos certamente a semear esperança nos corações daquelas pessoas a quem a nossa partilha se destina.
4. É “o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes a luz da esperança: mantém-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida” (Francisco, Spes non confundit, 3). Com estas palavras do Santo Padre, recordamos que a nossa fé na ação vivificante do Espírito Santo nos faz reconhecer que Ele é o “Senhor que dá a vida”. Portanto, a Cruz, aquela que traçamos sobre nós, que se estende sobre o mundo de hoje, é sempre a Cruz de Jesus. Mas, como acreditamos, a Cruz abre-se ao sentido e, por conseguinte, à Vida, na sua inteireza e total autenticidade, que é dom de Deus, pura graça. A Ressurreição de Jesus, que dá sentido e sabor ao nosso existir, é precisamente a plenitude deste mistério.
“O Jesus pascal revela-se o ícone da esperança que somos chamados a transportar no tempo, aconteça o que acontecer” (J. T. Mendonça, Esperar contra toda a esperança, 40). Por isso, a Páscoa é a luz da Esperança, que nós queremos que continue a brilhar na vida da Igreja e do mundo, já que transportamos em nós estas centelhas da luz divina, para gerar nos corações alegria, paz, bondade, caridade. Haja Esperança!
Santa Quaresma! Feliz Páscoa!
D. José Cordeiro, Arcebispo Metropolita
D. Delfim Gomes, Bispo Auxiliar
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