Arquidiocese de Braga -
7 abril 2025
Passos de Celeirós incentivam à transformação e condenam indiferença perante o sofrimento

DM- Carla Esteves
Celeirós voltou, ontem, a viver as magníficas Solenidades do Senhor dos Passos, que transformaram a freguesia num local de encontro de famílias e de celebração da fé. Verdadeiramente emblemáticos, não apenas pelos diferenciadores “Quadros Vivos”, mas também pelo significativo envolvimento da comunidade, os Passos de Celeirós distinguiram-se ainda pelo silêncio e pelo ambiente de grande comoção que envolveu todo a celebração.
Foi para uma assistência atenta e comovida que o padre Miguel Rodrigues, proferiu o Sermão do Pretório, ainda junto à Igreja, e antes da saída do desfile religioso, e posteriormente, o Sermão do Encontro, precedendo o momento em que Jesus encontra Maria, Sua Mãe.
Depois de uma mensagem proferida pelo pároco, padre Pedro Antunes, o Sermão do Pretório, proferido pelo padre Miguel Rodrigues, alertou para a importância de todos nos envolvemos “numa Igreja em transformação”.
E questionou “que Igreja é esta que aponta a Eucaristia como ex-libris e depois diz não à presença de divorciados, de homossexuais?». Afirmou, por isso, que «não é esta a Igreja que queremos criar, que cura e que salva e que todos temos o dever e a responsabilidade de colocar em prática».
“A Igreja é para todos, todos, todos”, afirmou, citando o Papa Francisco.
Já depois, no Sermão do Encontro, o padre Miguel Rodrigues estabeleceu um paralelo entre o julgamento e condenação do Senhor, e o mundo atual, em que, como Pilatos, lavamos frequentemente as mãos, e nos mostramos indiferentes perante o sofrimento do próximo, tornando-nos cúmplices da traição de que Jesus foi vítima.
“Também nós fazemos de conta que não é nada connosco. Também nós ficamos alheados da realidade, preferimos não ver, preferimos não saber, preferimos fazer de conta, preferimos a aparência à realidade”, afirmou, questionando “quantas vezes ficámos vencidos pelo medo e nos calamos?”
Lembrando que “as certezas absolutas são o maior inimigo da tolerância”, o pregador incentivou os presentes a tomar Maria como exemplo, quando, apesar da dor, incentiva, com o olhar, o Seu Filho a não desistir.
“Que o encontro de Maria com Jesus seja uma oportunidade para renovarmos tantos encontros em nós, para reencontrarmos quem está mais afastado, para cuidarmos de quem mais precisa, para criarmos verdadeiramente uma sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna, mais cuidadora uns dos outros”, apelou.
Milhares na celebração marcada pelo sentimento
A fé, a emoção e o sentimento marcaram, ontem, mais uma edição da Procissão dos Passos de Celeirós, que congregaram uma autêntica multidão na freguesia para assistir a uma tradição religiosa que já se realiza há 85 anos naquela comunidade paroquial.
O presidente da União de Freguesias de Celeirós, Aveleda e Vimieiro, Carlos Guimarães, mostrava-se, neste domingo, orgulhoso do envolvimento da comunidade numa celebração que mobiliza cerca de 600 pessoas.
Entre figurantes, elementos dos “Quadros Vivos”, escuteiros, guias, pessoas que transportam o Pálio e as bandeiras, além da Comissão de Festas, entre outras, são assim muitos os que dão o seu contributo para dar continuidade a uma tradição que começou com a própria família do autarca Carlos Guimarães.
Também o pároco da Paróquia de Celeirós, padre Pedro Antunes, saudou o grande envolvimento comunitário, reforçando que desde 1940 foram muitos aqueles que trabalharam para que as solenidades se realizassem.
Recordou ainda, num momento de oração, a memória do padre Fernando da Conceição Apolinário Marques, que faleceu recentemente e que serviu esta paróquia durante 27 anos.
Também Jorge Costa, da Comissão do Senhor dos Passos de Celeirós, recordou com amizade o sacerdote e o espírito de fé que ele deixou na comunidade.
Considerando que “os Quadros Bíblicos” são um dos elementos diferenciadores da Procissão dos Passos de Celeirós, “não sendo, contudo o único”, Jorge Costa realçou que «apesar das cerca de três horas de celebração, ninguém se cansa porque quer os que participam, quer os que assistem, fazem-no com alegria e devoção».
Jorge Costa admite, contudo, que a preparação de um evento desta magnitude envolve trabalho e organização com bastante antecedência, desde os ensaios semanais dos “Quadros Vivos”, a toda a preparação logística , envolvendo a contratação da banda, do som, da polícia, entre vários outros pormenores.
Salvaguarda, contudo, que apesar do trabalho que implica, ao longo dos anos, nunca faltaram pessoas motivadas para participar e dar continuidade a esta tradição.
“O nosso objetivo é que quem nos visita nesta tarde possa regressar às suas casas, à sua vida, ao seu trabalho levando algo daqui, que os possamos marcar como o nosso testemunho de fé”, argumentou, sublinhando que os Passos de Celeirós “querem ser um testemunho de fé para os milhares que vão à freguesia, mostrando que há mais do que a azáfama do dia a dia”.
Também presente nesta celebração, em representação do Município de Braga, o vereador João Rodrigues afirmou que “todos os Passos do concelho de Braga são diferentes, mas todos convergem no grande envolvimento da comunidade”.
“Os Passos de Celeirós são mais um grande momento da Quaresma em Braga, que se vive de forma especial”, considerou, enfatizando a sua satisfação pelo facto de as várias solenidades do Senhor dos Passos no concelho terem cada vez mais gente a assistir.
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