Arquidiocese de Braga -

17 abril 2025

Um coração simplificado

Fotografia DACS

Homilia do Arcebispo, D. José Cordeiro, na Missa vespertina da Ceia do Senhor, 17 de abril de 2025

1. Coração, mãos e pés

Abre-se a celebração do Tríduo Pascal. O significado teológico dos três dias é realçado pelo Catecismo da Igreja Católica, nestes termos: «Partindo do Tríduo pascal, como da sua fonte de luz, o tempo novo da Ressurreição enche todo o ano litúrgico da sua claridade. Ininterruptamente, dum lado e doutro desta fonte, o ano é transfigurado pela liturgia. É realmente “ano da graça do Senhor”» (n.º 1168).

Lavar os pés para estar limpos. Um coração cheio de bondade. Coração, mãos e pés andam juntos. «Deus nunca pode ser compreendido por quem não é puro de coração» (M. Gandhi). Pensemos no tempo de Jesus e ainda hoje em tantos lugares do mundo, como experimentei nesta Quaresma nas Dioceses de Bafatá e Bissau, a maioria das pessoas andavam e andam de chinelos ou mesmo a pé descalço em caminhos de terra e com muito pó.

Podemos imaginar o embaraço mortal dos discípulos quando Jesus se pôs a lavar-lhes os pés. É um grande mistério. Sim, porque o mistério da encarnação é essencialmente humildade.

2. Eucaristia – teologia da sinodalidade

A Eucaristia é o lugar maior da teologia da sinodalidade. De facto, «Para muitos fiéis, a Eucaristia dominical é o único contacto com a Igreja: cuidar da sua celebração do melhor modo, com particular atenção à homilia e à “participação ativa” (SC 14) de todos, é decisivo para a sinodalidade. Na Missa, de facto, ela acontece como uma graça concedida do alto, antes de ser o resultado dos nossos esforços: sob a presidência de um e graças ao ministério de alguns, todos podem participar na dupla mesa da Palavra e do Pão. O dom da comunhão, da missão e da participação – os três eixos portadores da sinodalidade – realiza-se e renova-se em cada Eucaristia» (doc. final n.º 142).

Na verdade, «a instituição da Eucaristia é, ao mesmo tempo, revelação. Ela nos diz como o crente deva colocar-se em relação a Cristo: não diante d’Ele, mas n’Ele» (Romano Guardini).

A Igreja é chamada a sujar as mãos para lavar os pés de todos, especialmente dos mais pobres e que mais precisam de esperança, para servir o Senhor.

A Arquidiocese, o arciprestado, a paróquia não podem estar centrada em si mesmas, mas orientadas à missão, onde a mobilidade das pessoas cria um “território existencial” em que se desenvolve a vida.

3. Coração ardente

O coração ardente é um poderoso símbolo. A comunidade de fé que se alimenta da Eucaristia é uma comunidade de amor.

Pedro Arrupe comentava: «tirai Jesus Cristo da minha vida e tudo cairá, como um corpo ao qual se retira o seu esqueleto, o coração e a cabeça».

O coração de Jesus Cristo é o núcleo vivo do primeiro anúncio.

Não é um Deus que pede sacrifícios. É Deus que se sacrifica por nós. É Jesus a nossa Páscoa. O Verbo fez-se carne e a mesma carne faz-se pão.

 

+ José Manuel Cordeiro