Arquidiocese de Braga -
20 abril 2025
Nova criação

Homilia do Arcebispo, D. José Cordeiro, na Vigília Pascal - 19 de abril de 2025
1.Iniciação batismal
A oração que cantamos sobre a fonte batismal realça a nova criação. Sim, «A Liturgia é feita de coisas que são exatamente o oposto de abstrações espirituais: pão, vinho, azeite, água, perfume, fogo, cinzas, pedra, tecido, cores, corpo, palavras, sons, silêncios, gestos, espaço, movimento, ação, ordem, tempo, luz. Toda a criação é manifestação do amor de Deus: desde que o mesmo amor se manifestou em plenitude na Cruz de Jesus, toda a criação é atraída por ele. É toda a criação que é assumida para ser posta ao serviço do encontro com o Verbo encarnado, crucificado, morto, ressuscitado, que subiu ao Pai» (Desiderio desideravi, 42).
À Iniciação cristã: «chamamos-lhe, de facto: “nascimento”, “renascimento”, “nova criação” e “sigilo”; e depois também: “imersão”, “veste”, “crisma”; e ainda “dom gratuito”, “iluminação” e “banho”. Todos estes nomes têm um só significado: a iniciação batismal é o princípio do ser naqueles que são e vivem segundo Deus» (Nicolau Cabasilas, séc. XIV).
Os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, chamados ‘sacramentos da Iniciação Cristã’, lançam os alicerces de toda a vida cristã. O termo ‘iniciação cristã’ designa, com efeito, as etapas necessárias através das quais deve passar quem quer entrar na Igreja, para nela prestar culto a Deus em Espírito e verdade (cf. Jo 4, 23-24).
Os sacramentos estão tão ligados entre si, que não se pode tratar um sem tratar os outros dois, salientando-se o rito íntegro da Iniciação Cristã que produz os seus efeitos espirituais na alma: «... Assim a carne é lavada, para que a alma seja purificada; a carne é ungida, para que a alma seja consagrada; a carne é marcada com o sinal da cruz, para que a alma seja fortalecida; a carne é coberta com a sombra da imposição das mãos, para que a alma seja iluminada pelo Espírito; a carne é alimentada com o Corpo e o Sangue de Cristo, para que a própria alma seja saciada de Deus. Não podem, por conseguinte, ser separadas na recompensa aquelas que estiveram unidas na ação». A tese de Tertuliano é a de que os sinais sensíveis do óleo da unção e da água são capazes de conferir um efeito sobrenatural.
A ideia principal subjacente à compreensão sacramental é a de que Deus se comunica e se torna presente, agindo espiritualmente sobre os homens, mediante os elementos materiais.
2.Gente de Primavera
A vigília pascal tem uma elevada carga simbólica: na primavera, a duração do dia já é superior à duração da noite; o precónio pascal anuncia a nova criação; o círio pascal brilha e ilumina a humanidade; o rito do accendite acontece no mesmo lugar do canto do precónio, o lugar mais alto a que acedemos junto do altar.
Precisamos de renovar a espiritualidade pascal: «Somos, pois, “gente de primavera”, com um olhar sempre repleto de esperança, a partilhar com todos, porque em Cristo “acreditamos e sabemos que a morte e o ódio não são as últimas palavras” acerca da existência humana. Por isso, do Mistério Pascal, que se realiza nas celebrações litúrgicas e nos sacramentos, tiramos continuamente a força do Espírito Santo, com o zelo, a determinação e a paciência para trabalhar no vasto campo da evangelização do mundo» (Papa Francisco).
A Vigília pascal é como uma maternidade da Igreja. Nesta noite/dia a Igreja dá à luz novos filhos, abrindo-se, ao mesmo tempo, a uma nova fecundidade espiritual. Quando traçamos a cruz no círio pascal gravam-se as letras gregas Alfa e Ómega e os quatro algarismos do ano corrente, dizendo: «Cristo, ontem e hoje, princípio e fim, Alfa e Ómega. A Ele pertence o tempo e os séculos. A Ele a glória e o poder por toda a eternidade. Amen».
3.DAR
Todo o Evangelho, toda a teologia, toda a fé concentra-se nesta palavra. Se te perguntas que coisa significa amar, a resposta segundo o Evangelho está neste humilde verbo: DAR. O Pai deu o Filho, o Filho deu a vida.
Na oração do Pai-Nosso rezamos: «o pão nosso de cada dia nos dai hoje». Dai-nos o pão que faz viver. O amor não se vê, vêem-se os dons. «Amar é querer que o outro exista», escreveu Santo Agostinho.
A Iniciação cristã abre o caminho de Páscoa na Igreja. Cada um dos batizados pode perguntar-se: O que é que eu posso fazer pela Igreja?
Como posso dar a vida, hoje?
+ José Manuel Cordeiro
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