Arquidiocese de Braga -

23 julho 2025

Tempo de férias, um bem que que emerge do Criador

Fotografia DR

LOC/MTC – Movimento de Trabalhadores Cristãos Arquidiocese de Braga

Pelo Domingo sem trabalho desnecessário - nota de imprensa LOC/MTC – Movimento de Trabalhadores Cristãos Arquidiocese de Braga

A direção executiva diocesana da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos – LOC/MTC da Arquidiocese de Braga, vem por este meio tornar pública a posição da Equipa Diocesana, deste Movimento da Ação Católica, sobre as férias como um bem que emerge do Criador e reafirmar a sua posição por um domingo sem trabalho desnecessário.

1. Quer queiramos ou não, estamos a viver um tempo de férias, mesmo para aquelas e aqueles que já se reformaram do trabalho por conta de outrem. O trabalho é algo permanente na vida de cada ser humano, ajuda a aperfeiçoar a obra da criação, e não tem data, nem idade para terminar. Neste percurso de vida, temos trabalho pago, que nos permite viver e, mais tarde, receber reforma e o trabalho gratuito que faz parte da vida quotidiana. Um é fruto da nossa força de trabalho, vendido por contrato a quem dele necessita e o outro é do próprio ser humano, pouco falado, mas também indispensável à harmonia diária e bem-estar de cada família. A sociedade necessita de todo o tipo de trabalho e muitas vezes nem dá conta que se serve dele todos os dias. Lembramos aqui o trabalho doméstico, sempre esquecido do restante trabalho e o trabalho por conta própria. Normalmente são trabalhos mal remunerados, indispensáveis, pouco declarados e acarinhados. 

2. Neste tempo de verão, vamos constatando de que começa a existir uma maior flexibilidade nas datas de usufruir do tempo das férias. Isto permite um diálogo entre trabalhadores, as chefias e até com as entidades patronais, no sentido de ambas as partes ficarem satisfeitas. Apesar de muitos trabalhadores nem tão pouco conhecerem os verdadeiros patrões, mesmo assim, há sempre alguém que os representa e nem todos têm cara de maus.

3. Quando o diálogo é natural, recíproco e respeitador, todos ganham. O descanso e a boa disposição entre as partes também ajudam a combater injustiças e a tornar o trabalho mais digno. Sabemos e estamos conscientes, como Movimento de Trabalhadores Cristãos, que apesar do trabalho as pessoas continuam a ser pobres, muito pobres. Todos aqueles e aquelas que têm de pagar renda mensal ou prestação ao banco pela casa onde vivem, estão com o coração nas mãos. Estas prestações mensais aumentaram de forma assustadora e o crescimento dos salários não acompanhou a inflação dos preços habitacionais e dos artigos de primeira necessidade. Daí que muitos trabalhadores não consigam ausentar-se do seu meio para o gozo, merecido, das suas férias e muito menos recorrer ao crédito para o fazer. Outros vão ocupar o tempo de férias a trabalhar, em horas extraordinárias, mal remuneradas e raras vezes declaradas. 

4. As pausas no trabalho anual ajudam a revigorar as forças físicas, a possibilidade de viajar (para quem pode) e contemplar as belezas da natureza, desfrutar das areias da praia, iodo e das águas do mar, como um tempo propício para novas leituras e também conquistar novas amizades. É um tempo de recarregar baterias, que aguentam, que nos fornecem energia para um novo ano de trabalho. As férias não devem ser como o desligar e ligar um disjuntor todos os dias, como normalmente o fazemos com os nossos telemóveis, mas antes para parar, ajustar, cultivar a palavra e, porque não, meditar e fazer oração, que nos ajude a limpar os lixos acumulados (alguns tóxicos) de um ano de trabalho que nos cansam o corpo e a alma. 

5. Na leitura do livro do Géneses, que nos relata os tempos da criação de todos os seres, com destaque para o homem e a mulher, revela que “Deus repousou, no sétimo dia, de todo o trabalho por Ele realizado. Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o, visto ter sido nesse dia, que Ele repousou de toda a obra da criação” (Gn 2, 2-3).  Os tempos avançaram, criaram-se novas necessidades (algumas mais em função do lucro do que das pessoas) e inventou-se a alternância do trabalho-repouso, de dia e de noite, sábados e domingos. Está provado de que o trabalho ao domingo não criou novos postos de trabalho, antes pelo contrário, tem impedido as famílias do reencontro familiar e dominical e provocado a destruturação familiar.

6. Recentemente Pedro Vaz Patto (presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz) num artigo de opinião na Ecclésia, chama a atenção para a pouca discussão parlamentar de uma petição popular que pedia a proibição do trabalho aos domingos e feriados em grandes superfícies comerciais. Razões económicas foram invocadas para rejeitar liminarmente aquele pedido pelos partidos maioritários da Assembleia da República. Numa primeira abordagem, parece pouco razoável pensar que as compras que se fazem ao domingo não possam ser feitas noutro dia da semana, com mais ou menos inconvenientes. Está em causa também um regime que favorece as grandes superfícies comerciais em relação ao pequeno comércio. 

7. O “Dia do Senhor”, de fato, não deveria ser comparável ao comércio e até às festas civis porque tem um significado muito diferente, sério e profundo, daquele que é dado aos dias de descanso da organização social ou da ética laboral. A programação laboral e os contratos coletivos de trabalho negociados entre sindicatos e associações patronais, deveriam preservar o domingo do trabalho desnecessário e congregar neste dia de descanso os trabalhadores/as, que são dispensáveis de ocupação profissional aos domingos e feriados.

8. As férias e os descansos semanais estão intimamente ligados, não têm um papel marginal na vida dos homens e mulheres, mas fazem deles seres com dignidade. São Paulo VI dizia que as férias devem ser um tempo de descanso vigilante. Devem ser um período proveitoso em que a interrupção do ritmo de trabalho habitual possa favorecer o silêncio interior e o recolhimento. “Façamos com que este tempo livre, que chamamos de férias, não seja totalmente nem dissipação, nem egoísmo. Relaxamento, descanso, recreação (no sentido etimológico), sim, mas inteligente e vigilante. Lembremo-nos que as férias são o período privilegiado para as boas amizades, para conhecer lugares, costumes, necessidades do povo de quem geralmente não nos aproximamos, e para o encontro com novas pessoas dignas da nossa conversa”. O Papa Francisco dizia a este respeito: “O tempo de verão é um momento providencial para aumentar o nosso compromisso de busca e de encontro com o Senhor. Neste período, os estudantes estão livres dos compromissos escolares e muitas famílias fazem as suas férias; é importante que no período do repouso e da pausa das ocupações diárias, se possam retemperar as forças do corpo e do espírito, aprofundando o caminho espiritual”. 

9. Já o atual Papa, Leão XIV, no passado dia 20 de julho afirmou que as férias “são uma oportunidade para cuidarmos uns dos outros, para trocarmos experiências e ideias, para nos compreendermos mutuamente e darmos bons conselhos: isto faz-nos sentir amados, e todos precisamos de tal. Façamo-lo com coragem. Deste modo, na solidariedade e na partilha da fé e da vida, promoveremos uma cultura de paz, ajudando também aqueles que nos rodeiam a superar divisões e hostilidades e a construir a comunhão entre pessoas, povos e religiões”.

10. Aproveitemos este tempo, que é nosso, para aprofundarmos “a esperança que não engana” e nos anima a criar novos grupos de trabalhadores cristãos que nos ajudem a descobrir o Deus Trabalhador presente no coração de cada operária e operário, capazes de esculpir a dignidade que brota do coração e das mãos do Amor e faz dos trabalhadores e trabalhadoras, mulheres e homens livres.

 

Braga, 23 de julho de 2025

A Equipa Executiva diocesana da LOC/MTC

Firmina Moreira – Coordenadora diocesana