Arquidiocese de Braga -

19 setembro 2025

Opinião

O Venerável Padre Albino, sacerdote bracarense: da perseguição ao legado imortal

Frei Jacó Silva, fnpd

No domingo, dia 21 de setembro, os frades da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus irão celebrar, com a comunidade de Codeçoso, em Celorico de Basto, a Santa Missa com a comunidade da Paróquia de Santo André, as 11h15.

Em tempos de perseguição e incerteza, a história de Padre Albino Alves da Cunha e Silva é exemplo vivo de coragem, fé e serviço. Nascido em 22 de setembro de 1882, na freguesia de Codeçoso, em Celorico de Basto, Arquidiocese de Braga, Albino cresceu em uma família de valores cristãos sólidos, marcada pelo trabalho no campo e pela generosidade com os mais pobres. 

Desde cedo, seu coração se inclinava para o cuidado dos necessitados – lição que aprendera com os pais, que diariamente ofereciam refeições a pessoas em situação de miséria.

Ordenado sacerdote em 1905, Padre Albino iniciou o ministério num período conturbado. Portugal atravessava profundas mudanças políticas: a monarquia estava em crise, o republicanismo ganhava força e a Igreja sofria ataques cada vez mais severos. 

A proclamação da República em 1910 e a Lei da Separação em 1911 impuseram pesadas restrições à vida religiosa. O jovem padre, zeloso e ativo, tornou-se alvo da hostilidade anticlerical. Acabou condenado à prisão e deportação para a África, mas, numa fuga arriscada, atravessou clandestinamente a fronteira e chegou à Espanha. De lá, partiu para o Brasil, desembarcando no Rio de Janeiro em 21 de setembro de 1912.

No Brasil, foi acolhido pelo cardeal Dom Joaquim Arcoverde e iniciou o ministério em paróquias do interior paulista, como Jaboticabal, Jaú e Barra Bonita. Em cada uma delas, deixou marcas de zelo pastoral, organização e sensibilidade social. Mas seria em Catanduva que seu nome se confundiria para sempre com a própria identidade da cidade.

O desafio da chegada à Catanduva

Em 1918, Catanduva havia acabado de começar a se erguer como município recém-emancipado. Um vilarejo de poucas casas de madeira, sem infraestrutura, habitado por imigrantes simples e lavradores. Foi para ali que Padre Albino foi enviado. Diferente do popular padre anterior, conhecido por seu jeito expansivo, Albino tinha perfil rigoroso, disciplinado e reservado. Não foi bem recebido. Organizou-se até mesmo um comitê pela sua saída.

Todavia sua perseverança venceu. A passos firmes, iniciou a construção da nova Igreja Matriz de São Domingos. Bateu de porta em porta, cavalgou quilômetros sob sol e chuva, pediu donativos, enfrentou desconfiança e até zombarias. Em 1925, surpreendeu a todos com a inauguração de uma imponente matriz decorada com obras do ilustre artista brasileiro Benedito Calixto. Esse foi apenas o início de uma missão que duraria 55 anos.

Um grande testemunho da responsabilidade social

Padre Albino não se contentou em erguer templos. Seu olhar se voltava para os mais pobres, doentes e esquecidos. Em 1926, fundou a Santa Casa de Misericórdia, hoje Hospital Padre Albino, referência regional em saúde. Em 1929, criou o Lar dos Velhos. Depois vieram a Casa da Criança, a Vila São Vicente de Paulo, escolas, colégios, ginásios, e, coroando sua visão de futuro, a Faculdade de Medicina de Catanduva, em 1969. “Quero ver realizado o meu sonho, que é o de todos os catanduvenses: a Faculdade de Medicina”, escreveu ele à população pouco antes da concretização do projeto.

Seu trabalho ultrapassava barreiras religiosas. Dialogava com espíritas, recebia apoio até da maçonaria e sabia mobilizar toda a sociedade em favor do bem comum. Mais que obras físicas, edificava confiança, dignidade e esperança.

Reconhecimento em vida e após a morte

Em 1968, tornou-se o primeiro imigrante a receber o título de Cidadão Catanduvense. Cinco anos depois, em 19 de setembro de 1973, faleceu aos 91 anos, após meio século de dedicação à cidade. Seu funeral reuniu cerca de 30 mil pessoas em Catanduva, sendo a maior manifestação popular da história local.

Hoje, sua obra segue viva na Fundação Padre Albino, que mantém hospitais, faculdades e projetos sociais. Em 2013, foi aberto seu processo de beatificação, e em 20 de fevereiro de 2021 a Santa Sé o declarou Venerável, reconhecendo oficialmente suas virtudes heróicas.

Um homem além do seu tempo

Muito mais que sacerdote, Padre Albino foi apóstolo da caridade e arquiteto da esperança. Viveu para servir, enfrentou perseguições e adversidades, mas não deixou que a dureza do mundo apagasse sua vocação para o cuidado. 

Catanduva e região ainda respira a sua presença: no hospital que leva seu nome, nas instituições de ensino que formam gerações, nas memórias de fé e solidariedade que moldaram a cidade. Ele é o patrono principal da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus.

O menino do Minho, que fugiu da perseguição em Portugal, tornou-se patrono da caridade no interior paulista. Um exemplo de que, quando a fé se alia ao trabalho e ao amor, o impossível se torna possível.

Venerável Padre Albino, intercedei por nós!

Frei Jacó Silva, fnpd

Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus