Arquidiocese de Braga -
13 outubro 2025
70 anos da Páscoa eterna de Alexandrina Maria

Homilia do Arcebispo D. José Cordeiro, em Balasar, a 13 de outubro
1. Eucaristia, auge da vida
Jesus faz-nos hoje um convite muito direto: “Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei”. Só Ele nos dá o verdadeiro descanso, só Ele pode aliviar a nossas dores mais profundas, só Ele nos pode preencher em plenitude.
Este “segredo” da vida de Deus foi descoberto por Alexandrina Maria da Costa, cuja memória litúrgica hoje celebramos, nos sete decénios da sua Páscoa eterna. Também São Carlo Acutis, cuja memória ontem celebramos, percebeu o segredo da vida de Deus. E estas duas pessoas compreenderam ainda que a Eucaristia é o caminho para alcançarmos esta vida de Deus em nós.
Alexandrina queria ser «a vítima da Eucaristia, a lampadazinha das Vossas prisões de amor, a sentinela dos Vossos sacrários!». Por seu lado, Carlo Acutis dizia: «Diante do sol, bronzeamos. Diante da Eucaristia, torna-se santo!». Dois jovens, duas pessoas a quem a doença tocou, mas que perceberam que só é possível termos uma vida em plenitude se vivemos alimentados pela Eucaristia.
Nicolau Cabasilas, um leigo do séc. XIV, descreve assim a íntima relação entre Cristo-caminho e cada um de nós: «Cristo dá ao homem vida e crescimento, alimento, luz e respiro. Abre os seus olhos e dá a luz e o poder de ver. Dá aos homens o pão da vida, e este pão não é outra coisa que Ele mesmo. Ele é vida para aqueles que vivem e um doce perfume para aqueles que respiram. Ele reveste aqueles que querem ser revestidos. Ele reforça os viajantes e é o caminho. Ele é tanto o refúgio ao longo da estrada, como a meta da viagem. Quando combatemos, Ele combate connosco. Quando discutimos, Ele é o moderador. E quando vencemos, Ele é o prémio» (...) «[Na Eucaristia] encontra-se aqui o auge da vida».
2. Pão de esperança
Muitas pessoas não comungam, fazendo-o apenas quando se confessam. Deste modo estão a abster-se de uma grande força, estão a abster-se de receber o próprio Deus. A Eucaristia não é um prémio para os impecáveis, porque pessoas impecáveis não existem. Todos temos fraquezas e pecados, porque todos somos criaturas finitas. A Eucaristia é um remédio para a nossa fraqueza, é força para lutarmos contra o mal e contra pecado. O perdão que recebemos na Confissão e o pão eucarístico, presença de Cristo entre nós, são os maiores dons que Deus nos pode oferecer. Porque recusamos esses dons com tanta facilidade?
A Eucaristia é o modo como Cristo quer aliviar-nos, tal como Ele nos disse no evangelho de hoje.
“O meu jugo é suave e a minha carga é leve”. A Eucaristia é o jugo de Deus. Um jugo, é uma peça de madeira que serve para guiar com mais facilidade uma junta de bois, ou outros animais, e para que a força desses animais seja combinada para realizar trabalhos pesados, como lavrar um campo.
A Eucaristia é o modo escolhido por Deus para nos guiar para Si e para potenciar as nossas forças, colaborando com Deus na construção dos novos Céus e da nova Terra.
Cristo está presente na Eucaristia, dando-se-nos em alimento, para que a nossa união com Ele seja cada vez mais profunda. Não está na Eucaristia por estar; está porque na Sua grande misericórdia, Deus não nos quer deixar sós, nem desamparados.
3. Comunhão plena no Sacrifício
Alexandrina de Balasar e Carlo Acutis sacrificaram a sua vida vivendo pela Eucaristia. Sacrifício é orientar toda a vida, todo o nosso ser, para Deus. Isso implica fazer de Deus o centro das nossas vidas, aceitando que esse lugar não nos pertence. Isso para nós é difícil, exige esforço, porque não queremos abandonar o centro, queremos olhar apenas para nós mesmos, para as nossas necessidades, para o nosso egoísmo, esquecendo Deus e os irmãos.
Alexandrina e Carlo, com humildade e sabedoria – a sabedoria dos pequeninos – souberam orientar a sua vontade pela vontade de Deus e por isso as suas vidas foram vidas santas. Vidas vividas para amar a Deus, mostrando esse amor no amor aos irmãos. Isso também está ao nosso alcance, basta termos o desejo de viver com Deus, em Deus e para Deus. Isso acontece vivendo para a Eucaristia e pela Eucaristia, onde encontraremos o alimento necessário para o caminho; caminho que não se percorre sozinho, mas na companhia do próximo, daqueles que o Senhor coloca ao nosso lado, e nos chama a servi-los.
+ José Manuel Cordeiro
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