Arquidiocese de Braga -

21 novembro 2025

Arquidiocese de Braga expõe drama global da liberdade religiosa

Fotografia André Arantes

DM - André Arantes

Há atualmente 62 países onde não existe liberdade religiosa.

A Arquidiocese de Braga recebeu a apresentação nacional do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2025, da Fundação AIS, num encontro integrado na Semana Vermelha, na Igreja de Lomar, iniciativa internacional que pretende sensibilizar para a perseguição religiosa, sobretudo contra os cristãos. O evento contou com a presença do Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, da diretora nacional da Fundação AIS, Catarina Bettencourt, e do missionário argentino Pe. Hugo Alaniz, que viveu durante oito anos em Alepo, na Síria, e há três décadas no Médio Oriente.

Ao Diário do Minho, D. José Cordeiro sublinhou a importância de despertar consciências para a situação dramática que muitos cristãos enfrentam em várias partes do mundo.

“Ao celebrarmos a Semana Vermelha com a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, lembramos o sangue derramado pelo amor a Cristo, pelo testemunho credível da fé em tantos países”, afirmou, lamentando que “infelizmente está a aumentar a perseguição dos cristãos”.

O Arcebispo de Braga alertou para o silêncio que ainda existe sobre o que acontece em numerosos países e recordou que grande parte da informação chega apenas através de missionários, bispos e organizações que permanecem no terreno.

Não podemos ser indiferentes ao que acontece a tantos irmãos e irmãs nossos que só por serem cristãos são perseguidos."

“Tomamos consciência da gravidade da situação que vivemos. Na oração e na proximidade com estas comunidades, pedimos que se mantenham firmes na fé e testemunhem a alegria da esperança”, acrescentou.

Referindo-se também ao contributo do Padre Simon, sacerdote nigeriano a trabalhar na Arquidiocese, D. José destacou que o encontro em Braga “funciona como um grito de alerta” e reforçou que os cristãos perseguidos não podem ser esquecidos.

“Não podemos ser indiferentes ao que acontece a tantos irmãos e irmãs nossos que só por serem cristãos são perseguidos. O seu testemunho gera novos cristãos, porque a fé acontece por contágio”, declarou.

Apresentando as conclusões do relatório, Catarina Bettencourt referiu que este ano os dados são “particularmente preocupantes”.  Segundo a diretora da Fundação AIS, há atualmente 62 países onde não existe liberdade religiosa, abrangendo cerca de dois terços da população mundial, um total de 5,4 mil milhões de pessoas.

“Há um aumento desta ausência de liberdade religiosa face ao último relatório”, explicou. Entre os fatores que mais contribuem para o agravamento da situação, destacou o crescimento de regimes autoritários, onde a vivência da fé é restringida, o aumento da violência jihadista, sobretudo em África, e a influência crescente do crime organizado, que surge pela primeira vez como categoria própria no estudo.

“Em países como México ou Haiti, o crime organizado leva à morte, à perseguição e à discriminação, principalmente de líderes de comunidades que defendem os direitos humanos e a liberdade religiosa”, salientou.

Catarina Bettencourt apelou ainda à mobilização da sociedade civil: “A partir do momento em que cada um de nós tem conhecimento do que está a acontecer, tem o dever de se lembrar destas pessoas. Podemos apoiá-las através da oração e também com apoio material, na medida de cada um.”

O encontro contou ainda com o testemunho do Pe. Hugo Alaniz, sacerdote argentino que dedicou 30 anos da sua vida ao Médio Oriente. Recordando os oito anos vividos em Alepo, descreveu um cenário de violência extrema.

“Houve uma nova revolução na Síria há um ano e os rebeldes são os que mandam agora. Temos muito medo porque há amostras do que vai ser o futuro. Nos últimos oito meses houve quase quatro mil pessoas assassinadas”, relatou.

Apesar disso, insistiu na importância de manter viva a esperança. “Para passar uma mensagem de esperança temos que passar a mensagem do Evangelho. Ele pede-nos que permaneçamos firmes na oração e que a transmitamos a quem nos acompanha. A perseverança na fé fortalece a esperança”, afirmou.

Para o missionário, encontros como o de Braga são essenciais para que se conheça a realidade vivida em regiões marcadas pela violência e pobreza. “O objetivo é mostrar o que se está a passar noutra parte do mundo, para que exista consciência e oração por essas pessoas”, concluiu.