Arquidiocese de Braga -
15 abril 2024
Nos 105 anos do Diário do Minho - A urgência de humanizar a informação e o respeito pela dignidade do Homem

Damião Pereira
Editorial da edição de aniversário do Diário do Minho
Celebramos hoje 105 anos. Certamente, estaremos todos de acordo se dissermos que chegamos a uma bonita idade. Sabemos que o caminho foi, na maior parte das vezes, cheio de obstáculos que, à primeira vista, pareciam inultrapassáveis. Fomos perseverantes perante as adversidades, mas nunca obsessivos. Soubemos racionalizar as situações, ainda que o coração, muitas vezes, se quisesse impor.
Neste aniversário do Diário do Minho, é com imensa alegria que olhamos para o passado perspetivando o futuro, impulsionados por uma missão nunca terminada: a de proporcionar uma visão cristã dos acontecimentos do quotidiano, sempre um quadro de verdade e de pluralismo. Já o disse antes, e hoje reafirmo, que somos um jornal igual aos outros, mas diferente nos critérios que nos orientam. Foi isso que aprendi quando, há quase 43 anos, comecei a trabalhar nesta empresa.
Sabemos que discordar tem um preço, e o Diário do Minho já disso foi vítima. Continuaremos a alertar, a denunciar e a indignar-nos contra as injustiças, contra a falta de respeito pela dignidade do Homem, na defesa da verdade e da justiça. Penso que vale a pena citar o jornalista Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar que dominou o Brasil entre 1964 e 1985: «Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerar seres humanos civilizados».
Ora, neste tempo cada vez mais materializado, é importante que não percamos a capacidade humana de decidir, de gerir emoções, de deixar que o coração fale. Estamos a menos de um mês do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra a 12 de maio. Na mensagem para este dia, o Papa Francisco alerta que estamos num tempo «que corre o risco de ser rico em técnica e pobre em humanidade» e que «a nossa reflexão só pode partir do coração humano», acrescentando que «por isso a sabedoria do coração é a virtude que nos permite combinar o todo com as partes, as decisões com as suas consequências, as grandezas com as fragilidades, o passado com o futuro, o eu com o nós».
Fala-se já, e muito, da utilização da Inteligência Artificial na elaboração de notícias, substituindo os profissionais da comunicação, sendo os robôs jornalistas já uma realidade. A ser assim, corremos o risco de haver uma desumanização da profissão, perdendo-se quase tudo o que é essencial no jornalismo.
É, por isso, importante escutar e reter as palavras do Papa Francisco quando afirma que «cabe a nós questionar-nos sobre o progresso teórico e a utilização prática destes novos instrumentos de comunicação e conhecimento».
Então, temos todos nós, jornalistas, de sair para a rua, falar com as pessoas, perguntar-lhes o que querem saber, numa importante relação de proximidade. É urgente trabalhar para uma maior humanização da informação que as máquinas nunca poderão dar.
«A informação não pode ser separada da relação existencial: implica o corpo, o situar-se na realidade; pede para correlacionar não apenas dados, mas experiências; exige o rosto, o olhar, a compaixão e ainda a partilha», defende o Santo Padre.
No dia 25 de Abril celebramos os 50 anos da Revolução dos Cravos. Penso que, depois do Estado Novo, nunca o jornalismo foi tão importante como agora para o fortalecimento da democracia, mas também nunca esteve tão em perigo como até aqui. Já muito se ouviu e ouve falar que a culpa é das redes sociais, da desinformação, das administrações que, apenas com o intuito de diminuir os gastos, esvaziam Redações, da falta de qualidade informativa e pouco atraente para os dias de hoje, dos extremismos políticos... e até dos próprios jornalistas.
Em 2022, numa entrevista à agência Lusa, Milica Pesic, diretora do Media Diversity Institute, defendeu que «o jornalismo é essencial para a democracia e precisa de recuperar a confiança dos leitores que recorrem a informação não verificada nas redes sociais».
«Temos que ser pacientes, porque, se alguma coisa importa na democracia, é realmente um jornalismo muito confiável, em que o público possa realmente confiar. Se não confiarmos, como cidadãos, nos meios de comunicação social, não podemos tomar as decisões certas quando as eleições chegarem», uma afirmação de Milica Pesic que, nos dias de hoje, ganha cada vez mais força. Uma ideia defendida também pelo Instituto Vladimir Herzog: «Sem uma imprensa livre e comprometida com o interesse público, o regime democrático não prospera».
Para isso, é preciso continuar a defender uma imprensa independente de qualquer poder político e económico. E nesta área, o Diário do Minho tem cumprido o seu papel.
O Diário do Minho celebra hoje mais de um século – 105 anos. Agora com “irmãos” mais novos – DMTV e Revista Minha – e com a ajuda imprescindível da Gráfica do DM, deixamos a promessa de uma contínua entrega total, empenho e disponibilidade para que a nossa empresa se fortaleça como referência a nível nacional que já é.
Desde sempre me habituei a um jornalismo confiável. A dar importância sublime a uma frase que muitos bracarenses conhecem: «se vem no Diário do Minho é porque é verdade». Passado todo este tempo, continuamos a fazer bandeira dessa afirmação.
Prometemos atenção redobrada à desinformação, conscientes de que basta uma simples palavra para alterar o significado de uma notícia. A isso não daremos tréguas.
Caro leitor, a nossa edição de hoje inclui uma revista, de distribuição gratuita, sobre os nossos 105 anos. Trata-de de uma publicação onde procuramos mostrar um pouco da nossa história e em que falamos, também, dos nossos projetos, que só conseguiremos levar a cabo com a sua ajuda.
Chegamos aqui com a ajuda de todos. Precisamos de todos para continuar. A cada um, e usando um lugar comum, diria que vestimos todos a mesma camisola. Por isso vos agradeço o empenho.
E é em nome de todos que deixo o desejo de uma longa vida ao Diário do Minho.
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