Arquidiocese de Braga -
3 fevereiro 2021
Narrativas de quarentena de uma jovem universitária (2ª temporada)
Catarina Borges
Catarina Borges, MIEGSI (UMinho)
Ser voluntário suscita, em cada um de nós, o nosso lado mais humano, o qual poucas vezes se torna palpável. Todos aqueles que se desafiaram a integrar o Projeto (Des)Envolve-te sentem que, a cada semana que passa, ele torna-se ainda mais especial. No âmbito deste projeto, sou voluntária no Lar Santa Estefânia, onde trabalhamos com jovens e adolescentes com dificuldades cognitivas, ajudando-os a ultrapassar algumas barreiras nas suas vidas.
Devido à situação pandémica que vivemos, o voluntariado foi estruturado de forma a que o mesmo continue a decorrer, mas à distância, por isso, todos os voluntários têm de fazer as suas interações com as instituições online, por isso, desde o início do ano não houve qualquer contacto presencial. Partilhando um pouco a minha experiência, inicialmente foi bastante complicado estabelecer comunicação com as duas jovens do Lar Santa Estefânia com quem trabalho, uma vez que, considero a fase inicial uma das mais importantes, pois é aí que estabelecemos laços, percebemos os seus gostos, criamos afetos, compreendemos a forma como encaram a realidade dos dias de hoje. Dito isto, foi realmente um desafio entender como é que iríamos conseguir desenvolver atividades com o intuito de cativar e estimular jovens que estavam do outro lado do ecrã.
Com o passar do tempo, e à medida que as condições no país começavam a piorar, deixámos de acreditar que o nosso projeto, num futuro próximo, pudesse passar a presencial, ou que, eventualmente, poderíamos ver e sentir com mais proximidade física, todo o amor das nossas meninas. Esta esperança morreu um pouco, mas, felizmente as dificuldades também, uma vez que todas as semanas nos entregamos e dedicamos no sentido de melhorar o nosso método para conseguir chegar a elas, para as fazer sorrir e, aos poucos, os obstáculos foram minimizando-se.
No geral, senti que as pessoas se isolaram mais, nomeadamente a nível psicológico, isto para se proteger desta realidade, mas a meu ver, esta vivência que íamos experienciando à nossa volta não influenciou negativamente a dinâmica e o espírito do grupo. Pelo contrário, motivou-nos a fazer ainda mais e melhor, uma vez que sentimos que do outro lado existem pessoas que precisam de nós e que a nossa presença, ainda que virtual, pode fazer a diferença.
Este é o segundo ano que integro o projeto (Des)Envolve-te e reconheço que me encontro numa realidade bastante díspar da do ano anterior. Confesso também que, por diversas razões, este é um ano muito mais desafiante. No entanto, apesar disso, é muito motivador, pois manter o foco em quem precisa, meter as mãos à obra e trabalhar em função de um sorriso ou de uma gargalhada é extremamente gratificante e compensador.
Todo o projeto proporciona uma aprendizagem contínua, não só para os nossos meninos da instituição, mas também para nós. Sendo cliché ou não, aprendemos a dar valor às pequenas coisas da vida, como por exemplo dançar, cantar e sentir todas as boas energias que estes pequenos momentos nos proporcionam. Sinceramente, sinto que, por vezes, recebemos muito mais deste projeto do que aquilo que conseguimos dar, pois não há nada melhor que um coração cheio para enfrentar os constrangimentos que vivemos atualmente.
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