Arquidiocese de Braga -

14 outubro 2021

Presidente dos bispos dos EUA diz que a hierarquia não está dividida, mesmo que os bispos tenham opiniões diferentes

Fotografia CNS / Vatican Media

DACS com Crux

Plano estratégico da USCCB para os anos 2021-2024 é centrado na Eucaristia.

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O arcebispo José Gomez, de Los Angeles, e presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB), acredita que o processo sinodal de dois anos lançado pelo Papa Francisco no fim-de-semana passado é uma “boa oportunidade” para a Igreja universal.

Falando com o Crux na terça-feira, um dia após a liderança da USCCB se ter encontrado com Francisco no Vaticano, Gomez também falou sobre os bispos, dizendo que “a percepção de que os bispos americanos não estão unidos não é correcta”, e mesmo que cada prelado tenha uma opinião, “como acontece em qualquer parte do mundo”, não muda o facto de o desejo da Conferência seja “que os católicos conheçam melhor a fé católica e a pratiquem melhor”.

Embora nenhum nome tenha sido citado, o prelado também se referiu à “situação política” que poderia espalhar a ideia de que “não é preciso estar bem preparado para receber a comunhão”, numa clara referência a uma série de políticos pró-escolha que são também católicos que recebem a comunhão, como o presidente Joe Biden.

No entanto, disse, o plano estratégico da USCCB para os anos 2021-2024 seria sempre centrado na Eucaristia, mesmo que Donald Trump tivesse vencido as eleições no final de 2020.

“Sobre a questão da Comunhão, a realidade é que o que queremos é educar melhor os católicos: há estatísticas que dizem – não sei quão confiáveis são – que 70% dos católicos nos Estados Unidos não acreditam na real presença de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia”, disse Gomez. “Claramente, isto é uma preocupação para nós. É por isso que é a peça central do nosso plano estratégico para os próximos três anos, 2021-2024”.

O objectivo é terminar o processo com um Congresso Eucarístico Nacional em 2024.

“Com isso em mente, precisamos de um documento sobre a Eucaristia para dar o fundamento doutrinal e pastoral”, afirmou. “O que aconteceu é para os média, especialmente para os média seculares, tudo sobre a questão política. Mas o que estamos a tentar fazer é dar uma base ao plano estratégico da conferência”.

 

Crux: O que vos trouxe a Roma desta vez?

Arcebispo Jose Gomez: Todos os anos, o presidente e o vice-presidente da Conferência vêm a Roma para ter uma audiência com o Santo Padre e também visitar as congregações. No ano passado, não pudemos vir por causa da Covid-19.

 

Como estão a correr as reuniões?

Muito bem. O momento foi bom, porque pude estar na Missa de abertura do Sínodo no Domingo, e também participei no encontro de Sábado para o lançamento do processo sinodal, organizado pelo Gabinete do Sínodo dos bispos.

 

O que achou da abertura do processo sinodal?

Acho que é uma boa oportunidade para a Igreja universal, especialmente depois da Covid-19, onde enfrentamos tantos desafios. Nos Estados Unidos, por exemplo, tivemos que fechar as portas de todas as paróquias e só foram abrindo aos poucos. Acho que é uma grande oportunidade de estender a mão às pessoas e ajudá-las a compreender que todos somos chamados a ser membros activos da Igreja. Na Arquidiocese de Los Angeles, também temos a bênção do nosso ano jubilar este ano, porque temos o 250º aniversário da fundação da primeira Igreja em Los Angeles, a Missão San Gabriel. Acho que a combinação destes dois factores é boa porque, como parte do ano jubilar, temos paróquias jubilares nas cinco regiões da arquidiocese.

 

Mencionou as paróquias jubilares, mas como vê o processo sinodal a decorrer a nível paroquial / diocesano?

Nos Estados Unidos, há uma estrutura que significa que cada diocese tem um conselho paroquial diocesano, cada região da diocese tem um conselho regional e cada paróquia o seu próprio conselho. Esta missão específica do Sínodo permite-nos energizar os conselhos e, através deles, também podemos chegar a muitas pessoas. Para nós, como fazer o sínodo provavelmente é mais fácil do que para outras partes do mundo, porque temos uma estrutura criada que nos permitirá chegar a muitas pessoas. Além disso, várias dioceses nos Estados Unidos tiveram sínodos recentemente, com vários bispos a partilharem essa experiência comigo. É um processo conhecido de muitos nos Estados Unidos e acredito que, vendo como a realidade mudou, incluindo o facto de as famílias terem menos filhos, temos menos imigrantes a virem para os Estados Unidos e a tragédia do aborto. Nesse sentido, o número de pessoas que vêm à Igreja está a diminuir, e também por causa da Covid-19, porque têm medo, acham que podem ficar doentes e têm dúvidas sobre vir. E as estatísticas dizem-nos que os jovens não estão muito interessados na Igreja. Todas estas são razões pelas quais precisamos de estar abertos e entusiasmados com o Sínodo, porque nos dá a oportunidade de estar lá fora.

 

Quando diz que as pessoas se deveriam envolver no Sínodo, como vê isso acontecer?

Acho que uma boa maneira de pensar sobre isto é o subtítulo do Sínodo: comunidade, participação e missão. Esta é uma boa maneira de entender o que é o Sínodo. E devemos lembrar que a Igreja não é apenas os sacerdotes dos bispos, mas o Povo de Deus. Acho que este Sínodo nos dá a oportunidade de partilhar uns com os outros, porque todos nós somos chamados à santidade. Acho que, historicamente, alguns têm a impressão de que a Igreja são os bispos e os padres, mas não, todos nós somos Igreja. Tudo começa com o baptismo, é o mesmo para todos. Creio que é disso que se trata a sinodalidade, entender melhor o nosso chamamento cristão à santidade e sentir a responsabilidade de participar da vida da Igreja. Espero que, como consequência disso, possamos, como diz o nosso Santo Padre, ser discípulos missionários.

 

O que o mantém acordado à noite?

Muitas coisas! A idade…

 

Quanto envelheceu nos últimos anos?

Como posso dizer isto de uma maneira simpática... Neste tempo de pandemia era mais difícil fazer exercício físico e, bem, estou a perder a minha energia. Mas Los Angeles é a maior Arquidiocese do país e, como sabe, os meus irmãos bispos elegeram-me presidente da Conferência, então isso é ainda mais responsabilidade. Mas durmo bem...

 

Então não vai responder à pergunta?

O que me preocupa, obviamente, é o facto de as pessoas não se sentirem ligadas à Igreja, principalmente os jovens, razão pela qual iniciamos vários eventos para jovens, como a Jornada da Juventude no Congresso de Ensino Religioso. Temos um encontro juvenil anual chamado Cidade dos Santos, também temos o Serviço Cristão pela Vida e actualmente estamos a trabalhar nas Escolas Católicas da Arquidiocese, porque temos mais de 70.000 crianças nas Escolas Católicas e estamos a tentar fortalecer o programa de educação religiosa. Esta é uma grande preocupação que tenho, que os jovens não se sintam ligados à Igreja.

 

É correcto falar de uma USCCB dividida?

A percepção de que os bispos americanos não estão unidos não é correcta. Os bispos têm sempre opiniões, como em qualquer parte do mundo. Mas é claro que o que queremos é que os católicos conheçam melhor a fé católica e a pratiquem melhor. Sobre a questão da Comunhão, a o que queremos é educar melhor os católicos: há estatísticas que dizem – não sei quão confiáveis ​​são – que 70% dos católicos nos Estados Unidos não acreditam na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Claramente, isso preocupa-nos. É por isso que a peça central do nosso plano estratégico para os próximos três anos, 2021-2024, é “Criados de novo pelo Corpo e Sangue de Cristo: Fonte de Nossa Cura e Esperança”. É por isso que temos um programa chamado avivamento eucarístico, que vai começar nas paróquias e dioceses e culminar num Congresso Eucarístico Nacional, provisoriamente no Verão de 2024, em algum local na parte central do país. Com isto em mente, precisamos de um documento sobre a Eucaristia para darmos o fundamento doutrinal e pastoral. O que aconteceu é para os média, especialmente os média seculares, tudo sobre a questão política. Mas o que estamos a tentar fazer é dar uma base ao plano estratégico da conferência.

 

Quer dizer que este plano e um documento ainda estariam na agenda se Trump fosse reeleito?

Correcto. Esse era o plano. O que acontece é, obviamente, que existe uma preocupação entre os bispos nos Estados Unidos de que, por causa da situação política, a ideia de que não é preciso estar bem preparado para receber a comunhão se possa propagar. Mas também é realidade nos Estados Unidos que se perdeu a necessidade de abordar o sacramento da reconciliação. E isso é muito importante e vai estar no documento.

 

Dada a prioridade do sacramento da reconciliação, da imigração, do valor intrínseco da vida, de onde veio a suposta divisão entre os bispos norte-americanos e o Papa Francisco?

Acho que é um equívoco, porque nós, bispos, estamos muito felizes com a Evangelii Gaudium, a Laudato Si’ e os ensinamentos do Papa Francisco. Claro, existem diferentes percepções das pessoas, a cultura americana é mais estruturada, então talvez às vezes faça parte da percepção, mas a realidade é que os bispos estão unidos uns com os outros e unidos com o Santo Padre.

Artigo de Inés San Martin, publicado no Crux a 13 de Outubro de 2021.