Arquidiocese de Braga -

5 janeiro 2022

Igreja Polonesa está em declínio devastador, afirma o Primaz da Polónia

Fotografia EPA

DACS com La Croix International

Incapacidade da hierarquia em lidar com casos de abuso contra menores desempenhou um papel importante no declínio, disse o arcebispo Wojciech Polak.

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A outrora solidamente pátria católica de São João Paulo II está em declínio “devastador” entre os jovens, em grande parte por causa dos abusos sexuais do clero, e apenas um processo contínuo de “purificação” pode conter essa regressão, disse o Primaz da Polónia.

O Arcebispo falava sobre dados recentes, desde 1992, publicados pela CBOS, a agência de investigação estatal da Polónia, mostrando que menos de 25% dos jovens poloneses actualmente praticam a religião católica. No início da década de 1990, este número era de quase 70%.

“São números simplesmente devastadores”, disse o arcebispo Polak, em entrevista à Agência de Imprensa Polonesa (PAP). “Uma reavaliação muito forte está a acontecer na geração jovem”.

O Primaz afirmou que a incapacidade de a hierarquia da Igreja lidar com casos de abuso contra menores teve um papel importante neste declínio.

“Sem dúvida, a negligência dos superiores [da Igreja], que não ficaram do lado das vítimas, mina a nossa credibilidade como comunidade eclesial”, disse.

O jornalista Tomasz Sekielski produziu um documentário sobre abusos sexuais na Igreja em 2019 que despertou a ira de muitos poloneses.

A comissão estatal de pedocriminalidade publicou um documento em Julho passado que mostrava que 30% dos casos de abuso sexual de menores cometidos entre 2017 e 2020 tinham sido cometido por membros do clero.

Esta questão dos abusos sexuais também levou a uma queda significativa nas admissões ao seminário. A Conferência dos Seminários Maiores da Polónia informou que a Igreja local experimentou uma queda de 20% nas matrículas no seminário no ano passado, com apenas 356 homens em formação sacerdotal, em comparação com 441 em 2020 e 828 apenas nove anos antes. Isto apesar de a Igreja na Polónia tomar várias iniciativas para lutar contra este flagelo dos abusos sexuais.

O Papa Francisco emitiu o “motu proprio” Vos estis lux mundi em 2019 para lidar com os bispos que não lidam bem ou tentam encobrir os casos de abuso. Desde a sua publicação, o Vaticano emitiu uma série de sanções disciplinares contra nove bispos poloneses só no ano passado.

A última foi contra o arcebispo emérito Marian Golebiewski de Wroclaw. O prelado de 83 anos foi considerado culpado de “negligência” em casos de abusos sexuais de menores por padres.

O arcebispo Marek Jędraszewski, de Cracóvia, tornou-se a 28 de Dezembro o mais recente prelado católico a emitir um decreto para restringir de forma estrita o contacto entre padres e jovens menores de idade com o objectivo de combater a pedocriminalidade na Igreja polonesa.

No entanto, Polak diz que a questão dos abusos “causou uma profunda crise de fé” a muitos católicos, levando ao declínio da frequência na igreja, com alguns a abandoná-la completamente. A única forma de “reconstruir a credibilidade da Igreja” é mostrar que permanecem “na verdade” e assumem “a responsabilidade de esclarecer todos estes crimes”, disse Polak à PAP. “Não é um processo de purificação fácil, mas é necessário para que nos tornemos cada vez mais credíveis”. O Arcebispo Polak já falou da “grande vergonha e dor” da Igreja e pediu perdão tanto pelos crimes, como pela “negligência” dos superiores dos perpetradores.

Uma investigação publicada em 2020 mostrou que 54% dos poloneses disseram não confiar na Igreja, apenas 33% disseram que confiam. Cerca de 80% acredita que a igreja não está a fazer o suficiente para proteger as crianças. Outra pesquisa mostrou que apenas 9% dos jovens vêem a igreja de forma positiva.

Artigo publicado no La Croix International a 4 de Janeiro de 2022.