Arquidiocese de Braga -

21 janeiro 2022

O “Sempre foi feito assim”, não funciona! Os novos desafios da Missão de Ocua, Diocese de Pemba

Fotografia Salama!

O Conquistador

Pe. Manuel António Faria, equipa missionária Salama! 2021

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Novos desafios, novas oportunidades, neste mundo instável, nascem nesta Missão cristã da paróquia de Santa Cecília de Ocua, distrito do Chiure, Diocese de Pemba.

Os cristãos que ficam com a desculpa do “sempre foi assim” têm o coração fechado para as surpresas do Espírito Santo. (Papa Francisco)

Chegamos ao final de 2021, o segundo ano da pandemia, o qual, entre outras desgraças, deixou que as nossas 98 capelas da missão, ficassem por mais 6 meses encerradas por decreto presidencial, e com muitas precauções da Igreja de Moçambique. Foi um grande desafio, e agora precisamos de sentir o regresso, a coragem, a criatividade de reanimar as comunidades, que continuam atingidas pela pandemia, pela corrupção, pela injustiça, pelo terrorismo, pelo compadrio, pela cultura etnocentrica, discriminação das meninas e mulheres, etc.

No Outubro Missionário iniciamos uma ronda de visitas a todas as unidades ou zonas pastorais onde se juntam as comunidades cristãs. Foram 17 visitas realizadas (o total das zonas existentes) até meados de Dezembro.

Missão cumprida com encontro de apresentação das comunidades e seus responsáveis, celebração da Eucaristia, e a formação de Ministros extraordinários da Eucaristia, iniciada pela equipa missionária do Padre Paulino.

Depois, em dia da solenidade do Natal de Jesus, celebramos nas 3 zonas de formação pastoral: na Zona de Napela, com a presença do Padre Fonseca (natural de Ocua, em visita à família), na Sede da Paróquia de Ocua, com o paróco, Pe. Manuel Faria, onde realizamos cerca de 120 Batismos de crianças de pais “matrimoniados”. E celebramos também na Zona de Namogelia, é das mais distantes (70 Km) da Sede da Missão, onde com o nosso estimado Frei António, sacerdote capuchinho que colabora connosco, realizamos mais cerca de 30 Batismos.

Nesta maneira, comprometida de proximidade e presença, poderemos enfrentar o 2022 com serenidade apesar dos imprevistos e das constantes tragédias tais como guerras, terrorismos, povos deslocados, refugiados, discriminação e exploração dos seres mais frágeis,  que continuam a surgir dentro do País e, de modo particular, na nossa província de Cabo Delgado.

Continuaremos a visitar as comunidades cristãs em aldeias remotas e quase inacessíveis, em caminhos intransitáveis, com sol ou chuva, continuaremos a encontrar as pequenas comunidades, a rezar, celebrar, motivar e orientar para a edificação de comunidades cristãs simples, mas cheias de fé, esperança e amor.

O acolhimento à nossa chegada é uma festa, com cânticos, danças e hinos de louvor e ação de graças pela chegada da equipa missionária, que vem visitar o povo de Deus, celebrar a Eucaristia, reconciliar, animar e purificar a vida cristã da comunidade.

Nestas terras de missão acreditamos na importância da “presença” e por isso as visitas são constantes, queremos fazer aproximação possível das 98 comunidades, com a sua Igreja ou capela, que cada domingo podem fazer celebração da palavra, mas realizar uma eucaristia é muito difícil, pois há apenas um Pároco, o Pe. Faria, e um colaborador, Frei António, para este cenário enorme de tantas comunidades, e tão dispersas pela distância de 100 Km entre as extremidades da paróquia.

Problemas de saúde, malária, pandemia, também fazem testes à nossa resistência!

Mas, perante as dificuldades de vida em Moçambique, onde a pobreza é um fenómeno presente, como a falta de condições dignas de vida, com a ausência de alimentação, sem dinheiro, sem trabalho, sem escola para todos, e sem roupa para vestir, entende-se que este povo cristão, que passa grandes privações, reconheça a grande responsabilidade da equipa missionária, diante daqueles que são excluídos, abandonados e discriminados.

Somos a voz daqueles que não têm voz!

Agimos com a força do evangelho, acima dos interesses instalados, e não ficamos apenas reclamando, e a cruzar os braços, no ridículo da “paciência”!

Este contexto cultural e religioso exige muita capacidade de confrontar o evangelho com a vida de pobreza e miséria deste povo.

Então, para nos deixarmos transportar e conduzir pela ousadia própria do Evangelho, é requerida: “uma atitude de abertura, criatividade, mais formação, mas também sacrifício, compromisso, transparência e rectidão nas escolhas, principalmente neste momento difícil.

Nós, equipa missionária de Ocua (Andreia, Fátima, Pe. Faria e Frei António) abandonamos definitivamente a expressão que “sempre foi feito assim” – pois é suicida da comunidade, o “sempre foi feito assim” - já não dá credibilidade, porque gera superficialidade e respostas válidas apenas na aparência (EG. 33). O povo de Deus precisa de tempos novos!

Como afirma o Papa Francisco, na exortação apostólica Evangelii Gaudium, sobre o anúncio do evangelho no mundo actual: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-preservação”. (EG, 27)

A nossa última visita foi em Dia Mundial da Paz, (1 de Janeiro) com a celebração da Eucaristia pela Paz, em dois campos de famílias deslocadas pela guerra e terrorismo em Cabo Delgado, presentes nas proximidades da Sede da paróquia de Ocua.

Artigo publicado no Jornal O Conquistador de 21 de janeiro de 2022.


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