Arquidiocese de Braga -

27 janeiro 2022

Diversidade religiosa não deve ser fonte de divisão, diz cardeal Iraquiano

Fotografia WCC

DACS com Crux

Um dos principais prelados católicos do Iraque disse que a busca pela unidade entre os cristãos não se deve concentrar na procura de uniformidade, mas devia sim abraçar a diversidade dos vários ritos e tradições do Catolicismo.

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Esses ritos e costumes variados, disse, não devem ser fontes de divisão, mas oportunidades para entender e respeitar a rica diversidade da comunidade cristã global.

Falando num evento de encerramento da Semana Internacional de Oração pela Unidade dos Cristãos, o Patriarca Caldeu da Babilónia Luis Raphael Sako disse que a efeméride anual é uma oportunidade para Deus iluminar as cabeças de várias igrejas cristãs e “suavizar os seus corações para a reaproximação e unificação de discursos e ideias diante dos desafios enfrentados pelas igrejas do mundo e as igrejas no Médio Oriente em particular”.

Os perigos que os cristãos enfrentam no Médio Oriente, afirmou, “são uma existência preocupante”.

A unidade neste contexto, disse, é essencial e deve ser procurada “nas profundezas invisíveis da fé e do espírito”.

“A lei da nossa fé é uma e os nossos rituais são próximos, especialmente no que diz respeito à essência das nossas celebrações dos sete mistérios”, mas essa unidade “não é completa eclesiasticamente, porque a forma das igrejas é diferente”, observou.

“A geografia é diferente, a linguagem é diferente e assim por diante em relação aos seus rituais, tradições, leis e liderança”, disse Sako, sublinhando que “essas igrejas não podem ser despojadas da sua identidade”.

O importante, explicou é que “essa bela diversidade não se transforme em desacordo, rivalidade e isolamento”.

A unidade, argumentou Sako, não é apenas uma busca administrativa, mas possui uma “dimensão teológica, espiritual e pastoral”.

Por isso, “é importante trabalhar para cristalizar e unificar algumas expressões teológicas e doutrinárias”, disse, mas as igrejas devem fazê-lo com unidade espiritual, “que era o desejo de Cristo, e é o desejo de todo o cristão”.

Realizada de 18 a 25 de Janeiro, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos foi estabelecida em 1908 por Paul Watson, um sacerdote anglicano e cofundador da Sociedade da Expiação. A Igreja Católica aderiu à iniciativa em 1968 e tem celebrado o evento anual desde então.

O tema deste ano, “Vimos a estrela no Oriente e viemos adorá-la”, foi escolhido pelo Conselho de Igrejas do Médio Oriente.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos deste ano acontece quase um ano depois da visita histórica do Papa Francisco ao Iraque de 5 a 8 de Março de 2021, que marcou a primeira vez que um Papa pôs os pés no país, onde os cristãos há muito enfrentam discriminação e perseguição violenta.

Na sua própria vigília de encerramento do evento, o Papa Francisco fez uma menção especial aos cristãos perseguidos pela sua fé, dizendo que “muitas vezes são os mais fracos que trazem a mensagem mais importante de salvação. Isto foi o que agradou a Deus: salvar-nos não com o poder deste mundo, mas com a fraqueza da cruz”.

“Mesmo os menores e menos significativos aos olhos do mundo, se experimentam o Espírito Santo, se são animados pelo amor a Deus e ao próximo, têm uma mensagem a oferecer a toda a família cristã”, afirmou.

Francisco também pediu aos líderes cristãos que evitem disputas internas e partidárias, dizendo: “cada comunidade tem um presente a oferecer às outras. Quanto mais olharmos além dos interesses partidários e superarmos os legados do passado no desejo de avançar em direcção a um patamar comum, mais prontamente reconheceremos, acolheremos e partilharemos estes dons”.

Mais cedo naquele dia, o Papa Francisco reuniu-se com o presidente do Iraque, Barham Saleh, no Vaticano, onde discutiram a protecção das minorias cristãs no país.

Nas suas observações, Sako disse que a procura da unidade entre os cristãos requer “arrependimento, renovação e respeito, e que cada igreja reconheça no rosto da outra uma igreja e se esforce para alcançar a perfeição da comunhão”.

“Temos que perceber as dimensões da unidade e as suas exigências para que cada parte sinta os seus conteúdos, para que o desejo de unidade seja parte essencial da nossa consciência de fé e do nosso comportamento pessoal e eclesial”, indicou.

Sako salientou a necessidade do respeito mútuo e da cooperação com “confiança e sinceridade”, especialmente nos campos da educação e do serviço pastoral, bem como no sector social e em situações de emergência.

“Deste ponto de vista, é necessária uma nova e profunda leitura desta diversificada herança eclesiástica para aproximar as ideias através de um diálogo honesto e corajoso, com um só coração e um só espírito evangélico, como exige a situação actual”, afirmou.

Sako encerrou o seu discurso exortando os líderes das diversas comunidades cristãs do Iraque “a caminharem juntos nos passos da unidade, como foi desejado por Cristo”.

 

Artigo de Elise Ann Allen, publicado no Crux a 27 de Janeiro de 2022.