Arquidiocese de Braga -
14 março 2022
Convento no oeste da Ucrânia abriga refugiados da guerra
DACS com Crux
“Talvez Deus tenha nos enviado aqui para salvar estas pessoas. Eu sei que Deus nos vai ajudar a ajudá-los. E Ele dar-nos-á forças para ficarmos”, afirma Irmã responsável pelo convento.
E está a fortalecer-se, apesar da sua missão estar no oeste da Ucrânia, actualmente sob ataque da Rússia.
“Estou a ver um país que está de joelhos, não porque estão prontos para ceder, mas em oração, com a sua confiança depositada em Deus”, disse ao Crux, na tentativa de explicar o porquê de as Irmãs estarem a tentar terminar a casa de retiros e abri-la para receber mais 200 refugiados.
As despesas vão disparar quando terminarem, de facto, o trabalho: como está, esta casa administrada pela Congregação das Irmãs de São José de São Marcos paga 3.300 dólares por mês apenas em aquecimento. Além disso, ainda estão em processo de compra das camas, cadeiras e mesas necessárias para dar alguma dignidade à esperada nova afluência de refugiados.
“Deus providenciará”, disse Payyappilly, quando questionada sobre como as sete freiras e as doze noviças que actualmente trabalham no convento planeiam pagar essas despesas. “A Providência não nos falhou até então, não acredito que o fará agora”.
“Deus está a utilizar-me para salvar pessoas da morte na Ucrânia”, disse a Irmã. Entre os que conseguiu ajudar está uma mãe de dois filhos, o mais novo dos quais tem literalmente a idade da guerra, já que nasceu a 24 de Fevereiro. O homem da casa trouxe-os para o convento de Mokachevo, na parte ocidental da Ucrânia, e depois voltou para Kiev, pronto para lutar pelo seu país.
Payyappilly é originária da província de Sanjo, no estado indiano de Kerala, mas a Superiora de 48 anos mora na Ucrânia há 20 anos. Quando a guerra estourou, anunciou através do Facebook que o convento abriria as suas portas aos refugiados e, desde então, as pessoas estão a chegar.
“Sou uma pregadora bem conhecida aqui na Ucrânia”, disse. “É por isso que, mesmo antes de divulgarmos essa mensagem, as pessoas sabiam que poderiam vir até nós e que faríamos o nosso melhor para mantê-las seguras, quentes e alimentadas”.
O convento da congregação, fundado em França em 1845 pelo padre Pierre Paul Blanck, está localizado em Mukachevo, de onde dezenas de milhares de refugiados partem para a Eslováquia, Hungria ou Roménia.
“Por enquanto, estamos seguros, a polícia está a fazer um óptimo trabalho”, disse a religiosa.
Abriram as portas do convento a 24 de fevereiro.
“As pessoas vieram ao nosso portão, perguntaram se podiam ficar connosco, e nós dissemos «Ok, podem»”. Depois foram para a estação de comboios, para ver se podiam ajudar. Viram uma mãe de três filhos, que não sabia para onde ir. Quando ela perguntou a Payyappilly se poderia ficar, novamente a freira indiana disse: “Ok, pode vir”.
“Vi cenas muito comoventes, pais que mandam os seus filhos embora sem saber o que lhes vai acontecer. Evacuaram-nos para mantê-los longe da guerra, mas eles têm 8, 9, 10, 12 anos e partem sozinhos de comboio sem saberem qual será o seu destino final”, afirmou a Irmã.
O povo da Ucrânia, segundo as religiosas, “é muito, muito generoso”, sempre pronto a ajudar quando é preciso. Desde que chegou a este país, disse a Superiora, “a ajuda apareceu sempre”.
Durante estes dias, apesar de as pessoas saberem com certeza que a situação iria piorar antes de melhorar, permaneceram generosos: “Recebemos comida da Alemanha, um pequeno autocarro cheio de comida. Isso foi na quinta-feira. Até então, o povo ucraniano era quem nos ajudava. Aqueles que têm lojas bateram às nossas portas, ofereceram-se para nos dar comida. Se precisarmos, estas pessoas estão muito prontas para nos ajudar.”
“De momento, não precisamos de muita ajuda material porque estamos a receber assistência humanitária da Alemanha e da própria Ucrânia e temos o suficiente para comer”, disse Payyappilly.
Não importa a duração da crise, porém, a religiosa não tem intenção de partir e, juntamente com outras duas religiosas índias que vivem com ela, pretendem ficar o tempo que for necessário: “Além do convento e do centro de retiros, também administramos uma casa para mulheres idosas. Não temos intenção de deixá-las para trás, nem elas podem ser movidas. Elas também são órfãs, não tinham família antes da guerra começar”.
“Talvez Deus tenha nos enviado aqui para salvar estas pessoas. Eu sei que Deus nos vai ajudar a ajudá-los. E Ele dar-nos-á forças para ficarmos”, afirmou.
“O povo ucraniano está a confiar em Deus. Estão ajoelhados à frente de Deus. Portanto, acredito firmemente que a Ucrânia permanecerá de pé. Estas pessoas sabem rezar. Estão ajoelhados à frente de Deus. Crianças também. Deus está connosco. Certamente que há sofrimento. Mas Deus não nos irá abandonar, pois temos a nossa confiança em Deus”, concluiu.
Artigo de Inés San Martín, publicado no Crux a 14 de Março de 2022.
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