Arquidiocese de Braga -

21 abril 2022

“É preciso que o Papa venha ao Sudão do Sul para dar continuidade ao processo de paz”

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

Christian Carlassare, bispo da diocese sul-sudanesa de Rumbek, destaca o apreço da população civil pela figura de Francisco e considera que “não haverá grandes riscos” durante a sua visita em Julho.

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De 5 a 7 de Julho, o Papa Francisco visitará Juba, capital do Sudão do Sul, a segunda etapa da sua nova viagem africana que o levará a Kinshasa e Goma, na República Democrática do Congo, nos três dias anteriores.

Christian Carlassare, bispo da diocese sul-sudanesa de Rumbek, considera que a visita de Jorge Mario Bergoglio é “necessária” para “dar continuidade ao processo de paz”, que foi justamente promovido quando o Pontífice recebeu os líderes deste processo no Vaticano para convencê-los a parar as hostilidades.

Esse encontro significativo ocorreu em Abril de 2019 e ficou na história pelo gesto marcante do Papa, que se ajoelhou para beijar os pés dos líderes sul-sudaneses.

Num encontro com jornalistas através da internet realizado nesta quinta-feira, Carlassare destacou a contribuição de Bergoglio para o processo de paz, que levou as partes opostas a entender “que as negociações não poderiam fracassar e que era preciso chegar a um compromisso, pelo que todos teriam que abrir mão de alguma coisa”.

Aquele impulso de Francisco, que levou ao nascimento de um Governo de unidade nacional, deve ser renovado porque “é necessário que se repita todos os anos”, para que a paz “pedida aos políticos” chegue verdadeiramente ao povo.

“O Papa está ciente de que as coisas precisam de tempo e de um longo caminho. “Não vem para ver a paz já conseguida, mas sim para continuar o caminho de paz”, assegurou Carlassare, que apresentou o Sudão do Sul como um “laboratório de ecumenismo” no qual diversas Igrejas realizam um “caminho comum” para acabar com a guerra civil.

Neste sentido, este missionário comboniano italiano adiantou que Francisco chegará ao país acompanhado pelo arcebispo de Cantuária, Justin Welby, líder da comunidade anglicana.

 

“Ferido no coração” pelo ataque

Na próxima terça-feira completa-se um ano desde que Carlassare sofreu um ataque ao levar um tiro nas pernas logo após a sua eleição como bispo ter sido tornada pública. Depois de passar vários meses em intervenções médicas e reabilitação no Quénia e na Itália, agora está fisicamente recuperado, embora o que aconteceu lhe tenha deixado “uma ferida no coração”.

Questionado sobre este acontecimento, o líder da diocese de Rumbek explicou que há quatro pessoas detidas por alegadamente estarem relacionadas com o atentado, cuja sentença poderá ser conhecida em breve.

Sem querer entrar nas motivações do ataque, o missionário italiano reconheceu que há necessidade de “reconciliação e escuta” na diocese. Por isso, convidou “a não se fechar os olhos ao que aconteceu e a apostar na justiça restaurativa, que só nasce do perdão”.

 

Sem “grandes riscos” na visita Papal

Apesar da instabilidade no Sudão do Sul e do facto de ainda existirem episódios violentos esporádicos, Carlassare mostrou-se optimista quanto à evolução do país e considerou que não haverá problemas de segurança com a visita do Papa.

“Existem sempre esses medos em África, mas não acho que haverá grandes riscos. Tanto a segurança nacional quanto o Vaticano já estão a trabalhar nisso", disse, destacando o apreço que a população do Sudão do Sul sente pelo bispo de Roma.

“Ele é visto como uma figura que defende a dignidade humana, a paz e a fraternidade. Há uma grande alegria e emoção sobre a visita. As pessoas estão convencidas de que durante esses dias estarão sob os holofotes do mundo”, comentou Carlassare.

Artigo de Darío Menor, publicado em Vida Nueva Digital a 21 de Abril de 2022.