Arquidiocese de Braga -
13 maio 2022
A procura por si mesmo, mais do que a fé, coloca muitos no Caminho de Santiago
DACS com La Croix International
Há uma nova investigação sobre o que motiva centenas de milhares de pessoas a fazer o “Caminho de Santiago” todos os anos em direcção ao famoso santuário espanhol de Santiago de Compostela.
“Os Caminhos de Santiago de Compostela são uma resposta ao turismo de bem-estar, ou «turismo lento», como é chamado em mau francês”, diz Caroline Leboucher, directora geral da Atout France, o braço de turismo do governo francês.
O operador público e a agência francesa Compostela Pilgrim Ways revelaram à imprensa nesta quarta-feira os resultados de um grande estudo realizado em cinco regiões francesas.
O objectivo era perceber melhor o que motivas as pessoas a fazerem o Caminho de Compostela ou de “St. James”, como muitas vezes é chamado em inglês.
Um total de 3.565 questionários foram preenchidos e analisados entre Maio e Novembro de 2021.
Desde o século IX, que peregrinos em grande número se deslocaram através de várias rotas para a Catedral de Santiago Compostela, na Galiza (noroeste de Espanha), para visitar o túmulo do apóstolo São Tiago Apóstolo.
Mas nos dias de hoje a fé religiosa já não é o factor motivador central.
Segundo o estudo da Compostela Pilgrim Ways Agency, apenas “um em cada dez inquiridos está num processo «religioso» ligado à sua fé (12%)”.
Em 2003, a oração, a crença ou a piedade inspiraram um em cada cinco peregrinos (20%) segundo outro inquérito.
“Para se encontrarem”
Mas a dimensão espiritual não está totalmente ausente da jornada, já que cerca de 20% dos caminhantes ficam em presbitérios ou albergues monásticos.
No entanto, a maioria diz que faz o Caminho para “se encontrar, recarregar baterias e reorientar”.
Leboucher disse que os Caminhos de Compostela são o caminho para “um turismo mais sustentável que leva a uma reconexão com a natureza, e uma reconexão com os outros e consigo mesmo”.
Pouco mais de metade (51%) dos entrevistados menciona a busca por uma “pausa” e o desejo de “tirar um tempo para si”.
A dimensão cultural atrai quase um quarto dos entrevistados, que fazem o Caminho para “descobrir um território e o seu património de forma original”.
É preciso dizer que os caminhos têm muitas vantagens: desde 1998, cerca de 80 lugares ao longo do Caminho – entre igrejas, partes da estrada e pontes – foram classificados pela UNESCO como Património da Humanidade.
No entanto, caminhar continua a ser o objectivo central de 75% das pessoas que percorrem os caminhos.
“Caminhos para todos”
A Agência Compostela Pilgrim Ways acredita que a dimensão espiritual, no sentido lato do termo, é constitutiva da identidade destes percursos.
Mas disse que há “um risco se essa «espiritualidade» for gradualmente associada a uma imagem de envelhecimento, mesmo que a busca pela espiritualidade esteja muito na moda e muito moderna na sociedade de hoje”.
John Palacin, presidente da agência, disse ao La Croix que o seu grupo continuará a trabalhar “com a UNESCO... para promover o excepcional valor universal dos Caminhos”.
“Não interferimos nas motivações dos caminhantes. Defendemos os Caminhos para todos”, acrescentou.
Artigo de Alice Clavier, publicado no La Croix International a 12 de Maio de 2022.
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