Arquidiocese de Braga -
1 junho 2022
Actualização do Sínodo: Católicos brasileiros criam uma “dinâmica fértil”
DACS com La Croix International
O “La Croix” continua a acompanhar o processo sinodal em três lugares diferentes do mundo. Hoje, uma actualização sobre um grupo de católicos no Brasil.
No maior país católico do mundo, o processo sinodal foi um verdadeiro momento de reflexão.
Edson Silva participou em 70% dos encontros virtuais de quinta-feira à noite na plataforma de discussão Meets, trabalhando nas propostas que serão enviadas a Roma em Agosto.
A síntese de aproximadamente 10 páginas ainda está a ser preparada e irá exigir várias semanas de trabalho colectivo.
“Este processo sinodal parte de uma excelente intenção do Papa Francisco e, após um início difícil devido à comunicação horizontal da nossa Igreja, conseguimos criar uma dinâmica fértil”, disse Silva, de 50 anos, funcionário público que coordena projectos sociais no Estado de São Paulo.
Com a mesma energia do início do processo, Lis Marques continua a falar da sinodalidade como uma oportunidade única de discussão de ideias.
Falando do seu gabinete no Colégio Notre Dame, destacou os meses de debates online que reuniram católicos de outros bairros que não a comunidade eclesial de base de São Mateus (zona Oeste de São Paulo) – pessoas como Edson Silva, que mora a dezenas de quilómetros de distância e pertence à região episcopal do Ipiranga, no sul da megalópole.
Mas quando pensa num encontro significativo, Marques diz que Terezinha logo lhe vem à mente. É uma mulher que Lis nunca conheceu antes, mas cuja metodologia, intelecto e presença – mesmo que virtualmente – realmente a comoveram.
Embora as reuniões digitais fossem uma necessidade no início do ano por causa da pandemia, agora elas são uma escolha estratégica para os católicos que desejam trazer vozes de fora do seu bairro.
Por uma Igreja mais política
Aqueles que estiveram mais activamente envolvidos no processo sinodal concordam que os debates foram muito ricos, mas também sabem que a Igreja não mudará da noite para o dia.
“Depois da rigidez de Bento XVI, vejo o Papa Francisco como uma transição. Mas a Igreja não se posiciona com clareza para combater a pobreza e limita-se a acções paliativas”, lamentou Silva.
O seu trabalho diário com assistentes sociais numa cidade caracterizada pela desigualdade convenceu-o de que é na luta contra a precariedade que a Igreja mais falha.
“Eu era um jovem sob D. Evaristo Arns”, disse, lembrando o falecido cardeal-arcebispo de São Paulo e apóstolo da teologia da libertação dos anos 1970.
“Sei que a Igreja pode e deve dialogar com os pobres. É isso que os evangélicos estão a fazer. Eles não hesitam em afirmar-se politicamente para defender os seus interesses, ser proselitistas e pró-Bolsonaro”, disse Silva.
Destacou o declínio da influência da Igreja Católica na sociedade brasileira e a ascensão do protestantismo evangélico, influente nos mais altos escalões do poder, um lobby assertivo com uma mistura de géneros muito diferente dos métodos do catolicismo institucional.
“Devemos comprometer-nos com a defesa dos povos indígenas e a sua espiritualidade milenar, e a fortalecer o lugar dos LGBTQIA+ e afro-brasileiros, que representam mais de 50% da população”, disse Lis Marques.
Ela orgulha-se do caminho já percorrido e diz que, graças ao processo sinodal, “está a ser criada uma nova rede de leigos sul-americanos e caribenhos”.
Artigo de Marie Naudascher, publicado no La Croix International a 1 de Junho de 2022.
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