Arquidiocese de Braga -

20 setembro 2022

O Sínodo dos “influencers”: 67% dos católicos digitais querem mudanças ao estilo de Francisco

DACS com Vida Nueva Digital

Santa Sé recebeu uma síntese promovida por mais de cem entidades com 110.000 questionários virtuais em 115 países.

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Influenciadores católicos também participaram no processo sinodal aberto por Francisco para descobrir qual é a Igreja com que sonham os missionários digitais. Assim o traduz uma síntese elaborada a partir da iniciativa “A Igreja escuta-te”, que nasceu pela mão da RIIAL (Rede Informática da Igreja na América Latina) e promovida por até cem entidades eclesiais, incluindo a iMisión.

No documento enviado à Secretaria Geral do Sínodo, o continente virtual é reivindicado como um “canal formativo de valor e futuro” que pode servir de ponte para “chegar aos que estão longe”. Ao mesmo tempo, as redes sociais também levantam a necessidade de lançar “um ministério digital de forma orgânica, sistemática e institucional” que promova a comunhão, a participação e a missão.

 

Enviados como os catequistas

Além disso, propõe-se ainda “o desenvolvimento de uma reflexão teológica e do enquadramento jurídico do Direito Canónico”, para além do sentimento dos influenciadores serem oficialmente convocados e enviados “como se faz com os catequistas, para que sejam e se sintam parte do Corpo e da Missão da Igreja”.

“A web permite chegar a tantas vidas do Povo de Deus que demonstram sentir-se perdidas”, diz um texto que apresenta a cultura digital como “local de encontro, como meio de diálogo, como forma de educar e informar”.

 

Sondagem global

Em apenas dois meses e meio, mais de 110.000 questionários foram preenchidos com mais de 150.000 propostas sinodais. No total, a consulta foi realizada em 7 idiomas com a presença de 115 países e o apoio de 244 especialistas em redes sociais. Destes 244 influenciadores, 27% são padres; 10%, religiosos; e 63% são catequistas e leigos comprometidos.

Juntamente com eles, também foram inquiridos ​​baptizados e não crentes, com idade inferior a 40 anos. Deles, 84% dizem ter tido um encontro pessoal com Deus, 66% vão à missa, dos quais um em cada três segue algum evangelizador católico.

 

Entre a novidade e a tradição

Mas, qual é a principal reflexão nascida desta consulta? 67% dos habitantes católicos dos “espaços digitais” consultados querem mudanças como as propostas pelo Papa; 24% são neutros em relação às propostas do Papa e 9% divergem ou opõem-se abertamente, em linha com um regresso determinado à tradição pré-conciliar.

As 150.000 propostas lançadas poderiam ser agrupadas em quatro eixos temáticos, entre os quais se destaca o pedido de 37% delas que desejam “uma Igreja exemplar e corajosa nas suas estruturas, atitudes e modo de proceder”. Neste sentido, as redes sociais apelam a “padres e bispos mais próximos e mais abertos à participação”, bem como a um diálogo com a sociedade “sem preconceitos”.

 

Realidade confusa

26% dos participantes da sondagem virtual afirmam que a instituição influencia a sua missão de “orientar uma realidade confusa e uma mudança acelerada”, tomando o Papa como figura de referência.

“Repete-se constantemente o pedido de não julgar, em particular pessoas em situação de relação irregular, ou por causa da sua orientação sexual, defendendo a dignidade de cada pessoa, como fez Jesus”, refere a síntese, onde se apela à resposta a esta encruzilhada “com a capacidade de dialogar e contribuir com a verdade de Cristo”.

Nessa mesma linha, os entrevistados pedem para “falar e agir com clareza diante do que parece injustificável, como pedofilia, abuso sexual, desprezo pela mulher, corrupção etc.”.

 

Missas aborrecidas

Para 20%, é urgente “facilitar a relação pessoal e comunitária com Deus”. De facto, descrevem as missas como “aborrecidas”, afirmando que as Eucaristias podem tornar-se lugares de encontro que “iluminam e acompanham a vida”.

Cerca de 17% vêem a necessidade de “cristãos mais autênticos no seu comportamento com os outros”, sublinhando a solidariedade como característica a promover, a partir do respeito pela diversidade eclesial, “tentando não impor o seu próprio estilo”.

Ao mesmo tempo, exige-se também um maior compromisso com o cuidado do planeta por parte dos mais novos.

 

Debate sexual

Este fórum virtual, como aponta o documento, também descortina como “os debates sobre o exercício da sexualidade (separados/divorciados e recasados, pessoas com atracção pelo mesmo sexo, etc.), geram intensos conflitos entre católicos com diferentes interpretações”.

A sondagem também questionou os valores com os quais os internautas associam a Igreja. Entre os positivos, destacam-se a solidariedade, seguida da proximidade e da participação. No entanto, as menções negativas, presentes em metade dos inquiridos, falam de uma Igreja “velha, distante, egoísta e autoritária”.

 

Caminhar juntos

Os organizadores da sondagem apresentaram aos participantes treze sugestões para o futuro, a fim de tornar realidade esse “caminhar juntos” que o Papa pede. De acordo com o grau de importância, a síntese destaca três pedidos principais:

— Promover a espiritualidade: silêncio, contemplação

— Acompanhar-Assistir-Atender: casais, famílias, pessoas separadas/divorciadas, na sua vida e sexualidade; pobres, migrantes, grupos LGTB, etnias originárias, presos, etc.

— Renovar-sair-participar: actualizar a sua forma de educar a todos os níveis. Promover o voluntariado e actividades com os jovens. Promover a igualdade das mulheres na sociedade e na Igreja, participar mais no mundo digital. Pontos de encontro com jornalistas e académicos.

Artigo de José Beltrán, publicado a 19 de Setembro de 2022 em Vida Nueva Digital.