Arquidiocese de Braga -

22 novembro 2022

Boa parte da missão é preenchida de muita dor e de muito sofrimento

Fotografia Pe. Manuel Faria

O Conquistador

Pe. Manuel Faria, Equipa Missionária Salama!

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Segundo as "Estatísticas da Igreja Católica", o continente africano é aquele que expressa maior vitalidade, onde mais cresce número de católicos e agentes pastorais. Mas no entanto, vivemos num dos locais mais pobres do mundo. Exemplo concreto é a nossa província de Cabo Delgado, onde fica a paróquia de santa Cecília de Ocua, animada pastoralmente por missionários da Diocese de Braga. Vivemos em contextos muito pobres e com perseguições nestes dias, onde a Palavra de Deus floresce entre miséria, fome terrorismo, sequestros, violência. As dificuldades económicas e sociais desta província de Cabo Delgado são gritantes.

A Igreja vive dependente de ajudas missionárias, para sobreviver e continuar a levar o evangelho por “caminhos de mato e capim” até às periferias humanas e existenciais, a pessoas pobres e abandonadas por tudo e por todos,  frequentemente cheias de solidão, tristeza, feridas interiores e exteriores, que não podem mais curar sozinhas, sem fé e esperança.

Aqui não faltam luzes e sombras, situações difíceis ou contrastantes, mas sempre há sinais e milagres, como vejo na paróquia de Ocua, que nos dizem que a missão da Igreja floresce e a esperança e fé deste povo nunca vai terminar.

Exemplo é a Mamã Cândida, que não sabia que a elefantíase tem cura, e quase morria de dores e desesperada pois a vida estava mesmo no fim. Mas a equipa missionária rezou esta miséria, confortou com a atenção, angariou donativos de benfeitores, e assim conseguiu ajudar a mamã a partir para um hospital distante, onde a cura chegou e as lágrimas de dor são agora transformadas em lágrimas de alegria.

Outro exemplo é o Papá Alexandre, “já velho e abandonado” debaixo de um cajueiro à espera da morte, mas com a confiança em Deus e nos seus filhos, sempre vem na missão, onde encontra alimento material e espiritual, para viver com a esperança de um dia poder fazer uma pequena casa de capim e bambu, ou matope, onde se possa abrigar do calor infernal ou da chuva torrencial destas regiões africanas, e sempre haja alguém para o auxiliar na sua velhice.

Na Paróquia de Ocua as nossas comunidades cristãs são um milagre da fé em Jesus Cristo. Este povo mesmo perseguido, com fome, sem transporte, sem recursos, que na sua bagagem levam para os longos caminhos apenas o essencial: um pouco de mandioca seca, algum caju ou amendoim, e fazem longos quilómetros para encontrar um lugar para celebração da fé, continuam um testemunho de resiliência e esforço para manter e transmitir a fé aos mais novos, na esperança de um mundo novo.

Cada missionário aqui compreende que no meio de alegrias e vitórias, uma "boa parte da missão é preenchida de muita dor e de muito sofrimento". 

Sendo uma realidade humana, o sofrimento precisa de cuidados e apoio, até o próprio Cristo precisou de alguém que o ajudasse, que o amparasse no seu imenso sofrimento. 
Mas nem sempre os seres humanos conseguem ser amparados em sua dor.

Bem haja a todos aqueles que neste mês missionário rezaram pelas missões, nos acompanham e contribuem para o bem desta Igreja de pobres de Deus.

Artigo publicado no Jornal O Conquistador de 22 de novembro de 2022.