Arquidiocese de Braga -

23 maio 2025

Faixa de Gaza: Situação continua “muito má”, diz sacerdote. “Ninguém está a falar de reconstrução”

Fotografia AIS

Filipe D’Avillez -Fundação AIS

Durante três meses, Gaza não recebeu ajuda humanitária, o que fez com que a paróquia da Sagrada Família tivesse de racionar os recursos de que dispõe para alimentar os cristãos que lá se encontram e algumas das famílias que vivem nas proximidades.

A situação em Gaza, na Terra Santa, continua a ser “muito má”, segundo o Padre Gabriel Romanelli, responsável pela única paróquia católica do território. 

Quando deflagrou a actual guerra em Gaza, toda a população cristã refugiou-se na paróquia católica da Sagrada Família e no complexo ortodoxo vizinho. Actualmente, a paróquia acolhe cerca de 500 pessoas, homens, mulheres e crianças, incluindo um grupo de pessoas com deficiência que são assistidas pelas Missionárias da Caridade.

Em declarações à Fundação AIS, o Padre Romanelli descreve um ambiente no local. “Dentro do recinto paroquial, estamos a fazer o melhor possível, embora se ouçam muitos bombardeamentos e, por vezes, os estilhaços atinjam o nosso recinto.” 

Segundo o sacerdote, o principal desafio neste momento é o de ordenar e organizar correctamente a vida na paróquia. Isso implica manter um horário regular, como a oração silenciosa diante do Santíssimo Sacramento todas as manhãs, e a recitação do terço e a missa à tarde.

As muitas crianças da paróquia têm aulas regulares, para tentar salvar o ano lectivo, e são organizadas actividades para crianças, adolescentes e famílias, bem como grupos de estudo bíblico que se reúnem uma vez por semana. Os recursos que a paróquia recebe dos benfeitores são distribuídos por todos os residentes e também pelas famílias muçulmanas vizinhas. No entanto, Israel bloqueou o acesso de qualquer ajuda durante os últimos três meses.

“Rezem e trabalhem pela paz” 

Em 22 de Maio, Israel só permitiu a entrada de 90 camiões com ajuda humanitária em Gaza, algo que está muito abaixo das necessidades diárias, que implicariam a passagem para o território de cerca de 500 camiões. Isto obrigou a paróquia a tomar medidas mais drásticas.

“Durante três meses, não recebemos qualquer ajuda. Por isso, por agora, estamos a racionar tudo o que temos e só depois desse racionamento é que poderemos distribuir [ajuda] aos refugiados do complexo e às pessoas de fora”, explicou o padre Gabriel Romanelli

No entanto, Gabriel Romanelli disse à fundação pontifícia que recentemente conseguiu distribuir água tanto dentro como fora do complexo. 

Gaza está sob cerco aproximadamente desde que ocorreram os ataques terroristas em 7 de Outubro de 2023, levados a cabo pelo Hamas e por outros grupos jihadistas que operam a partir do território. Israel respondeu com uma operação militar que incluiu bombardeamentos e invasão terrestre e que se prolonga até hoje e que causou já dezenas de milhares de mortos.

Cerca de 52 elementos da população cristã, que antes desta guerra rondava as 1.000 pessoas, entre ortodoxos e católicos, foram também directamente vítimas destes ataques ou morreram de doenças devido à falta de cuidados médicos. 

Embora a maioria esteja preocupada apenas com a sobrevivência, o Padre Gabriel diz que também detectou já, em alguns fiéis, sinais de doença mental, incluindo depressão. “O mais grave é que ninguém está a falar sobre o fim da guerra ou sobre o direito de ficar aqui, ou de reconstruir casas, de começar de novo”, diz. “Por isso, rezamos e pedimos às pessoas que rezem e trabalhem pela paz”, conclui.