Arquidiocese de Braga -

16 maio 2018

Gerar novos cristãos é viver em forma pascal

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Formação de Adultos

Será justo questionar: como obedecer ao mandato missionário de Cristo? É o próprio Cristo que nos indica o caminho: batizar e ensinar, o que supõe dois ambientes próprios: a liturgia e a catequese.

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«Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19-20). A comunidade pós-pascal escuta este apelo do Mestre: fazer discípulos, baptizando-os e ensinando-os. A presença contínua e permanente de Jesus, na vida dos seus discípulos e das comunidades cristãs, aos quais dirige este envio missionário, é o garante da fidelidade ao projecto evangelizador e o sustentáculo da sua autenticidade. Por isso, na ação profética da Igreja, que continua este mandato inicial, a evangelização, isto é, o anúncio da Boa Nova do Reino de Deus, implica fazer cristãos, batizar e ensinar, o que corresponde a três etapas fundamentais desta missão evangelizadora: iniciar aos mistérios da fé, conceder o acesso aos sacramentos e formar cristãos adultos. O mesmo é dizer que o anúncio da Palavra de Deus – não como quem explica uma teoria, mas como quem faz uma experiência vital – deve ser o ponto de partida para o processo de iniciar alguém à vida cristã. Aliás, este processo de iniciação cristã só tem sentido na medida em que se compreende à luz do ambiente mais lato de toda a missão evangelizadora da Igreja.

Contudo, abordar o tema e a realidade da iniciação cristã implica também falar de insuficiências. Notemos: outrora a experiência de vida cristã num ambiente de cristandade permitia que o anúncio do Evangelho se realizasse no conjunto da vida, fazendo coincidir a identidade eclesial (ser filho de Deus e membro da Igreja) com a identidade social ou cívica, por haver um mesmo e único ritmo de vida (sistema social homogéneo). De facto, o ritmo da sociedade mudou, assumiu outros contornos, outros dinamismos, distanciados dos da Igreja, mas a comunidade eclesial continua a manter o mesmo estilo de evangelização (batismo, catequese, eucaristia, confirmação, matrimónio, funeral…). Este modelo parece ser portador de uma relação forçada, automática, entre catequese e liturgia. Na verdade, já não se habita um ambiente social de cristandade, a experiência cristã já não é testemunhada nos espaços outrora regulares – a família, a catequese de infância/adolescência, a liturgia (homilia), as aulas de EMRC, a formação permanente – e, para agravar, a vida cristã é experienciada, não com pouca regularidade, numa mera aparência, sobretudo pela cisão existente entre o que se acredita (ou melhor, diz acreditar) e o que se vive.

Por isso, será justo questionar: como obedecer ao mandato missionário de Cristo? É o próprio Cristo que nos indica o caminho: batizar e ensinar, o que supõe dois ambientes próprios: a liturgia e a catequese. Dado que são duas realidades já em exercício, será importante repensá-las do ponto de vista de uma nova gestação, de uma nova abertura à vida pascal que Cristo propõe. Neste contexto, a pastoral de gestação proporciona uma interessante analogia entre o processo de gestação para a vida e o crescimento na fé, o que implica o enraizamento na vida da comunidade cristã, mas também a adesão pessoal e livre a Jesus Cristo, num processo de conversão contínua, que é uma tensão salutar para não se deixar aprisionar pela configuração de cristandade, mas para se tornar cada vez mais semelhante a Ele. Afinal, aderir à pessoa de Jesus é um processo constante de tornar-se cristão, de um acontecer incessante. Imaginemos que cada uma das nossas comunidades fosse capaz de ajudar cada cristão a viver neste processo... certamente a alegria seria contagiante a ajudaria outros a viverem nesta gestação de vida, como verdadeiro sinal de esperança.

 

Pe. Rui Sousa