Arquidiocese de Braga -

18 outubro 2021

Sobrevivente de abuso sexual clerical recebe pagamento por "retraumatização"

Fotografia DR

DACS com The Tablet

Vítima apresentou outra reclamação depois da angústia adicional causada pela maneira como foi tratada pela diocese de Westminster quando fez perguntas a respeito do seu caso.

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Uma sobrevivente de abuso sexual por um padre que foi apelidado de “carente” e “manipulador” por responsáveis pela protecção da Igreja recebeu um acordo financeiro depois de procurar reparação pelo trauma causado pelo tratamento dado pela Igreja ao seu caso.

A mulher, conhecida como A711, foi violada por um padre quando tinha 15 anos e procurou uma compensação pelo que descreveu como ser “retraumatizada” depois de ter descoberto comentários críticos sobre a sua pessoa em e-mails que lhe foram revelados sobre o seu caso.

Manifestou-se pela primeira vez em 2016 e contou a sua história aos responsáveis da Igreja sobre ter sido abusada e, mais tarde, violada pelo padre. Recebeu uma compensação da Igreja pelo abuso. Mas decidiu ir em frente e fazer outra reclamação depois da angústia adicional causada pela maneira como foi tratada pela diocese de Westminster quando fez perguntas a respeito do seu caso.

Acredita-se que este último acordo seja o primeiro deste tipo e pode muito bem abrir caminho a que casos semelhantes sejam instaurados contra a Igreja por sobreviventes de abusos.

A A711 disse que revelou o caso porque queria destacar a forma como foi “tratada depois de denunciar um abuso histórico” e como a diocese lhe respondeu.

Também foi incentivada a fazê-lo, disse, porque apesar de ter sido criticado pelo Inquérito Independente sobre Abuso Sexual Infantil (IICSA) pela forma como lidou com casos de abuso, o cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster, não renunciou.

“Este caso foi uma forma de o que ele fez ser reconhecido”, disse a mulher. É sabido que o Cardeal Nichols foi citado nesta reclamação, mas nenhuma responsabilidade legal pessoal foi alegada.

A diocese de Westminster envolveu-se no caso da A711 depois de a mulher ter relatado abusos cometidos pelo seu pároco, que era membro da Ordem Servita, e o seu responsável inicial pela protecção ter adoecido. A A711 disse ao IICSA que, como o cardeal Vincent Nichols era arcebispo de Westminster, o caso decorreria sem problemas, mas isso “não poderia estar mais longe da verdade”.

O seu responsável pela protecção anterior disse-lhe que a avaliação de risco do padre servita que abusou dela lhe seria dada, mas a Diocese de Westminster recusou. A Diocese quis então levar um membro da Ordem Servita para uma reunião solicitada pela mulher, que referiu que tal facto lhe iria causar angústia.

Quando a A711 fez posteriormente uma solicitação de acesso ao seu caso, recebeu comunicações diocesanas internas. Isto incluía e-mails do Pe. Jeremy Trood, Vigário Episcopal da Diocese, que escreveu aos colegas: “Esta mulher é profundamente manipuladora”.

Os e-mails foram descritos pelo IICSA como “sem empatia e compaixão pela vítima”. Quando a A711 escreveu ao cardeal Nichols, vários e-mails ficaram sem resposta, enquanto o secretário particular do cardeal lhe respondeu uma vez, dizendo para levar as suas preocupações à Comissão Católica Nacional de Salvaguarda, um órgão que anteriormente já havia dito à vítima que não tinha jurisdição sobre dioceses individuais. A A711 disse ao IICSA que sentia estar a andar “de Herodes para Pilatos”.

De acordo com a A711, que agora está na casa dos cinquenta anos, o abuso levou a períodos de depressão e à necessidade de terapia, e os seus problemas de saúde mental regressaram depois de ter lidado com a Diocese de Westminster. A sua reclamação contra a Diocese incluiu avaliações médicas dos danos psiquiátricos que sofreu. Este último acordo “foi uma espécie de encerramento”, disse ela. “A minha esperança era que houvesse alguma responsabilidade e haverá para casos de outros sobreviventes”.

Richard Scorer, um advogado especialista em abusos da Slater & Gordon que actuou em nome da A711, disse: “Os factos aqui são gritantes. Esta foi uma situação particularmente flagrante. Este caso deixa claro que os sobreviventes não tolerarão ser depreciados e maltratados e, se necessário, tomarão medidas legais para responsabilizar a Igreja nessas circunstâncias. Gosto de pensar que este acordo irá anunciar uma nova abordagem aos sobreviventes por parte da Igreja Católica, o que certamente já deveria ter sido feito há muito tempo”.

De acordo com Scorer, os bispos que presidiram ao que ele chama de “cultura de culpar as vítimas” precisam de renunciar, incluindo o cardeal Nichols. No ano passado, no seu relatório sobre a Igreja Católica, o IICSA acusou o cardeal de se importar mais com a reputação da Igreja do que com as vítimas e sobreviventes. Na altura, o cardeal disse que se havia oferecido para renunciar quando completou 75 anos, mas o Papa pediu-lhe que permanecesse.

Um porta-voz da Diocese de Westminster disse: “A reclamação da A711 foi feita contra a Arquidiocese Católica Romana de Westminster, não contra o Cardeal Nichols. As seguradoras da Diocese chegaram a um acordo para evitar a necessidade de procedimentos legais prolongados. Embora as desculpas sem reservas pedidas anteriormente à A711 tenham sido reiteradas por qualquer crime causado não intencionalmente, foi negado que a conduta da diocese tenha sido de alguma forma negligente. A diocese está empenhada em continuar a melhorar a forma como responde e apoia as vítimas”.

Artigo de Catherine Pepinster, publicado no The Tablet a 18 de Outubro de 2021.