Arquidiocese de Braga -

11 novembro 2021

Envolvam outras igrejas no processo sinodal, diz Vaticano

Fotografia DR

DACS com The Tablet

O Vaticano está a apelar aos bispos de todo o mundo que envolvam os líderes Cristãos de outras igrejas no processo sinodal num movimento que pode transformá-lo no evento ecuménico mais significativo dos últimos tempos.

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Uma carta conjunta de dois cardeais de Roma recomenda que os líderes de comunidades Cristãs participem nas discussões sinodais dos bispos e os ajudem a redigir os relatórios oficiais. Também sugere que delegados de outras igrejas sejam enviados para participarem nos sínodos diocesanos que decorrem em todo o mundo; que se dirijam às assembleias sinodais, enviem reflexões escritas e organizem “sessões de escuta”.

O processo sinodal 2021-2023 lançado pelo Papa Francisco no mês passado é o projecto de renovação católica mais ambicioso em 60 anos. Inclui um processo de escuta e consulta de todos os 1,3 biliões de membros da Igreja.

Cada diocese foi convidada a realizar um sínodo com os bispos de cada país e região, sintetizando os resultados e enviando-os a Roma. Uma assembleia sinodal de bispos terá lugar no Vaticano em 2023. A instrução do Vaticano diz que os representantes ecuménicos devem ser envolvidos em todas as fases do processo, que envolverá todas as denominações num processo de renovação católica de uma forma que não tem precedentes modernos.

“Um dos dons que os católicos podem receber dos outros cristãos é precisamente a sua experiência e compreensão da sinodalidade”, explicam os cardeais Mario Grech e Kurt Koch na carta.

“A formação sinodal da Igreja Católica a todos os níveis tem implicações ecuménicas significativas, pois torna-a um parceiro de diálogo mais confiável”, acrescentam.

O cardeal Grech, que é secretário-geral do Sínodo dos Bispos, e o cardeal Koch, que é presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, enviaram a carta a todos os bispos com responsabilidade pelo ecumenismo e aos sínodos das Igrejas católicas orientais. A carta foi, explicaram, “escrita para dar para algumas sugestões práticas para garantir a dimensão ecuménica da jornada sinodal”.

Apesar de ser improvável que as divergências profundas entre as igrejas sejam resolvidas a curto prazo, a carta dos cardeais explica que o ecumenismo é uma “troca de dons” em que as denominações podem aprender umas com as outras. Esta abordagem é frequentemente descrita como “ecumenismo receptivo”. Argumenta que, em vez de se concentrarem na tentativa de resolver diferenças teológicas intratáveis, as igrejas que falam honestamente umas com as outras sobre os problemas podem encontrar caminhos para a renovação dentro da tradição de cada uma.

O professor Paul Murray, teólogo da Universidade de Durham, que iniciou e desenvolveu o conceito de ecumenismo receptivo, disse que a carta mostra que o processo sinodal tem “potencial tanto para enriquecer a vida eclesial católica, quanto para curar as feridas da separação”.

“À medida que nós, na Igreja Católica, reaprendemos lentamente o que significa caminhar em caminhos mais sinodais de discernimento, há muito a ser aprendido sobre como é que isso é vivido de várias maneiras noutras tradições cristãs, tanto das igrejas ortodoxas, com memórias que se estendem até ao primeiro milénio cristão, e a partir das tradições ocidentais e das práticas e eclesiologias de discernimento de toda a igreja que desenvolveram”, acrescentou.

Ao longo do seu pontificado, Francisco tem repetidamente apelado aos cristãos para encontrarem maneiras de “caminharem juntos”: colaborou de perto com o Patriarca Ecuménico Bartolomeu e em 2016 viajou para a Suécia para marcar 500 anos desde a Reforma.

Quando esteve em Roma no mês passado, o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, encontrou-se com o Cardeal Grech, que disse que “a Igreja Católica e a Comunhão Anglicana têm muito a partilhar sobre a jornada sinodal”.

As assembleias sinodais em Roma incluem habitualmente delegados ecuménicos, enquanto o recente processo sinodal na arquidiocese de Liverpool envolveu líderes de outras denominações cristãs.

 

Artigo de Christopher Lamb, publicado no The Tablet a 9 de Novembro de 2021.