Arquidiocese de Braga -
15 dezembro 2021
Bispo surpreendentemente sincero diz que a Igreja Católica é um resquício do seu antigo "eu"
DACS com La Croix International
D. Heiner Wilmer, da Alemanha, que é amplamente considerado um “bispo de Francisco”, diz que o Papa quer “virar a Igreja do avesso”.
“Proteger a instituição e os perpetradores foi sempre o factor mais importante para a Igreja. (Proteger) as vítimas, por outro lado, simplesmente não aconteceu”, disse o bispo Wilmer, de 60 anos, à frente da diocese de Hildesheim, no norte da Alemanha.
Estes comentários foram feitos a cerca de 200 representantes de grupos religiosos, sociais e políticos que se encontravam reunidos para uma recepção anual organizada pela diocese em Hannover.
O bispo encontrava-se a substituir o cardeal Reinhard Marx, que teve de cancelar a sua participação depois testar positivo à Covid-19.
Wilmer, cujo discurso se intitulou “SOS - É uma questão de salvar as nossas almas”, avisou que a Igreja Católica poderá já não desempenhar um papel dominante na sociedade.
A Igreja deve redescobrir as suas raízes Bíblicas
“A Igreja como instituição irá encolher e será muito mais modesta. Será apenas uma voz entre muitas a oferecer-se para explicar o sentido da vida na terra”, disse.
“Apesar de se tornar menor, será ecuménica. A nossa fé irá cobrir uma área menor, mas crescerá em profundidade e nas suas raízes bíblicas”, previu.
Heiner Wilmer estava a completar o seu terceiro ano como Superior Geral dos Dehonianos (Sacerdotes do Sagrado Coração ) em 2018, quando o Papa o escolheu para ser bispo de Hildesheim.
E muitos na Alemanha dizem que o antigo Superior dos Dehonianos é verdadeiramente “um bispo de Francisco”.
Concentrou-se em três questões-chave durante o seu discurso em Hannover: Quanto é que os bispos ainda têm hoje a dizer? O que é que as pessoas procuram? As igrejas ainda têm alguma utilidade hoje em dia?
Vendedores de carros usados são mais confiáveis do que os bispos
O bispo Wilmer disse que os tempos em que os bispos podiam tratar as pessoas com condescendência, “de cima” e de forma condescendente, “de se considerarem acima da lei”, acabaram.
“Hoje em dia, as pessoas confiam mais num vendedor de carros usados do que num bispo”, disse.
Ao mesmo tempo, argumentou, as pessoas estão, mais do que nunca, à procura de orientação e estabilidade. Afirmou que a pandemia de Covid e as mudanças climáticas exacerbaram essa sensação de estarem perdidas.
O bispo lamentou que, no exacto momento em que as pessoas procuravam um ponto de referência, a Igreja Católica enfrentava um monte de ruínas.
No entanto, reconheceu que ainda havia uma exigência da Igreja para actuar como mediadora e construtora de pontes quando os interesses chocavam com questões ecológicas ou sociais.
Uma nova visão da sexualidade e do sacerdócio
Quando o bispo Wilmer abriu a fase diocesana do processo sinodal a 23 de Outubro, disse aos católicos de Hildesheim que o papa queria “virar a Igreja do avesso”.
O bispo insistiu que a distribuição de poder dentro da Igreja deve mudar.
“Deve haver um fim do formato clerical usual, de cima para baixo”, sublinhou Wilmer.
“É necessária uma nova visão da sexualidade e devemos pensar novamente sobre o papel do sacerdócio”, disse. “Precisamos de uma participação justa em termos de género na Igreja”, explicou.
Artigo de Christa Pongratz-Lippitt, publicado no La Croix International a 24 de Novembro de 2021.
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